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O produtor global

Escrito por  yvette vieira ft tiago fortuna

Carlos Seixas é o produtor e director criativo do Festival de músicas do mundo (FMM), de Sines. Um evento músical que se celebra há 17 anos com imenso êxito junto do público nacional e internacional e que aposta sempre numa programação de grande qualidade, que se realiza entre os dias 23 e 30 de Julho, e que apresenta na sua programação deste ano 47 artistas de todo o globo.

O que é um festival de músicas do mundo?
Carlos Seixas: O termo músicas do mundo, se pensarmos enquanto conceito ou género é falso, porque engloba todos os géneros musicais e não apenas um. É uma atitude e o que isto quer dizer? Sobretudo é não fazer qualquer distinção entre as músicas populares ao nível mundial, de todas as geográfias e todas elas terem o mesmo tratamento e o mesmo sentido. O termo propriamente dito aparece nos anos 80, na cidade de Londres, surgiu com alguns editores independentes que tinham a necessidade de arranjar alguma maneira de promover a música que produziam e num mundo onde ainda hoje a indústria musical é dominada sobretudo pela sonoridade anglosaxónica ao nível do Norte, não do Sul da Europa, eles precisavam que houvesse uma distinção nas lojas de discos para conseguirem vender alguma coisa. O mundo mudou e de facto o que é necessário é definir a música do mundo como uma atitude e é o que considerámos que o festival de Sines é, como existem centenas pelo mundo fora.

Como surge a ideia?
CS: O festival de músicas do mundo de Sines começou em 1999 com essa ideia de que a música não era um género musical, por isso, apareceu logo na sua primeira edição com jazz, rock, música étnica, orgânica e electrónica, misturou-se sempre todos os géneros, mas há uma questão fundamental que é a qualidade. É também a diversidade que nos atrevemos a fazê-lo e fico muito feliz isso, é mostrar isso mesmo que considero músicas do mundo. O FMM de Sines depende da Câmara e quando se começa um festival desta natureza, não se pode fazer um evento deste género pensando que o sucesso é a curto-prazo, nunca. As coisas para serem bem feitas durante anos temos de ser persistentes, exigentes naquilo que mostrámos, na produção, na qualidade dos artistas e do público e é um pouco uma maratona, não são apenas 100 metros e foi o que fizemos estes anos todos.

O que mudou nestes 17 anos num festival dessa dimensão?
CS: Não mudou muito, eu continuo a fazer a programação, a direcção de produção e a Câmara municipal continua a ser a organizadora e a ter sempre o entusiasmo em fazer este festival, tem um percurso enorme e bastante longo e o que mudou? Se ao princípio havia muitos que duvidavam quer na comunidade de Sines, quer na própria edilidade, actualmente todos estão de acordo que é um dos bens imateriais mais importantes daquela região. Sines tinha uma imagem, a partir dos anos 70, muito negativa, de ter um parque industrial, petróleo e poluição e embora continue lá, neste momento essa imagem é muito mais amenizada e as pessoas que vão enfrentam o espaço e vêem-no com outros olhos. Como dizia há pouco tempo um dos bens mais importantes de Sines neste momento é o festival, porque tem um valor para a economia local muito importante e não só para a cidade, em todo o mundo a cultura tem uma importância económica enorme, as indústrias criativas é um dos maiores bens das comunidades.

E o público acompanhou essa evolução?
CS: Sim, claro. O público ao princípio era gente da região, com alguns jovens de Lisboa, neste momento, porque fizemos um estudo de público através de uma organização séria e capaz, descubriram que 12% das pessoas vêm de fora para o festival. Mais, o público que há 17 anos que era muito jovem continua a ser muito jovem, porque actualmente são os filhos desses jovens que estão lá, existe um entusiasmo muito grande quer da comunidade, quer do público e este vai-se renovando de uma maneira sensível, a maioria é entre os 25 e 30 anos de idade, muito deles sempre entusiasmados com as novidades e descobertas de novos sons. É verdade que de há 17 anos a esta parte a informação tornou-se global, toda a gente vai à internet ver um grupo das ilhas Salomão num pequeno vídeo no “youtube”, por exemplo. Mas, há uma necessidade de lutar um pouco contra os festivais que são autênticas feiras, onde existe uma massificação da música ao vivo, quando vão a esses grandes eventos musicais que existem em todo o mundo, num palco esta um grupo que gostam de ver e depois passado meia hora há outro num outro palco que também apreciam e uma das coisas que desde o início sempre fui contra é que nunca se passam concertos ao mesmo tempo que outros, porquê? Porque as pessoas não vão para lá para ver rapidamente um grupo tocar, depois vão ver outra banda e não conhecem a obra e o que o artista tem a dar, tem de ser tudo mostrado, não é um único hit.

Em termos da programação procura sempre grupos diferentes e pouco conhecidos é essa a marca do FMM de Sines?
CS: Sim, repare o festival tem êxito desde sempre, nunca pensámos neste evento tipo piloto automático. A maioria dos artistas que participam no FMM de Sines são do estrangeiro, são da América, África, Ásia, Oceânia, porque uma das coisas que era importante mostrar aos portugueses e tenho esta ideia que é mostrar o desconhecido, quanto mais conhecemos os outros mundos, mais nos conhecemos a nós. Eu não tenho grande preocupação de mostrar música portuguesa, porque ela esta lá e temos sempre oportunidade de a ver. Eu constantemente todo o ano procuro novos artistas, percorro vários países, não por uma questão lúdica, é trabalho, árduo e às vezes sinto-me cansado. Há alturas em que vou para o Alentejo e fico incomunicável durante uns dias, porque estou farto e preciso de silêncio.

O que vai à procura?
CS: À procura de boa música e coisas novas. Vir a um festival como o “Raízes do Atlântico” também é importante, porque é preciso ver como este evento esta e ver algumas coisas novas, como o “Petit Noir” que nunca vi ao vivo.

O festival começou num espaço e actualmente expandiu-se, quantas pessoas em média passam pelos palcos?
CS: Começou no castelo e este espaço tem um limite de 7 mil pessoas, foi crescendo e chegou a um ponto que o castelo não alberga mais, só se derrubarem as muralhas e expandiu-se até a avenida. Outra das coisas que é importante para nós é que o público que não tem acesso ao castelo, porque nos últimos dois e três dias esta esgotado, que ninguém fique sem ver os concertos, porque fora das muralhas temos desde início um sistema de som e écrans para as pessoas que não arranjaram bilhete, ou que não podem comprar o verem em directo. Normalmente, estimamos que 12 a 15 mil pessoas por dia que vão até o festival. Ao princípio nos primeiros 3 anos era gratuíto, depois começou por dois euros, passou para 5, chegámos aos 10 euros e actualmente é 15 euros, mas estámos a falar de uma programação que este ano, por exemplo, tem 47 artistas de todo o mundo, todos os continentes e e esse montante não paga nem metade, só o castelo.

Para além da música existe outro tipo de iniciativas?
CS: Temos iniciativas paralelas, desde o princípio privilegíamos o público juvenil, sobretudo as crianças, por exemplo, todos os dias às 11h da manhã, quando os adultos estão a dormir, porque o festival termina às 5 ou 6 seis da manhã, existe sempre ateliers com os músicos que participam do festival, conversas onde mostram os instrumentos, portanto, desde à infância até os adultos tem uma oportunidade de ver isso tudo, depois temos exposições, filmes, conversas com escritores, mas isso tudo faz parte de um âmbito que acho importante que é o serviço educativo.

http://www.fmmsines.pt/pages/922?timeline_day=20160722

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