
A CETbase é a maior base de dados no país sobre estudos para teatro. Trata-se de uma rede online aberta a investigadores, artistas e ao público geral onde se pode consultar mais de um milhão e meio de informações relacionadas com as artes do palco. É um repositório de conhecimentos coordenado pela professora Maria Helena Serôdio, da faculdade de letras de Lisboa e uma pequena equipa de investigadores que todos os dias trabalham para o bem comum.
Em que âmbito surge a CETbase?
Maria Helena Serôdio: Ela aparece ligada a duas realidades fundamentalmente, a existência deste centro investigação para estudos de teatros nesta faculdade, por outro lado, um curso de pós-graduação de teatro. Os alunos e os professores aperceberam-se de que havia falta de alguns instrumentos de trabalho e a necessidade de avançar não só para escrita, mas também para a criação de uma plataforma online que permitisse um maior rigor na recolha dos espectáculos e a possibilidade de estarmos sempre a produzir acções, acrescentos, relações entre os vários dados, etc.
Como é que fazem a selecção dos dados, na recolha que fazem desses elementos como distinguem o que é superfulo do essencial e importante preservar?
MHS: Nada é superfulo. A questão fundamental que talvez interesse perceber é que registos como estes são enormes: espectáculos registados temos mais de 23 mil, pessoas caracterizadas pelo seu percurso profissional temos mais de 44 mil, instituições entre companhias de teatro, ou que financiaram o teatro são 11 mil, textos levados a cena quase 15 mil, temos a caracterização onde foram apresentados esses espectáculos que são mais de 3 mil eventos, festivais ou comemorações que impliquem o teatro há mais de 1500 registos e depois desde um princípio tivemos um cuidado muito grande que foi não impor a realidade do teatro em Portugal aquilo que é uma única formatação. Explicando, se é verdade que a palavra encenador para algumas companhias é importante sabemos que na história do teatro essa palavra não era usada, era o director, ou actor principal que tinham essa função, nós fazemos o registo exacto do termo usado pela companhia o que não significa que não tenhamos uma rede de equivalências que permite quando nos queremos saber quem é a figura do encenador, também na ficha do espectáculo aparecem como directores. Há redes de conceitos que estão muito bem fundamentados e nos permitem entender em conjunto, mas ao mesmo tempo em cada um, ver as diferenças em termos da nomenclatura. Outro aspecto que também é importante referir é que independentemente de darmos um cuidado maior e fazermos um registo mais completo das companhias profissionais, nós temos também registos de espectáculos de escolas, de universidades, de teatro amador, temos muito mais seguramente do que aquilo que são as chamadas companhias principais. Do ponto de vista cronológico é evidente que não vamos perder a informação do que se esta a fazer actualmente, mas também é preciso adequar. Há já registos dos espectáculos do século XIX e alguns do XVIII. Isto porque o centro de estudos de teatro desenvolve vários programas, tivemos durante dois anos um projecto sobre o século XVIII apoiado pelo Fundação de Ciência e Tecnologia onde se procedeu a recolha quer de documentos originais, peças, anotações da censura, quer das instituições que permitiam levar os textos aos palco, algumas dessas realidade nesses documentos que são passados para a CETbase. Esta é uma plataforma o mais inclusiva possível, depende é das investigações que fazemos.
Em termos dos registos propriamente ditos, vêm em vários formatos ? Em fotografia, vídeo, em ficheiros pdf é isso?
MHS: Temos é uma rede. Há um projecto de investigação que terminou agora, que reúne um conjunto muito apreciável de fotografias de cena, de publicações de livros, que se chama Opsis, também financiado pela FCT e em alguns casos podemos encaminhar para os dados obtidos em fotografia. É mais fácil trabalhar em rede, embora se possa ter acesso a outras bases de dados que não apenas da própria CETbase, por exemplo, quem estuda o século XVIII tem acesso também a estes dados na página da História do Teatro em Portugal(htp) online onde também terá acesso a documentação digitalizada e promovida digamos de forma mais contemporânea. O que fazemos é distribuir a rede, anotar todas as transversalidades que permitem que uma pessoa que estiver de fora possa consultar através da internet.
Quem são as pessoas que consultam esta base de dados?
MHS: Tanto quanto nos é dado a perceber, sobretudo na CETbase, são os próprios actores, por exemplo, quando querem saber se determinada peça de teatro foi representada em Portugal, quantas vezes determinado autor foi representado no nosso país, eles são os que provavelmente tem um interesse mais imediato dessa informação. Depois relativamente a Opsis e o HTP online são muitos professores, investigadores que estão a pagar esse acesso e sentem a necessidade de recolher estes dados online. Tudo isto, o facto de estar na internet e de ser de acesso aberto não permite que tenhamos propriamente um rasteio, mas sabemos pelas consequências, aparecem teses de mestrado, de doutoramento, mesmo não sendo da área de teatro, que requerem a consulta dessas áreas.
Pelo que me apercebi é um trabalho dantesco, então quantas pessoas é que trabalham nesta selecção dos dados?
MHS: Assim é, efectivamente temos apenas uma investigadora do centro e uma bolseira. Depois temos pessoas mais ou menos disponíveis para ajudar-nos pontualmente. Mas, é preciso salientar que o curso de mestrado e doutoramento serve e é servido pelo centro de estudos de teatro, ou seja, aproveitámos os alunos que estão a preparar uma tese sobre um determinado artista e sabemos e eles também sabem que toda a informação que obtiverem sobre esse actor, ou encenador, servirá para introduzir esses dados. Há um seminário que é obrigatório para todos os alunos de mestrado que é documentação, onde são pedidas investigações sobre teatro e espectáculos numa determinada década, por exemplo, os anos 30, os alunos tem de introduzir dados que não estejam na CETbase, para o efeito investigam na torre do tombo, nas bibliotecas, em algum teatro tentam aceder aos programas dessas companhias e há um trabalho muito produtivo curricular e aquilo é também um trabalho de investigação.
http://ww3.fl.ul.pt/CETbase/