Mas, perguntas?
DO: Como disse há pouco, eu procuro que seja o convidado a marcar o tom da conversa. O protagonista da entrevista é sempre o convidado e tudo tem de ser marcado por ele. Eu levo uma série de questões, mas dever ser ele a conduzir a conversa, porque o tema é delicado, como alguém que tinha acabado de perder a irmã com cancro do pâncreas, as coisas a perguntar são muito delicadas. Eu levei o conhecimento comigo naturalmente, procurei contudo, que fosse ele a marcar o tom da conversa.
Houve algum convidado que te intimidasse entrevistar, porque era alguém que admiravas e desse certa forma isso te constrangia, te fazia sentir nervoso ou condicionado?
DO: Não particularmente. Há entrevista que são mais delicadas, o Miguel de Sousa Tavares por ser alguém que domina tanto a técnica da entrevista, é tão raro que as dê para um programa de televisão. Eu talvez estava mais apreensivo, talvez seja a palavra, quanto a forma como a entrevista teria de decorrer. Eu tinha de estar muito bem preparado para poder por outros caminhos ir atrás do convidado sabendo que ele domina a técnica e sabe aquilo que pretende dizer, por isso, nunca me senti nervoso ou condicionado.
Num outro prisma, houve alguma entrevista onde te sentistes mais á vontade e que foi uma experiência enriquecedora?
DO: Não é fácil, porque em todas há um objectivo que é do fazer uma boa entrevista de 40 minutos, não posso ter a confiança que tenho com aquele convidado mine o conceito central de tudo, que é fazer uma boa entrevista e um bom programa de televisão. Eu procuro estar preparado para uma pessoa que conheço e que não conheço, mas por exemplo, entrevistar o Fernando Mendes é divertidíssimo, porque é alguém que conheço, que tem uma forma divertida de encarar as coisas, mas não senti que estava mais à vontade.
Quando escolhes as personalidades para as tuas entrevistas o que motiva a tua escolha? É o seu percurso profissional, ou também pessoal? O que te fascina nesses convidados?
DO: O critério base é mérito, pelo percurso profissional e pessoal. Não tem a ver com a idade necessariamente. Tem mais a ver com o talento que reconhecêssemos naquela pessoa, uma conjunto de características e valores que legitima a entrevista. O segundo tem a ver com a temporalidade, o momento que estamos a viver, ou seja, um artista que esteja a lançar um álbum está mais propenso a ser entrevistado nessa altura do que seis meses antes, quando o convidámos. Há entrevistas que ocorrem num determinado espaço de tempo, porque é essa a vontade de ambas as partes. Entrevistar o Cristiano Ronaldo é importante em qualquer altura, mas na véspera da selecção portuguesa partir para o Europeu tem uma relevância mediática muito maior.
Vamos falar um pouco sobre a publicação, escolhestes transformar as entrevistas em livro em vez de DVD para evitar a acusação de serem “lamechas”?
DO: Acho que são questões diferentes. Vamos a elas. O mercado de DVDs é o que mais baixou em Portugal, num todo. As pessoas têm todas as entrevistas que foram feitas no “alta definição” no site da SIC, no you tube, ou nas gravações das boxes, elas já viram essas entrevistas. Nesse sentido, a palavra escrita tem um peso diferente, as ideias são maturadas de uma forma diferente quando estão a ser lidas. As pessoas podem estar no silêncio do seu quarto a ler essas entrevistas, a reler e voltar a elas num instante. A forma como nós no nosso imaginário olhámos para essas frases e da forma como nós tocam é diferente do que estar a ver um programa de televisão em que temos alguém ao lado, ou precisámos de ir até a cozinha e acontece uma série de coisas que não apreendemos. Há uma intimidade maior entre um livro e uma pessoa, do que a televisão e um espectador, sempre. Em relação ao caracter “lamechas” eu recuso-o totalmente. O “alta definição” teve 160 programas, é facilmente comprovável que em 80 % das entrevistas as pessoas não choraram. Basta ir ver. Acontece é que os programas em que as pessoas se emocionam são tão marcantes, impactantes e raros para o público que acabam por ser esses a prevalecer no imaginário das pessoas. O que eu quero sempre é uma boa conversa e um bom programa de televisão. Eu se convido o Nuno Markl, ou o Fernando Alvim não é com o propósito que chorem, o objectivo é conseguir uma boa conversa. Acontece que nós nos definimos mais todos pela forma como descodificámos, apreendemos e falámos sobre os momentos tão fracturantes das nossas vidas do que naqueles em tudo correu bem. Nós vivemos sempre na superação. As pessoas ao invocar esses momentos, podem ter uma emoção mais desbragada, mas eu diria mais, algumas das entrevistas do “alta definição” as pessoas não choraram, António Feio, Artur Agostinho, Nicolau Breyner, Manuela Moura Guedes, etc. Aliás, já aconteceram momentos divertidíssimos no programa. Convivo bem com isso.
É apenas uma faceta do programa?
DO: Não, é uma visão que algumas pessoas tem sobre o programa e não que seja de facto a realidade.
Vamos falar um pouco do teu percurso profissional, desde os 13 anos que tinhas um arquivo, já sabias que querias ser jornalista?
DO: Não, era um desejo de comunicar e foi sobretudo a forma mais simples que eu encontrei de isso acontecer. Não perspectivava nada quando pensei em fazer o jornal. Apenas era um devaneio de um miúdo de 13 anos que queria fazer acontecer coisas.
Em pequeno querias ser escritor?
DO: Não, jogador de futebol. Como acho que grande parte das crianças querem ser os treze anos, mas depois esse gosto pela concretização de projectos começou a aguçar-se e eu decidi seguir esta área.
O que te dá mais prazer em termos profissionais ser produtor, ou entrevistador?
DO: Ambas as coisas, não consigo distinguir as duas áreas. Sempre fiz em permanência ambas. Estou sempre a criar projectos, colocar ideias em prática, motivar equipas, nesse sentido não são dissociáveis. Eu jamais conseguiria fazer só entrevistas no “alta definição”, eu preciso de ter controlo sobre o produto final, é fundamental como o programa chega ao público e eu gosto de fazer as duas coisas.
Como jornalista, como vês o jornalismo com o desaparecimento das redações, do diminuir do espaço para informação, do tempo, como o encaras como entrevistador?
DO: Eu não sou jornalista, acho que vivemos numa época que há os jornalistas-cidadão, ou seja, hoje em dia qualquer pessoa com um telemóvel consegue captar imagens de um desastre, de um incendio e esta a comunicar automaticamente. Isso é uma concorrência feroz e irreversível el relação como os jornalistas comunicavam há dez anos. No mercado anglo-saxónico essa vertente é muito activa do ponto de vista da participação. Acho que prevalecerão os mesmos valores, de uma extrema importância é a forma como o jornalista pode filtrar a informação, ou seja, há demasiada a ser processada, o profissional da comunicação tem esse papel e isso requer experiência, com redações que não sejam muito jovens, esse papel de saber o que é essencial comunicar e o que é importante para o cidadão nesse momento. Nós muitas vezes temos uma visão global das coisas, mas para todos nós é muitas vezes mais importante o buraco da nossa rua do que o autocarro que capotou na república do Butão. Essa destrinça entre o que é acessório e essencial tem de estar presente nos noticiários e deve ser feita por jornalistas. O seu papel vai continuar a ser relevante até para a democracia e importa, julgo eu, não desvirtuar o conceito de jornalismo e sobretudo não afastar profissionais experientes, uma redação com memória é mais descortinadora do papel politico e económico do que uma redação nova e mais maleável. Alguém que recebeu já centenas de agentes políticos sabe lidar melhor de uma forma concreta com eles, sabe descodificar a intenção dessas chamadas, do que alguém mais jovem que pode ser lubridiado.
A televisão nesse aspecto sofre a pressão de não se poder aprofundar os temas, há um limite no tempo.
DO: Acho que há espaço para todos os temas, há a grande reportagem e jornalismo de investigação. A televisão sofre mais a concorrência paralela da internet, do facebook, do que por exemplo dos jornais. Acho que tem de haver uma readaptação de critérios de cada meio, um jornal quando sai de manhã está desactualizado, porque toda essa informação está nos sites, já saiu na noite anterior, a menos que seja um exclusivo do próprio jornal, isto é, já não tem noticias, tem factos do dia anterior, que não são novidades para o leitor.