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O senhor lusoglobal

Escrito por 

Salimo Abdula é o actual presidente da confederação empresarial dos países da Comunidade de Países da Língua Portuguesa (CPLP). É um empresário moçambicano de renome que conta com 26 anos de experiência em inúmeras áreas e sectores de actividade e grande defensor da ideia de uma comunidade global lusofóna com livre circulação de pessoa, bens e capitais.

Defende nos seus discursos uma ideia revolucionária de criar uma espécie de espaço Schengen entre os paises que integram a comunidade CPLP. Mas com que base?
Salimo Abdula: A economia é vai sustentar as vontades disponíveis. É nesse sentido, que, nós, os empresários, já formalizámos isso na cimeira de Estados em Díli, na reunião de conselho de ministros da CPLP. A confederação empresarial apresentou o relatório, fizemos até um períplo pelos várias nações, falando com os Presidentes da República e os chefes políticos de cada país para harmonizarmos aquilo que é o levantamento do projecto da confederação na parte económica e empresarial.

É uma proposta extensível apenas para os empresários?
SA: Não, defendemos da abertura total, a livre circulação de pessoas e bens, não definimos se é empresários, ou se é um simples cidadão. Fizemos esta proposta, porque entendemos que vai dinamizar a economia de escala. Quem de facto vai beneficiar com isto, são as micro, pequenas e médias empresas que vão surgir das novas gerações. Eu defendo esta ideia e dou como exemplo, os países africanos de língua oficial portuguesa, ou as nações mais emergentes, como é caso meu país, Moçambique, em que quem faz a pequena economia informal são as mulheres, a grande maioria, viaja internamente com muitas dificuldades em termos de infra-estructuras, mas também se deslocam para outros países vizinhos para a compra-venda de forma a sustentar a economia familiar. Elas não conseguem ter acesso à Portugal, ou outros países, como o Brasil, porque tem barreiras administrativas, tem de requisitar vistos de entrada que levam semanas e às vezes são recusadas. Nas redes sociais um jovem recentemente dizia, sobre um dos discursos da CPLP, que não se sentia parte desta comunidade, mas sente-se integrado na Comunidade para o Desenvolvimento da África Austral, quando quer ir para o Zimbabwe, ou África do Sul vai e para tal basta pegar no carro, ou apanhar um autocarro, mas se pretende ir até o Brasil, ou à Portugal não sabe se lhe vão dar o visto ou não. Este é o sentimento da população lusófona e o que nos queremos chamar à atenção da parte política é que é necessário eliminar esses tabus, somos uma comunidade que estivemos mais de cinco séculos juntos e não podem ser as barreiras burocráticas e políticas que nos tendem a dividir.

Qual tem sido a receptividade dos políticos sobre esta ideia da livre circulação de pessoas e bens?
SA: As repostas dos chefes de Estado são políticas, concordam, mas ainda não vi acção.

Tem consciência que vai demorar?
SA: Tenho essa consciência, mas eu acredito que a pressão é o combustível para as coisas acontecerem. Não é só a minha voz, tem de ser também a convicção dos outros líderes empresariais, da imprensa a fazer coberta, porque quando os políticos sentirem a pressão da comunidade e dos medias vão fazer de tudo para facilitar esta ideia.

 

E tem a força suficiente dos agentes económicos?
SA: Sim, total. A parte económica e empresarial de todos os países da CPLP estão de pleno acordo, no relatório que apresentámos em Díli já é uma das prioridades que a confederação coloca. Até vamos mais longe não é só livre circulação de pessoas e bens, mas também de capitais. Não faz sentido hoje as economias emergentes, Angola, Moçambique, Cabo-Verde e outras que estão a consolidar as suas economias e certamente pela própria insegurança dos capitais termos que andar à procura de mercados em Londres, ou Hong Kong, fora da lusofonia, para guardarem, ou para investirem o seu dinheiro.

Agora com esta crise que a Europa esta a atravessar com os emigrantes ilegais e os refugiados, num cenário em que alguns países querem fechar definitivamente as suas fronteiras, barrarem as pessoas, acredita que a sua ideia vai continuar a ter consistência?
SA: Bom, a nossa visão é ao nível da comunidade lusófona. Aí estámos a falar de outras comunidades anglofónas e francofónas, sendo que nesse tipo de comunidade não faz sentido manter barreiras dentro dos países e então integrar-los, ser uma comunidade com barreiras, se tiver de pedir por favor para circular dentro da sua casa, para passar da sala para a cozinha, então é melhor abandoná-la, não?

Mas, a questão é da livre circulação dentro dos países europeus.
AS: Não. Estamos a falar da comunidade lusófona e só somos fortes se fizermos isso. Repare que a crise económica quando chegou à Portugal, que é um território pequeno, sofreu fortemente e teve de fazer grandes sacrifícios, mas tem know-how acumulado, tem tecnologia que podia muito mais facilmente ser aproveitada nos países da lusofonia que tem recursos naturais e humanos e que não possuem tecnologia e conhecimento. Este casamento das pequenas e médias empresas portuguesas ao juntar-se à outros países africanos transformando os seus recursos em valor acrescentado, não em termos de exportação de matéria-prima, mas sim, dar emprego a esta gente que esta neste países jovens vai evitar essa onda de emigração abusiva, porque toda esta situação surge pelo desespero das pessoas que não tem acesso ao emprego e um standar de vida média, as pessoas emigram à procura de soluções. África neste caso, tem muitos recursos naturais e uma população jovem que precisa de conhecimento para transformar as suas matérias-primas em produto final e criar uma cadeia de valores. É uma nova forma de olhar. Se, nós, ao nível da CPLP não encararmos isto com esta visão de intercâmbio estámos a perder um capital enorme que é a língua, que ronda os 17% de custos nas empresas. O que significa que hoje em dia nas grandes empresas os gestores de topo falam duas a três línguas, mas desde o segundo nível para baixo a língua é um factor muito importante e estámos a deitar fora todo este capital que temos na nossas mãos, por questões meramente de tabus. Hoje em dia vemos uma grande migração de empresas portuguesas para estes países, Angola e Moçambique, e nós aqui numa luta de resistência, porquê? Por recíprocidade. Se abrirmos de forma natural, vai-se filtrar tudo naturalmente, quem quer investir em Portugal fá-lo, quem quer fazer o inverso também e o que se pretende é criar uma comunidade forte, que possa vir a liderar a economia global. Daqui a duas décadas vamos representar 25% a 27% do petroleo e do gás do mundo, a porção de terra e água que dispomos nas nossas nações e as condições para o turismo, só falando desses três factores, podemos ser fortes se tivermos juntos, ou fracos se cada um agir por si.

Outro factor relevante do seu discurso foi ter focado a agricultura...
SA: E a energia.

Abordando a agricultura, o Brasil e à América do Sul em geral, controlam muito do mercado mundial da alimentação.
SA: Repare que Angola concentrou a sua economia num item precioso que era o petróleo que representa 92% da quota de mercado, 6% de diamantes e 2% do resto. Hoje com a queda dos preços do barril de crude eles estão em apuros. Moçambique tem um cenário diferente, porque foi crescendo a um ritmo de 7 % sem pretóleo e sem gás, usando esta capacidade da terra e da água existente que pode gerar muito emprego que é o que os PALOPS precisam e Portugal pode contribuir muito para isso, pode ser uma alavanca para estabilizar as pequenas e médias empresas portuguesas e não só, pode ajudar ao crescimento social desses países, porque é fácil um empresário angolano sentar-se à mesa com o seu homólogo português e vice-versa, do que com um empresário chinês. São factores que tem de ser aproveitados. Os empresários tem que ter esta ambição e visão para o futuro.

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