E tem a força suficiente dos agentes económicos?
SA: Sim, total. A parte económica e empresarial de todos os países da CPLP estão de pleno acordo, no relatório que apresentámos em Díli já é uma das prioridades que a confederação coloca. Até vamos mais longe não é só livre circulação de pessoas e bens, mas também de capitais. Não faz sentido hoje as economias emergentes, Angola, Moçambique, Cabo-Verde e outras que estão a consolidar as suas economias e certamente pela própria insegurança dos capitais termos que andar à procura de mercados em Londres, ou Hong Kong, fora da lusofonia, para guardarem, ou para investirem o seu dinheiro.
Agora com esta crise que a Europa esta a atravessar com os emigrantes ilegais e os refugiados, num cenário em que alguns países querem fechar definitivamente as suas fronteiras, barrarem as pessoas, acredita que a sua ideia vai continuar a ter consistência?
SA: Bom, a nossa visão é ao nível da comunidade lusófona. Aí estámos a falar de outras comunidades anglofónas e francofónas, sendo que nesse tipo de comunidade não faz sentido manter barreiras dentro dos países e então integrar-los, ser uma comunidade com barreiras, se tiver de pedir por favor para circular dentro da sua casa, para passar da sala para a cozinha, então é melhor abandoná-la, não?
Mas, a questão é da livre circulação dentro dos países europeus.
AS: Não. Estamos a falar da comunidade lusófona e só somos fortes se fizermos isso. Repare que a crise económica quando chegou à Portugal, que é um território pequeno, sofreu fortemente e teve de fazer grandes sacrifícios, mas tem know-how acumulado, tem tecnologia que podia muito mais facilmente ser aproveitada nos países da lusofonia que tem recursos naturais e humanos e que não possuem tecnologia e conhecimento. Este casamento das pequenas e médias empresas portuguesas ao juntar-se à outros países africanos transformando os seus recursos em valor acrescentado, não em termos de exportação de matéria-prima, mas sim, dar emprego a esta gente que esta neste países jovens vai evitar essa onda de emigração abusiva, porque toda esta situação surge pelo desespero das pessoas que não tem acesso ao emprego e um standar de vida média, as pessoas emigram à procura de soluções. África neste caso, tem muitos recursos naturais e uma população jovem que precisa de conhecimento para transformar as suas matérias-primas em produto final e criar uma cadeia de valores. É uma nova forma de olhar. Se, nós, ao nível da CPLP não encararmos isto com esta visão de intercâmbio estámos a perder um capital enorme que é a língua, que ronda os 17% de custos nas empresas. O que significa que hoje em dia nas grandes empresas os gestores de topo falam duas a três línguas, mas desde o segundo nível para baixo a língua é um factor muito importante e estámos a deitar fora todo este capital que temos na nossas mãos, por questões meramente de tabus. Hoje em dia vemos uma grande migração de empresas portuguesas para estes países, Angola e Moçambique, e nós aqui numa luta de resistência, porquê? Por recíprocidade. Se abrirmos de forma natural, vai-se filtrar tudo naturalmente, quem quer investir em Portugal fá-lo, quem quer fazer o inverso também e o que se pretende é criar uma comunidade forte, que possa vir a liderar a economia global. Daqui a duas décadas vamos representar 25% a 27% do petroleo e do gás do mundo, a porção de terra e água que dispomos nas nossas nações e as condições para o turismo, só falando desses três factores, podemos ser fortes se tivermos juntos, ou fracos se cada um agir por si.
Outro factor relevante do seu discurso foi ter focado a agricultura...
SA: E a energia.
Abordando a agricultura, o Brasil e à América do Sul em geral, controlam muito do mercado mundial da alimentação.
SA: Repare que Angola concentrou a sua economia num item precioso que era o petróleo que representa 92% da quota de mercado, 6% de diamantes e 2% do resto. Hoje com a queda dos preços do barril de crude eles estão em apuros. Moçambique tem um cenário diferente, porque foi crescendo a um ritmo de 7 % sem pretóleo e sem gás, usando esta capacidade da terra e da água existente que pode gerar muito emprego que é o que os PALOPS precisam e Portugal pode contribuir muito para isso, pode ser uma alavanca para estabilizar as pequenas e médias empresas portuguesas e não só, pode ajudar ao crescimento social desses países, porque é fácil um empresário angolano sentar-se à mesa com o seu homólogo português e vice-versa, do que com um empresário chinês. São factores que tem de ser aproveitados. Os empresários tem que ter esta ambição e visão para o futuro.