Como é que uma banda pode sobressair numa ilha?
MP: Não consegue. Não fazemos. Temos vários grupos na ilha, mas nenhum saí daqui, a não ser por si só, como músico, porque como banda não saem. Temos um limite psicológico e isso se reflecte nas pessoas, tudo o que é local não está à altura do que se faz fora daqui. E como se pensa dessa maneira, não há evolução, não há hipótese. Nenhum de nós tem capital para comprar bons instrumentos e um sítio para ensaiar. Todos trabalhamos durante o dia e ensaiamos de noite. Há pessoas que saem do trabalho e vão descansar, nós não. Obviamente que não são todos os dias, mas temos uma vida muito complicada, para compor o tipo de música que fazemos e ao nível de ganhos e projecção é zero. Ou muito pouco.
Procuram então projecção através da internet?
MP: Não, o que colocamos na internet são as datas dos concertos. Não temos vídeos, só temos áudio.
Quer dizer que esta é a primeira vez que vão ter uma projecção ao nível nacional com este festival?
MP: Sim, sim. Num palco grande, sim. É o maior de todos, mesmo em termos de organização, vamos ver que o tipo de projecção que nos dará. Não há garantias de nada.
Então o que significou ganhar?
MP: Tivemos mais pessoas a assistir aos concertos e foi o melhor até agora.
Então como vêem o panorama musical, é muito difícil entrar?
MP: Sim é muito difícil entrar. As pessoas só se conseguem manter numa banda com muita paixão.
SB: No inicio é muito difícil haver reconhecimento, pelo menos cá. Só com muita persistência e paixão, porque tem que haver nas artes, porque senão não existem projectos e ponto final.
MP: Somos teimosos. Estamos aqui, porque queremos fazer a nossa música, quer agrade ou não.
O sonho é gravar um CD?
MP: Não, o que queríamos mesmo é tocar fora da ilha. Em Portugal e no estrangeiro para ver se as pessoas gostam da nossa música. A projecção é muito boa, as pessoas dizem que gostam e os que não, nada dizem. É bom. Tem corrido bem até agora, gostaria de ver o que vem a seguir, não queremos parar por aqui. O CD é secundário.
SB: É difícil avaliar o trabalho que fazemos. Temos o feedback do público cá, que é para já muito bom, mas gostávamos de saber o que se passa lá fora e que pensam de nós.
MP: É isto que nos mantém com vontade e persistência, é tocar ao vivo. É ver as reacções das pessoas, experimentar o palco e as luzes, do fumo da relva.
SB: Os atrasos (risos).
MP: É disto que gostamos. Passamos horas no local de ensaio, abdicando das nossas famílias para estar a ensaiar, numa sala pequena com 40 graus, é uma prova de resistência. Nem falo sequer da questão monetária, essa raramente existe. Tocamos à borla. Somo mesmos teimosos ou apaixonados pela música ou somos a junção destas duas facetas.