Os H2Watts são um duo que nós propõe em cada encenação um quadro plástico, onde manipulam com a água, luz e som de forma a criar um organismo vivo. É um espectáculo que apela apenas aos sentidos e não a reflexão.
Que tipo de espectáculo o H2Watts apresenta? Não se trata de um espectáculo convencional pelo que me apercebi.
César Estrela: Este é um trabalho que surge de ideias que vagueiam, aliás como todos os trabalhos, acho eu. Peço desculpa por ter dificuldades em explicar, há várias bases que sustentam o trabalho e várias ideias, nós o que fazemos? Manipulamos luz e água e é esta iniciativa para trabalhar com estes elementos. O que pretendemos é que em vez de trabalhar formas, nós trabalhamos matérias. Por exemplo, numa marioneta são formas que se animam, nós o que fazemos é animar matérias. E aí entra o trabalho da água e da luz. Nós não somos actores.
E tal como o mundo da marioneta que é feito de mecanismos e coisas físicas, nós trabalhamos mais esse universo, o físico, nós somos os manipuladores e é toda essa dinâmica de coisas físicas que criam um espectáculo. É puro prazer sensorial e não há nenhuma mensagem que desejamos transmitir. Desta vez é água e luz, mas no futuro podem ser outras matérias como terras e ver o comportamentos delas e como elas esteticamente podem produzir, qual é o seu potencial.
Há uma interacção com o público, ou apenas querem causar uma reacção?
Sandra Pimenta: É só uma reacção estética, não esperamos que o público interaja, não é esse o objectivo. O nosso objectivo como manipuladores é tirar partido dessa matéria, água, luz e som, e provocar um prazer estético e não que este manipule, ou interaja com os elementos.
CE: Não é que essa ideia já não tenha surgido, mas neste momento não. Como primeira fase é nós a explorar e sim posteriormente de oferecer.
SP: Mas, para já, o espectáculo não tem esse objectivo.
Já usaram este espectáculo em outros ambientes?
SP: Apresentamos apenas uma vez no Festival de Marionetas do Porto, numa nova secção, o WIP, Work in progress.
Qual foi o feedback do público, porque se trata de algo muito diferente?
SP: Foi muito positivo, foi muito intimista, tinha apenas 40 pessoas, mas foi gratificante.
CE: Houve depois uma conversa, fazia parte da apresentação de cerca de 20 minutos, entre o público e os criadores e nós temíamos a reacção do público. E afinal surgiu uma boa conversa, porque havia coisas em acção que levantaram dúvidas, a chaleira, por exemplo.
SP: Nós deixamos esse objecto como apontamento para o próximo espectáculo que seria a manipulação do vapor, ainda por explorar, e as pessoas perguntaram, o que estava a chaleira aí a fazer. Ainda é um trabalho em progresso...
Vocês são dois, como surgiu esta parceria?
SP: Nós surgimos no Imaginarius com outro espectáculo, depois decidimos trabalhar num outro sentido e pegando na matéria que é água e agora anexamos luz. Nessa apresentação anterior limitavamo-nos a produzir um arco-íris.
CE: É claro que estávamos muito dependentes das condições atmosféricas, mas esse espectáculo levou-nos a reflectir, que não era aquilo que queríamos fazer, não teve os resultados esperados.
SP: Decidimos seguir num caminho mais controlado.
Vocês querem que o público reflicta?
H2W: Não.
CE: O reflectir pode surgir de uma forma espontânea, de como quando alguém vê um pôr-do-sol pode pensar, isso é o exemplo de uma sensação. Agora se a reflexão vai acontecer ou não, não o procuramos. Isso não é nosso caminho, isso já é um percurso pessoal. Não queremos induzir nenhuma ideia, ou fazer questionar.
Depois desta apresentação, qual o futuro?
SP: Desenvolver sempre...
CE: É o trabalho é muito propício para essa continuação, porque assenta num exercício plástico, estamos constantemente a ver a reacção da água com isto e aquilo e da luz, e se a metermos aqui ou ali, há uma grande quantidade de quês.
SP: Mesmo a água tem vários estados, líquido, sólido e gasoso que podem ser explorados. Para já trabalhamos na forma líquida.
CE: Como é que podemos trabalhar isso? Que é que isso nos pode oferecer em termos em quadros. Porque isso não acontece apenas com este espectáculo, vivemos muito de projecções, mas não é só disso que queremos que o nosso trabalho assente. Pretendemos acções directas, por exemplo, o gelo a derreter pode cair numa chapa quente que vai reproduzir um som, ou fazer um fuminho. É quase com criar um organismo eficiente e nós estamos aí com maquinistas desse organismo para viver.
Tem grande aceitação das vossas performances, são no mínimo invulgares?
SP: A aceitação do outro espectáculo foi óptima.
Qual o tipo de público?
SP: Era um público especial, porque como era limitado, cerca de 40 pessoas, eram pessoas ligadas as área.
CE: Já temos tido outro tipo de feedback, as crianças gostam imenso.
SP: É só sentar e apreciar.
CE: Outra coisa engraçada é que nós temos medo do público por causa do nosso trabalho. E há momentos onde esse experimentalismo ganha uma dimensão maior, e outros menos, só que sabe quem caminha com este experimentalismo com estas imagens. As pessoas podem ter um feedback intenso com um ruído. E essa textura sonora que se transforma e parece que já não é ruído e como têm imagens já não se torna tão monótono.
SP: Nós usamos os momentos do quotidiano e damos-lhe importância. No conjunto resulta bem.