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O director global

Escrito por  yvette vieira ft paulo alexandrino

António Filipe Pimentel é o  rosto do Museu Nacional de Arte Antiga (MNAA), do qual assumiu à direcção desde 2010 e cuja liderança e visibilidade fez com que esta instituição se torna-se uma dos museus públicos mais visitados ao nível nacional, ultrapassando a marca dos 170 mil visitantes em 2016.

É director MNAA e durante a sua direcção mudou a visão que os portugueses tinham dos museus públicos, o ano passado este espaço foi dos mais visitados não só por estrangeiros, como também pelos portugueses. Então fazendo uma restrospectiva, o que acha que à sua direcção fez para mudar este olhar que o público nacional tinha sobre os seus próprios museus?
António Filipe Pimentel: Eu acho que o mudou foi um posicionamento de marca se assim quiser chamar, no sentido de tornar o museu uma referência contínua de maneira cada vez mais forte e uma presença central na vida das pessoas. Isso fez-se através de uma programação intensa e com qualidade, o MNAA tem até um cariz internacional e isso tornou-o numa referência familiar. Ao ponto de que sete anos volvidos podemos dizer que se há muita gente que nunca foi ao museu, pelo menos uma vez na sua vida, tem consciência de que é um local onde tem de ir. E aqueles que já foram tem a noção que é um local para visitar repetidamente, não se pode ir ver apenas uma vez, deve-se ir visitando sempre, não só porque é muito grande, mas também, as colecções podem ser fruidas de forma gourmet, por exemplo, agora apetece-me ver pintura europeia e amanhã, vejo escultura portuguesa. Existe uma programação contínua e se as pessoas querem estar actualizadas com o que acontece de importante em Portugal, nomeadamente, em Lisboa neste domínio, tem de passar pelo menos duas vezes por ano pelo MNAA e se quiserem frequentá-lo todos os dias podem sempre ver coisas diferentes.

Quando refere que existe uma aposta numa programação muito variada, também foca “as noites nos museus” que contribui muito para que as pessoas tivessem acesso a este espaço e outros.
AFP: “As noites nos museus” são menos, porque temos muitas dificuldades, do ponto de vista de recursos humanos e administrativos no horário nocturno. A não ser no dia internacional dos museus porque é uma grande festa, ou por uma circunstância muito especial. Mas, não é necessário abrir de noite, porque as pessoas tem horas suficientes, o que se deve fazer é que estas instituições sejam parte da sua própria vida, do seu quotidiano e do seu consumo diário, isso é que é uma referência próxima.

Voltou a referir a questão dos recursos humanos, que aliás tem sido uma das suas críticas, recentemente partiu-se uma peça de escultura, em Novembro passado, porque não há funcionários suficientes para todo o espaço, contudo, essa também uma questão orçamental dos restantes museus públicos.
AFP: Sim, o problema dos recursos humanos no museu é um problema que se agrava não só no MNAA, mas em todos. A escala é maior no nosso e o número de pessoas também, mas isso enfim, vamos pouco a pouco tentando melhorar esse aspecto. Mas, isto veio ao de cima, porque há pouco estávamos a falar das aberturas nocturnas, o que queria dizer que mais importante que estes dias especiais é necessário habituar as pessoas a frequentar um museu como um espaço vivo, que pulsa e que pode oferecer experiências diversificadas, é um local de experiência individual por excelência. Se pensar que, por exemplo, quando há um grupo que entra no museu, a não ser que esteja enquadrado por uma visita orientada, as pessoas dispersam por si mesmas, porque cada uma delas establece a sua relação com uma obra em detrimento de outra e esse grau de experiência individual é que é tão importante. Um museu é um local de investigação em que se comunica tudo o que esta relacionado com a fruição da obra de arte, o que pode trazer e enriquecer, onde existe como que uma descodificação que é feita por via da visita orientada, ou da exposição e é tudo isso que importa fazer entrar na experiência e no ritmo quotidiano das pessoas e isso que traz vida ao museu. E é toda a revolução que o MNAA tem feito pela sua importância de primeiro museu nacional, das suas colecções e pela dimensão desta instituição que tem a obrigação de liderança que mobilize os outros museus, em escala menor, a seguir o mesmo caminho. E isto também ajuda a convencer os próprios poderes públicos a dar mais recursos que permitam que estas instituições tenham melhores condições de trabalho. Hoje, é um dia muito feliz porque estámos a comemorar a extrordinária adquisição da pintura de Karl Briullov para o Museu da Quinta das Cruzes, com destino ao Museu do Romantismo que esta a ser criado.
Um museu não é apenas um sítio patrimonial, um local onde vamos viajar no tempo, vamos encontrar algo que chegou aos nossos dias, tão genuíno quanto possível e onde vamos à procura de uma experiência de autenticidade. Pelo contrário, é preciso ser um espaço renovado, daí ser tão importante à renovação das colecções, que estimula a vida aos museus, os afirma como marca e como patrimonio nacional, regional e local e fá-los circular pelo grande circuito das exposições internacionais. Quando as peças são requisitadas dão visibilidade e luz, que depois é um factor de orgulho para as comunidades, porque os museus tem essa missão de fazer com que as pessoas se sintam bem do ponto de vista identitário. Tal como também são espaços de pedagogia da paz, o que é muito importante, as instituições museológicas apresentam o melhor do que o passado tomou, de todas as culturas, ou civilizações e no fundo mostram que não houve nenhum povo que não contruibuisse para a humanidade no sentido global. É por isso que tem de estar mais presentes junto das pessoas e na sociedade de comunicação onde vivemos é preciso que se oiça falar sobre eles e das exposições que acontecem. Se o museu não se comunica é como se não acontecesse, fica refém de um reduzido grupo de eruditos que sabem que as coisas existem, como estas instituições estão inseridas em democrácias e são pagas por todos nós, logo, tem o dever de se aproximar das pessoas.

Quando fala em se aproximar das pessoas, isso também vai de encontro à campanha de crowdfundig para o quadro do Domingos Sequeira?
AFP: Também, por exemplo, essa operação só subsidariamente se destinou a reunir os 600 mil euros necessários para à adquisição da pintura. Foi uma mobilização em termos de comunicação do próprio museu, de aproximação da comunidade e para enriquecer as coleções nacionais como acabei de dizer. Há também uma vertente identitária, porque as pessoas sentiram que contribuiram para enriquecer, aumentar os tesouros que eram seus e do mundo. Atenção, que não foram só os portugueses que contribuiram, houve valores internacionais e significativos desde a primeira hora, a primeira contribuição foi americana e ainda a campanha não tinha arrancado. Em simultâneamente ajudou a divulgar a vida e obra de um grande pintor português, António Domingos Sequeira, essa pintura, “ A adoração dos magos”, que era apenas conhecido por um grupo restrito de pessoas, agora é um dos ícones mais importantes da arte portuguesa. Isso foi um museu a cumprir à sua missão do domínio da investigação, houve todo um levantamento científico por detrás, depois a comunicação, o trabalho pedagógico da obra do artista e esta especialmente mostra como de facto o público, no senso, democrático, portugueses de norte, ao sul e ilhas contribuiram para que esta obra ficasse no lugar certo, que era o teaser da campanha. Mostra também, que esta a cumprir o seu designio, que esta no coração e na vida das pessoas. O prémio para nós é que apesar de haver muitas pessoas que ainda não conseguiram ter tempo para ir até lá, tem todas a consciência que hão-de ir na primeira oportunidade e isso antes não existia.

E vão continuar a usar esse esquema de financiamento no futuro para outras obras?
AFP: Iremos, mas não ainda. Temos outra campanha a decorrer, mas mais tranquila, é uma obra muito interessante, uma miniatura pintada sobre marfim, feita em Roma, na década 1730 e é importantíssima como obra de arte, pelo seu valor histórico também, porque retrata o frade José Maria da Fonseca Évora, um nome hoje conhecido, basta dizer que a biblioteca que ele fundou, do Convento de Santa Maria em Aracoeli, era considerada a seguir do Vaticano, a segunda melhor e ainda hoje se chama biblioteca Eborense e isto mostra de que personagem estámos a falar. A proposta tem um valor muito amavél, são 10 mil euros e portanto, não se justificava fazer como a de Sequeira, mas estámos a usar o mesmo processo, acaba em 30 de Maio, mas estámos tranquilos em relação ao cumprimento do objectivo. É uma forma de envolvimento em termos de cidadania e creio que toda a gente tem um euro para dar para uma campanha como esta, quando as pessoas sentem que uma pequena parte lhes pertence, sentem que criaram um elo com aquela instituição e o seu acervo. A campanha do Domingos Sequeira deu um trabalho enorme em termos de backoffice, foi muito pesado, iremos fazer uma nova campanha como esta, mas agora iremos descansar porque na altura tivemos muitas frentes de guerra em simultâneo e para aquilo que para as pessoas, no exterior, parecia fácil e o objectivo foi esse, por detrás foi muito pesado e os frades são muito poucos para o trabalho da ordem.

É esse o futuro dos museus públicos tornar o seu nome global, para que o público o continue a fruir como sublinha?
AFP: Claro que sim, o futuro dos museus de serem instituições de forte vitalidade tem de ser um objectivo importante. Enquanto que numa biblioteca, ou um arquivo, pelo contrário, tem de haver tranquilidade, imagine a biblioteca nacional de Lisboa ter grupos de visitantes a entrarem e perturbarem os leitores, porque tem de haver silêncio para haver investigação. Uma colecção de arte pública pertence as pessoas, deve ser vista por todos, porque é paga pelos contribuintes e deve ser continuamente enriquecida para o nosso próprio orgulho, é isso que deixámos as gerações futuras. Tudo é precário, menos o património que legamos com todo o passado que ele evoca.

E a questão do patronato, diz-se que não funciona em Portugal, não da forma como se vê nos grandes museus europeus.
AFP: Como em tudo é o círculo virtuoso e vicioso, se as instituições tem luz o patronato aproxima-se se não tem, lá está, as intituições tem de fazar essa tal auto-justificação por natureza para que as pessoas se sintam próximas delas e há uma educação pedagógica em Portugal nesse sentido, são os museus que não tem a visibilidade necessária em termos de comunicação para que os patronos tenham o retorno que gostariam? Ou são os museus é que não tem patronos à altura? É necessário corrigir esses defeitos pouco a pouco e as peças vão-se encaixando como num puzzle, se elas não andam, se estão inertes, não se pode colher energia, porque não esta não se liberta.

Qual é próximo passo para a programação deste ano?
AFP: Estámos com uma grande exposição neste momento, que é a “Cidade global de Lisboa no Renascimento” que esta a ser um enorme sucesso junto do público e termina no dia 9 de Abril. Na semana passada, inaugurámos uma nova obra convidada do Canaletto, do Museu de Arte da Cidade do Luxemburgo. Agora, estámos voltados para a nova exposição que será inagurada no próximo dia 18 maio “Madonna, tesouros dos museus do Vaticano”, enquadrada com os 100 anos da aparição de Nossa Senhora de Fátima. Vai ser uma notável mostra sobre a iconográfia da virgem, com obras cedidas maioritariamente pelos museus do Vaticano, mas também pela galeria Borghese, ou Corsini e ainda duas mãos-cheias de obras nacionais na sua grande maioria nunca vistas com o mesmo denominador comum, italianas, de grandes nomes e todas retratando a virgem.

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