O que os artistas procuram dessa experiência?
PP: Liberdade criativa basicamente. Não se criam regras impostas, mas sim um trabalho colaborativo que é muito diferente de dizerem-nos como artistas o que querem que seja feito. É totalmente diferente ter a minha própria ideia e acrescenta-la ao trabalho do grupo, é diferente. Uma coisa é dizerem está é a peça, este é o guião, chegas aqui e fazes isto, outra coisa é eu perguntar o que tu queres fazer, aí trazes as tuas ideias para dentro daquela temática colaborativamente com os artistas de outras áreas e entre todos criam um objecto que é um espectáculo original.
Quantas pessoas concorrem para esta última compota?
PP: Em Abril? Ou agora? Agora, tenho imensas inscrições que ainda não contei(risos). Tem sido um crescendo, mas a equipa mais pequena com quem já trabalhámos tinha 22 pessoas. É sempre muita gente, bailarinos, artistas plásticos, cenógrafos, aderecistas, artistas de circo contemporâneo, teatro, video, etc. Há muita gente que se candidata pelo projecto.
Como funciona a selecção?
PP: As pessoas enviam uma ficha de inscrição e o curriculum, ou o link da sua página pessoal, ou vídeos de trabalhos anteriores. Depois eu e a minha equipa fazemos uma selecção das pessoas, eles também fazem uma audição presencial. A participação é gratuita.
O que procura nas audições presenciais, já que devem aparecer imensos artistas muito talentosos, o que faz a diferença nesses momentos?
PP: Procurámos que a pessoa se apresente em 3 minutos. Se for um bailarino dança um solo, se for um músico toca e traz qualquer coisa para se apresentar a si próprio, na ficha de inscrição também há uma pergunta sobre o porquê candidatar-se e o que procura? A maioria procura esta ideia de fusão, de trabalho colaborativo que é o que lhe interessa mais, essa experiência. A ideia da compota é a fusão das artes e é essa grande motivação. Na audição a primeira coisa que sinto é o grau de honestidade da pessoa, de entrega. É essencial que não vista uma personagem, ou que se venha com muitas máscaras, porque nós queremos a essência. A escolha também é feita a partir do objectivo que traçámos, eu crio uma matriz de funcionamento onde eles interagem, tem de haver, não é só improvisão pura. Criámos dentro de uma temática, todos são ouvidos, há um brainstorm e depois cria-se a matriz. Muitas vezes quando as pessoas se apresentam já trazem uma ideia muito boa, na forma de se apresentarem, porque a "Compota" também um espaço para se apresentarem ao público, ainda mais neste crise em que quase não há espaços para mostrarem a sua arte, funciona como uma janela de visibilidade.
Então como funciona na práctica?
PP: São 4 dias de laboratório, 1 de montagem e 4 espectáculos abertos ao público em geral. Parece-me muito interessante a capacidade de adaptação do conceito Compota a qualquer espaço como um teatro, um jardim ou um palácio. Isto e o enorme desafio de criar um espectáculo em quatro dias.
É sempre em Lisboa nunca tentou transpor este projecto para outras zonas do país?
PP: É dificil, mas já o fizemos em Leiria, em Portimão, em Coimbra, mas com equipas mais pequenas. É muito díficil fazer a "Compota" com toda esta gente, com o equipamento e transporta-lo para outro sitio. A ideia do que estamos a desenvolver agora é ter um projecto com equipas muito reduzidas e abrimos candidaturas na localidade, imagine que vamos à Madeira angaríamos as pessoas nessa zona,também nos interessa o trabalho com as comunidades, porque existem muito artistas residentes. Actualmente temos um projecto de intercâmbio com o Brasil, porque em Portugal esta complicado para a cultura e temos outro com à Suécia. Ao ínicio desde 2003 até 2006 fizemos a "Compota" em vários festivais de Portugal, entretanto quis fazer uma pausa de 4 anos e só peguei neste projecto em 2009.
Porquê a pausa?
PP: Porque precisava de parar para reflectir.
Sobre o próprio projecto em si?
PP: Sim, sobre a "Compota" e sobre a pertinência do projecto. Mas, as pessoas insistiram e as tantas eu até dizia: "a pedido de várias famílias", aqui vamos nós outra vez. As pessoas querem esse espaço de liberdade, vão porque não existem impedimentos de nenhuma espécie. Podem criar como querem, obviamente tem um trabalho colaborativo e estamos todos a trabalhar para o mesmo tema. O próximo tema é a "travessia" um poema de Fernando Pessoa.
Há também o manifesto ID.
PP: O manifesto ID foi em coprodução com o Centro Olga Cadaval e foi uma iniciativa com três momentos, 3 passos, uma era uma visita guiada ao próprio espaço, aos bastidores, ao que acontece no teatro fora do olhar do espectador. O gabinete de produção, toda a parte técnica e a montagem de camarins e todo o seu funcionamento aberto ao público que se inscrevia. Depois trabalhámos sobre à identidade, que tem sido o tema que tenho estado a desenvolver desde 2003. É onde estou focada, porque é o que mais me interessa até esgotar. Havia também um espectaculo sobre o mesmo tema, tanto que convidei vários artistas para desenvolver este conceito, depois organizámos o atelier ID para crianças, onde em cerca de 6 horas, fazíamos uma criação em várias áreas, de uma banda sonora, os figurinos, e os adereços. Com a ajuda dos monitores as crianças criaram um espectáculo e no fim do dia os pais vieram assistir. Foi uma experiência muito enriquecedora tanto para eles como para nós e um trabalho de parte a parte.
O ID surge então como um complemento das restantes vertente dos "sentidos ilimitados", que é o "gerações" e "o viver agora", projectos contínuos dirigidos respectivamente ao público sénior e infantil.
PP: Sim, o "gerações" também, mas trata-se de um projecto que gostaria de ter implementado, mas que ainda não consegui, pelas questões do costume, a falta de verbas, mas o tem a ver com o tal desafio intergeracional, em que se trabalha com crianças e sénior. Há uma partilha de conhecimentos e para desvalorizar a ideia de que as pessoas idosas são reformadas e que já não podem oferecer nada, mas pelo contrário estão repletos de sabedoria e tem muito para dar. Este é um projecto no meio, mais de acção e responsabilização social, ao contrário da "Compota" que tem mais a ver com a liberdade criativa.
É o propósito do ser de que fala no sentido ilimitados?
PP: Sim tem a ver com o potencial criativo com o descobrir quem somos verdadeiramente, com a ideia do nosso potencial, daquilo que acreditamos que pode ser uma coisa muito pequena daquilo que realmente somos e que conseguimos fazer com os nossos sentidos. Todos somos criativos, temos aptidões e nem sempre temos na sociedade, ou na vida em geral, essa oportunidade de explorar o nosso potencial. E quando falo do desenvolvimento do ser, falo de aprender a reconhe-lo, desafiar-se e desenvolvendo-se.
Tendo em conta o presente qual será o futuro?
PP: Bem, espero que seja risonho(riso). A minha intenção é continuar a expandir esse espaço, enquanto houver pessoas interessadas em desenvolver-se e desafiar-se nesse espaço de criatividade. Acho que vamos continuar a existir, porque tem sido bom. Mas, qual é o futuro? Não sei, depende de todos os que aderirem a ajudaram a dar continuidade ao projecto, tanto os artistas, como o público, tudo se conjuga de forma positiva.
Candidaturas para integrar a Compota:
Até dia 8 de Setembro tem de enviar a ficha de inscrição.
Dia 23 de Setembro audição presencial no Auditório Carlos Paredes, Benfica
Espetáculos de Outubro:
Dia 11 às 21h30
Dia 12 às 17h e às 21h30
Dia 13 às 17h
Novembro
Dias 11, 12 e 13 das 14h às 18h30 Laboratório de Criação
Dia 14 Montagem e Ensaios (dia completo)
Dias 15 Ensaio geral Aberto + Espetáculo às 21h30 (dia completo)
Dia 16 Espetáculo às 17h e às 21h30
Dia 17 Espetáculo às 17h