
O custom café é um espaço pós-apocalíptico onde tudo acontece ao mesmo tempo e ninguém fica indiferente. É um mundo estranho, alternativo, que mistura várias artes sincronizadas de forma a criar um imaginário muito especial e dinâmico, criado pelas produções nirvana, em Oeiras.
Como é que começou a aventura do custom café?
Michel Alex: Vamos ter de recuar muitos anos. É uma aventura que começa em 1988, eu e o meu sócio o Rui trabalhávamos para uma companhia nómada francesa chamada “Archaos”, que deu origem a uma linguagem estética e teatral pós-apocalíptica, usada no filme “mad max” e também o “waterworld” do Kevin Kostner. É todo este universo, esta linguagem que está muito ligada ao passado. É um futuro transposto para um mundo em reconstrução onde se vão descobrindo elementos do tal passado industrializado. Os “Archaos”, entretanto, acabaram e começámos a trabalhar com outras companhias de vários países e sempre nos mantivemos fiéis a essa linguagem. Depois encetámos uma parceria com a Daniela e com os “Fúria del Baus”. Ao longo do tempo alimentámos o sonho de fundar a nossa própria companhia e depois de estarmos anos a viajar queríamos conseguir parar e recriar este imaginário onde nós vivemos todos os dias. Sinceramente. Portanto, não somos só artistas no palco. A nossa vida é alimentada por esta linguagem. Vivemos mesmo assim, rodeados pelos camiões, pelas rulotes, por toda esta maquinaria que entra nos nossos espectáculos. Na nossa música, nos filmes, ou seja, tudo isto nos envolve diariamente.
Como é que chegam a Oeiras, voltam para Portugal porquê?
MA: Basicamente voltámos em 2004, por causa do euro, tínhamos vários clientes que estavam ligados ao evento e como fazíamos muitos espectáculos multimédia, de rua e de grandes dimensões tivemos muitas aparições de enorme formato que nos fizeram vir para Portugal. Fui precisamente nessa altura que descobrimos este espaço, era um antigo quartel militar, que estava abandonado completamente em ruínas, foi um acaso.
Quando escolheram esta zona quantos elementos tinham?
MA: Na altura a companhia tinha 30 pessoas, actualmente somos 12, embora muitos dos membros derivaram para outros projectos que ainda estão aqui, como sejam as motas personalizadas. Muitos deles trabalhavam connosco na preparação das performances sobre rodas, dos camiões. Dão também nas vistas com as motas, as Harley, vão as concentrações e ganham prémios das “customs bikes”, são artistas, que cada vez tem mais procura. Desenvolveram o seu atelier, o seu nome, a sua marca e obviamente ainda entram nos espectáculos de maior dimensão. Mas, no dia-a-dia dedicam-se ao seu próprio trabalho.
O custom café fica num dos estúdios e os restantes?
MA: Tem muito espaço ao ar livre, que é muito importante para nós para as convenções, para os eventos com as empresas. Tem estacionamento para vários veículos e autocarros. Também para guardar os nossos camiões tir. O custom café tem cerca de 500 metros quadrados.
Quantos espectáculos realizam por ano?
MA: Varia muito. Todos os sábados fazemos um espectáculo quando estamos cá. Metade são eventos privados para empresas, que fecham o espaço, ou casamentos, festas de multinacionais ligadas à moda.
Ou seja, vocês oferecem uma espécie de cardápio com várias opções é isso?
MA: Sim, exactamente. O espectáculo é vendido com a sala e depois há um serviço de catering que não depende de nós. Temos várias empresas em carteira, e o cliente obtém o serviço que mais se adequa ao seu perfil.
A nirvana produções é autossustentável, nunca usufruíram de nenhum apoio estatal?
MA: Sim. O antigo ministério da cultura sempre olhou para nós como gente muito estranha!(risos) Muito contra cultura, durante vários anos nos candidatamos a vários apoios e rapidamente percebemos que nunca nos iriam apoiar. Eles nunca quiseram vir cá. Nós sempre tentamos explicar isto e estranhamente nunca apareceu ninguém para apreciar se de facto era o projecto válido. Neste espaço já construímos dois teatros, que tem palco e o equipamento adequado e nunca vieram ver isto, estamos a dez quilómetros de Lisboa e ninguém cá apareceu. Portanto, sempre optámos, desde que erámos nómadas seguir o nosso caminho. Sempre tivemos uma grande componente de multidisciplinaridade, não só no plano artístico, mas na vida. De manhã acordamos e mesmo sabendo que não há um espectáculo hoje, há muita coisa para soldar, para pintar e aqui ninguém para, toda a gente trabalha. O segredo é este.
É tipo de cooperativa artística. Mantém na mesma os camiões porque continuam nessa itinerância no território nacional, ou também ao nível internacional?
MA: Nós vamos para todo o lado, a qualquer momento pode surgir um booking, inclusive em Angola, EUA, Alemanha, para onde nos chamarem. Logicamente para a maior parte dos espectáculos fora do continente europeu não levámos os camiões, vamos de avião, mas já houve situações em que atravessamos a europa toda com vários veículos. Os camiões também fazem parte do show. Mesmo aqui, as empresas aparecem com 1500 pessoas e aproveitámos para faze-lo ao ar livre. Chama-se performance sobre rodas. O público circula livremente pelo meio.
Apercebi-me que se trata de um espectáculo multimédia.
MA: O custom café apresenta o espectáculo residente que é muito multimédia e tem vários polos de actuação. A música é tocada ao vivo, tudo é sincronizado com um filme, os artistas actuam entre o público. Tudo acontece ao mesmo tempo, pirotecnia, filme, música e dança. As pessoas acabam por mergulhar neste mundo próprio, que é preparado logo á entrada. Toda a gente fica com as coordenadas de este imaginário e fazem parte dele.
http://www.customcircus.com/intro_pt_red.html