Agora vamos abordar os monólogos como é que reflectes sobre este tipo de espectáculos sem rede, em que estás só em palco.
NP: Sim, mas há uma rede muito forte que é o espectáculo e o domínio dele, há outra componente muito forte que é sentir a respiração do público que algo físico, não é filosófico e é uma questão de estar aberto a isso. Claro que um monólogo é mais complicado, porque se acontece alguma coisa não temos quem nos diga o texto que esquecemos, ou quando sentimos que num determinado dia a nossa energia esta em baixo não temos ninguém que a compense, é mais complicado nesse sentido, mas é um processo. Qualquer peça sofre um período de ensaios para te preparares o melhor possível para posteriormente estrear. Eu acredito neste pragmatismo de que ninguém conhece melhor o espectáculo que tu que o fazes, por isso, és tu que o dominas e trabalhaste para isso, o assustador é...
A interacção do público?
NP: Isso não me assusta, porque somos abertos o suficiente para não cair naquilo que o público quer muitas vezes que é o riso fácil, por isso temos que temos de ter bom gosto para não fugir com os improvisos do que é a essência do espectáculo. Este espectáculo o corvo é muito fechado nesse sentido porque qualquer improviso tem de estar ligado à narrativa, porque senão perde-se. A peça é a mesma voz, que sou eu que sou o interprete, a história é sempre mais forte do que qualquer personagem e improviso.
O vosso trabalho também é reconhecido por serem muito itinerantes. Contudo, durante alguns anos tiveram um poiso específico que é o teatro Helena Costa Sá, mas voltaram de novo ao início, porquê?
NP: Porque não nos compensava estar num só sítio fechados, embora o teatro tivesse todas as condições. Foi uma questão monetária. Mesmo assim, a nossa itinerância era forte, não nos limitámos a ficar fechados, uma das formas de sobreviver é estar em vários sítios, porque são essas salas que pagam para estarmos lá e dessa forma a “palmilha dentada” se dá a conhecer o mais possível.
Abordando essa vertente da itinerância numa outra perspectiva, como é que olham para a cultura agora que o Estado pouco ou nenhum apoio confere e após uma certa polémica na distribuição do concurso do DG artes, vocês que sempre foram independentes? Porque há quem defenda que o Estado deve apoiar os grupos.
NP: Sim, somos da mesma opinião e até achámos que deve ser na maioria das vezes a fundo perdido. A cultura teoricamente não é algo que terá de dar dinheiro de volta a própria Secretária de Estado, não é um sítio de retorno, mas sim de investimento nas próprias estructuras para sobreviverem, criarem postos de trabalhos e públicos cultos. A cultura tal como a educação é um traço da personalidade de uma sociedade a partir do momento em que existe investimento nessa área. Claro que, estámos a falar de várias visões que diferem em alguns pontos, mas a forma como olhámos para isso é muito tranquila, porque a “palmilha dentada” viveu sempre desde o início sem subsídios, nunca sentimos o ter mais dinheiro, ou menos dinheiro directamente, é evidente nos afecta, porque não há investimento nos teatros para estes poderem comprar espectáculos. Aflige-nos que onde primeiro se corta é na cultura, do nosso ponto de vista espero que isto melhore e quando digo isto falo do sistema de atribuição de apoios, é muito burocrático e viu-se agora com estes últimos concursos, quando 40% das estructuras foram excluídas por questões burocráticas e muitas vezes essa vertente ultrapassa a questão artística. O mais importante na cultura é esse lado artístico e esta burocratização da cultura entristece-a de alguma forma, porque parece que estámos a investir mais na formação de burocrátas do que no nosso próprio trabalho que é criar espectáculos e fidelizar públicos e muitas vezes pensa-se que se atribui uma subsídio para funcionar no agora, mas não se pensa na fidelização desse mesmo agora, o objectivo é as pessoas se sentirem cativadas e voltarem e isto demora tempo, tem de ser pensado a médio e longo prazo do que a curto prazo.
Abordando esta questão da fidelização, então define-me quem é o público do Palmilha dentada?
NP: Todo o público.
Mas, que é isso de todo?
NP: Todo.
Mas, já disseste que não fazem um humor fácil, portanto não creio que seja qualquer tipo de público que apareça nos vossos espectáculos.
NP: Sim, mas os espectáculos tem camadas sob camadas de leituras e a pessoa que vai pela primeira vez e não tem a referência que outros públicos tem vai ver a peça e aprecia uma camada mais cómica e fica cativado. A segunda vez que aparece nos nossos espectáculos começa a ver outras coisas e aprecia a segunda camada e a formação de público vai acontecendo assim. Nós começámos como café-teatro e cabaré no “tertúlia castelense” e esse público é o mais fiel até das peças mais filosóficas, ou seja, era o mesmo público, só que vai encontrando uma forma diferente de ver as peças e o feedback que obtemos é algo muito aberto.
Não físico?
NP: Mas, esse também é óptimo (risos). É um contacto muito aberto, tivemos um espectáculo numa altura, até é o Rodrigo que conta essa peripécia, um espectador chegou no final e disse que m..... é essa? Eu trago muita gente comigo dizendo-lhe que a peça é brutal e vocês apresentam esta porcaria? Esse é um dos feedback que ouvimos, mas o melhor que temos é a fidelização do nosso público e a prova esta em que apresentámos um espectáculo no teatro campo alegre e treze anos depois ainda termos público com uma média de 100 pessoas, o que é muito bom, a nossa página de facebook que é também um medidor, a partilha que temos e da própria classe do teatro desta espécie de companhia à margem que esta integrada.