Ao nível nacional?
VF: Não, nunca ouvi nenhuma música minha e eu oiço muito rádio. Nas rádios nacionais o panorama é outro. Não é tão inocente. Tem de haver uma compensação monetária e a playlist que as pessoas ouvem, não é o que gostam, são forçadas a gostar, porque são forçadas a ouvir. Existe um marketing massivo, há agências por detrás. Muita gente a trabalhar nesse sentido para que uma música esteja sempre a passar muitas vezes num dia e sem querer as pessoas vão cantarolar aquele produto.
Regressastes à Madeira, por causa disso?
VF: Não, eu estudo em Lisboa, mas estou sempre cá e lá.
Mas, reparo que fazes sempre mais espectáculos?
VF: Depois da OT continuei sempre a ter mais espectáculos cá. No Continente nem por isso, faço muitos de jazz. Se não tivermos um agente a impor-nos é difícil singrar. Ando também entretida com os meus estudos, acho que com o tempo há-de vir se forem para vir.
Defendestes a bem pouco tempo, num artigo de opinião, um modelo para os músicos, uma espécie de associação que diferencie os profissionais dos amadores.
VF: Não, eu defendi que o músico profissional para trabalhar numa casa, e por mais que tenha talento, tem que estudar e estimular esses talentos. No mundo das artes, há uma grande vaidade em afirmar que se é auto-didacta. Por exemplo, eu gosto da Madonna. Agora imagine que ela nunca tinha trabalhado, que não é o caso, porque ela trabalha imenso é uma grande bailarina e cantora, mas vamos supor. E alguém afirmava: eu quero ser como ela, porque para ser como ela basta estar no sítio certo a hora certa e ela nunca estudou e nunca fez nada. Acho que há espaço para músicos amadores, que tem outra profissão, acho óptimo. Mas para quem quer trabalhar num sítio como um hotel, ou um bar, um amador não pode ganha tanto como um profissional. A polémica vêm daqui. Os amadores como fazem por gosto, não necessitam do dinheiro para viver, vão por metade do preço, e prejudicam os outros. O profissional cobra 50 euros, mas o director como pagou 20 euros a outro, quer regatear o preço. É um círculo vicioso.
Estas a falar então de associativismo?
VF: Claro, claro. Há 30 anos atrás nos tínhamos uma associação de músicos e actualmente ela não existe, supostamente devíamos evoluir. Todos os hotéis tinham um orquestra, não era uma banda ou melhor alguém a tocar teclados. Havia uma carta de músicos, ou seja, o profissional com determinados estudos musicais ganhava x e o músico com menos estudos ganhava y. Eu não considero que se trate de um tema polémico. Eu não queria ser operada, por um cirurgião que não tenha curso. Então, porque devo contratar um músico que nunca estudou? Se quisermos fazer da música a nossa vida, temos de estudar muito e não me refiro apenas, ao conservatório, um músico estuda, nem que seja em casa. Conheço músicos maravilhosos que estudam assim. Não basta carregar um botão num teclado. Nós somos um grupo trabalhador, estamos sempre em evolução e desenvolvimento. Eu vejo os meus colegas que trabalham no hotel a vários anos e todos eles estudam imenso diariamente. Quando alguém pede uma determinada música é necessário estudar as escalas. Por isso, defendo esse associativismo, mas existe uma ao nível nacional.
Mas, ela faz alguma coisa pelos músicos? Não me parece.
VF: Também não me parece. Infelizmente somos um grupo profissional que não é unido, se todos nos juntássemos e zelávamos uns pelos outros seria importante e é isso que quero apelar. Na associação que existe no Continente, há uma tabela que, caso fosse respeitada, seria para o músico uma mais-valia, porque ele podia contar sempre com a mesma quantia no final do mês. Das duas uma, ou não havia animação em lado nenhum, ou então havia e toda a gente ganhava. O que quero acima de tudo é que os músicos se integrem, há profissionais maravilhosos e nós somos um meio pequeno, porque não conseguimos manter unidos? Há pessoas que vivem disto. Eles também têm casa, comida e filhos para sustentar. Temos de zelar pelo interesse de todos e dos nossos filhos no futuro, porque senão o que vamos fazer?
Quais os teus projectos futuros?
VF: Para já, vou continuar a estudar, estou a Escola Superior de Música de Lisboa e continuar a dar aulas. Vou acabar a licenciatura em canto e mais tarde fazer um mestrado. O ensino é outra paixão que estou a descobrir. Aprendo imenso, mais do que ensino.
Gostavas fazer um disco de jazz?
VF: Talvez se surgir a oportunidade e o mercado para isso.
Porque achas que não há um mercado em Portugal?
VF: Eu acho que infelizmente abrange apenas um público muito restrito. Não devia de ser assim, a música é de toda a gente. Por vezes produzir um disco sai mais caro e não compensa em termos de vendas. É um tipo de música que não passa muito nas rádios e eu como referi anteriormente, não chega nada as pessoas e assim não podem criar gosto por esse tipo de música. Há um grande público contudo, nota-se que não é uma elite, está-se a expandir, mas se surgir a oportunidade gostaria de gravar com o Júlio Resende que é o pianista com quem eu trabalho. Ele é um músico que faz um jazz mais virado para a música do mundo. Aproveita os vários estilos musicais, com imensas influências portuguesas. Nós trabalhamos imenso essa linha. O meu grande sonho não é gravar um disco, é sim ser cantora e ter espectáculos ao vivo. Isso é que bom, não há nada igual.
Quem são as tuas referências no mundo do jazz?
VF: A Ella Fiztgerald, a Sara Vaughn e a Billie Holyday. A Maria João, embora eu a tenha mais como referência da música em geral. Ela não precisa de rótulos, ela própria é um estilo de musical e a Dulce Pontes que é maravilhosa.