Essa é também uma metáfora para as vozes críticas da CPLP?
AB: Não respondo a ninguém, mas é uma realidade. A CPLP é um projecto que esta a nascer. Tem dezoito anos e a UE tem quase sessenta anos de existência e veja, o projecto europeu passado estes anos todos ainda não chegou onde quer chegar e do meu ponto de vista erradamente, a unificação política não vai ser a solução para os problemas que os países atravessam. Se mantiverem a diversidade das culturas e da língua, isso já pode ser um projecto económico. A Europa não é culturalmente única, não tem unicidade.
Quando aborda essa papel da CPLP's, quase parece que esta a falar da ONU e esse projecto universal já existe.
AB: Não estou a falar da ONU, podemos falar da "Commomwealth" que tem também um cariz universal muito maior, a língua inglesa esta bastante expandida, mas não é por aí. Acho que a CPLP é uma afirmação de culturas, de afectos e a língua e isso é importante, agora, os países como o Japão, a Venezuela, a Austrália, a Índia, Timor-Leste e o Peru querem pertencer a CPLP, porque é um investimento, é uma forma de colocarem pedras económicas de forma a sustentarem o seu futuro.
Também referiu que a China tomou as rédeas da comissão em detrimento do Brasil, que seria em termos de liderança a escolha natural, achei curioso que não falou de Portugal.
AB: Eu tenho a facilidade e felicidade de olhar para este mundo lusófono das CPLP com os meus olhos africanos. Eu cresci nesse continente e com esse olhar que olho para o mundo, Portugal não tem capacidade para liderar, o Brasil é a quinta ou sexta potência económica do mundo, portanto, quando estamos a falar de 280 milhões de pessoas que pertencem a CPLP, só 230 milhões são brasileiros. Estranho é o Brasil ter deixado a China assumir esse papel, que justifico apenas por questões internas. O país não tem neste momento segurança e força política interna, ou tem ainda medo dos fantasmas de certas palavras como o neocolonialismo que já não fazem parte do nosso léxico.
Disse que a CPLP é uma das forças para o século XXI. Mas, é essa análise que faz no nosso livro?
AB: Não nesses termos para este século, mas é um projecto de longo alcance, que durará ainda muitos anos, devido à juventude da CPLP. Critica-se esta instituição porque não se faz isto, ou aquilo, mas a sociedade civil vai fazendo e tem levado os políticos à reboque na maioria das vezes. Nas diásporas dos diversos espaços lusófonos, há moçambicanos na África do Sul, Japoneses no Brasil, cabo-verdianos nos EUA e na Europa, são estas as comunidades dos vários países do mundo lusófono, é uma rede que pode ser aproveitada, isso esta no livro, fazer um grande projecto ao nível mundial.
Este livro surge de uma recolha que durou quanto tempo?
AB: Este livro é baseado na minha tese de relações internacionais e foi realizado ao longo dos meus anos da licenciatura onde foi recolhendo material e da minha condição de cidadão do mundo. Nasci em Portugal, cresci em São Tomé, fiz serviço militar em Angola e trabalhei em Macau, dígamos que tenho uma abertura de mentalidade que me permitem este olhar sem preconceito e aí que é que esta o problema, os preconceitos que ainda subsistem.
Focou dois nomes Ramalho Eanes e o Adriano Moreira.
AB: Sim, para além do José Parecido de Oliveira, que foi um grande impulsionador deste projecto, foi embaixador do Brasil em Portugal e foi nessa condição que traçou esses caminhos da CPLP. Falei do Ramalho Eanes, porque foi ele que desbloqueou o gelo que existia na pós-colonização, havia um grande problema de relacionamento entre Portugal Angola e Moçambique, não tanto com Cabo-Verde e São Tomé e Princípe que eram países mais pequenos, mas foi com o chamado espírito de Bissau quando ele se encontra com Agostinho Neto, essa cimeira funciona como um quebra-gelos, foi a partir que surgiram os primeiros passos para esta ideia da lusofonia.
E o Adriano Moreira?
AB: Porque é um grande pensador de todo este espaço. É talvez o homem mais empenhado neste pensamento. Há um outro que refiro muito no livro, que advém do melhor estudo que conheço sobre as melhores potencialidades do mundo lusófono, que é também já falecido, o Ernâni Lopes. É um grande documento sobre as vantagens da lusofonia, quer sobretudo ao nível do mar. E aí abordámos a questão das plataformas atlânticas, se juntarmos a do Brasil e de Angola o mundo fica unido, tudo isto é um mar de potencialidades que a CPLP pode aproveitar em termos de expansão geo-política e estratégica.