
É a primeira obra poética de uma jovem escritora, Maria Fernandes.
O título de esta obra a que nos remete? Qual é o seu significado?
Maria Fernandes: Parte do trabalho que esta integrado neste livro tem a ver com uma recolha de um blog, "ventos obtusos" que mantenho desde 2011. Eu escolhi este título porque seria representativo do conteúdo, são 3 séries diferentes de textos, que tem a ver também com o meu processo poético, através da captação de conceitos do meio envolvente, do quotidiano. É a transformação interna desses mesmos conceitos que sai cá para fora em forma de linguagem, utilizando a palavra. Daí as contemplações, de ver o que esta à volta, de reparar em vários pormenores das várias cenas que se vêem. Tudo isso pode levar a um processo que seja transformado consoante o que se sente cá dentro e aí surgem as constatações, que é uma espécie de resultado daquilo que se contemplou. Finalmente, os 30 ventos, são os trinta textos, acompanhados do conceito de vento, como envolvente do meio onde se vive.
O que te inspira no momento da escrita? Uma poetisa sofre para poder escrever ou não?
MF: Não é necesário, pode-se escrever um texto muito triste, se se quiser designar dessa forma, estando feliz. É acima de tudo a capacidade de alguém se distanciar do que esta a fazer, haver uma separação entre a dor e a obra. O que me inspira? Pode ser tanta coisa, posso andar na rua e criar um poema mentalmente. Não há nada em particular que me inspire, como disse no meu caso particular, é uma captação de conceitos do meio envolvente.
São 30 textos que publicaste no "ventos obtusos". Mas, o que te levou a começar esse blog?
MF: Foi um grupo de amigos que me impulsionou a publicar o blog. Eu já escrevo desde a adolescência, mas houve um hiato, durante vários anos não escrevi e houve um momento em que inspirada por várias actividades culturais e as leituras que sempre fiz, voltei a escrever. E então, os meus amigos começaram a dizer-me, porquê não mostrar? E foi aí que criei o "ventos obtusos".
Os teus poemas contam histórias ou não?
MF: Podem contar histórias ou não. E podem dizer uma coisa única, ou não dizer nada. Eu gosto de deixar tudo em aberto, quando escrevo qualquer significância. Gosto da ambiguidade para quem lê, para que haja também uma diversidade de conceitos que possam ser atribuídos àquele texto. Eu quando estou a escrever sei o que estou a querer dizer, mas se calhar as pessoas podem entende-lo de forma diferente. Os significados podem ser diversos, não é necessário escrever poesia para contar histórias, nem serve para isso, mas serve para expressar algo.
Nos teus poemas fazes uma homenagem a outros escritores, porquê?
MF: Imagino que serão escritores que me tenham influenciado de alguma forma, ou que tenham alguma característica da sua vida pessoal, ou trabalho literário que tenha a ver com algo que esteja a escrever na altura.
Achas que somos uma mátria de poetisas?
MF: Eu não colocaria as coisas no género. O que posso dizer é que Portugal é um país de poetas tradicionalmente, não sei se será de poetisas, mas o que sinto é que houve uma certa estagnação durante algum tempo no nosso país, mais especificamente na Madeira, que é a realidade que conheço. E nos últímos anos tem havido uma explosão, existe muita gente a escrever, se calhar qualquer dia há mais gente a escrever do que a ler.