Então a narrativa deste história em termos escrita é para dar a ideia que o amor acontece ao longo do tempo?
ALC: Não, o ritmo da escrita resulta de todas as circunstâncias serem reais que correspondem a forma como as coisas aconteceram, os encontros e intervalos e depois o ritmos da troca de correspondência corresponde exactamente aquilo que aconteceu. Não é uma estratégia que decidi, todos os intervalos foram exactamente como as coisas aconteceram. Eu fiz este livro porque queria lidar com as minhas circuntâncias biográficas, mas há, sobretudo, coisas que estão alteradas na personagem masculina, porque não se tratava de expôr uma pessoa, ele é protegido por alterações a biográfia dessa personagem. Como a Ana Blau não sou eu, é catalã, mas as datas, os acontecimentos, os ritmos, respondem exactamente ao que aconteceu.
É uma história de desamor?
ALC: Eu acho que sim, não é uma história de amor, é sobre o desejo de paixão, e como esse sentimento alimenta aqueles dois, no fundo ele vive de todas as circunstâncias à volta, aquelas duas personagens querem estar uma com a outra e ao decidir estarem juntas vem tudo o que as rodeia e as circunstancias em que se conheceram. Digamos que num quotidiano normal nada daquilo poderia sobreviver e é por isso é que história acabou, porque na verdade ela não tinha outro tipo de alicerces, ela resulta dessa fragmentação, dessa impossibilidade que era isso que a alimentava e portanto ela morreu, é uma das hipóteses, mas sim, é uma história de desamor.
O que te custou mais transpôr da história toda para o livro, em termos de escrita?
ALC: Talvez a relação física entre eles, o sexo é algo que quero explorar, de ir muito mais longe do que esta neste livro, se pensarmos tudo se projecta no sexo, o medo, o fracasso, a dor, a luxúria, os fantasmas, a dimensão de possibilidades para o mal e para o bem, para tudo que é triunfante e bom. O livro começa com uma cena que é um fracasso e queria tratar disso, é um território muito bonito onde se projectam emoções muito complexas, coisas muito difíceis de chegar lá, de transpôr para a literatura. Isso foi o mais difícil para mim, acho que sim, mas ao mesmo tempo gostava de ter ido muito mais longe do que fui.
A cena é descrita de uma forma crua, ou seja, não é tratada de uma forma literária, através de metáforas e grandes floreados, foi isso que quisestes? Distanciar-te de uma descrição literata?
ALC: Eu não acho que seja menos literária por ser crua. Eu apenas acho que o que me interessa fazer na literatura é tocar no real, da forma mais intensa, mais verdadeira possível. Às vezes isso passa por ser absolutamente cru, não deixa de ser literária por causa disso. A crueza faz parte da escrita, não é por usar uma metáfora que eu sou literária, posso até estar a ser mais pobre, há umas que até estão gastas. O difícil é como vou tocar numa coisa assim, no nervo, mas faze-lo de uma forma que não esteja usada, ou seja mentira, é a única coisa que me interessa, isso é literatura, é arte. Mas, há muitas formas de chegar lá, a crueza é uma delas e é uma boa forma, quem me dera conseguir isso.
Achas que estes dois personagens nunca poderiam ter ficado juntos?
ALC: Acho que não, porque o que os liga seja são as circunstâncias, não estavam verdadeiramente apaixonados.
Se não fosse a guerra nunca teria acontecido, é isso?
ALC: Sim, é um desejo de aventura.
Também não é porque quando te encontras num destes cenários, a vida torna-se mais intensa?
ALC: É verdade, sim. Esta história tinha a ver com tudo isso, desejo de aventura, de paixão, de criar um fora do quotidiano e ficou-se por aqui, porque não chegou a ser quotidiano. Não é um amor, talvez seja um desejo.