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E a noite roda

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Trata-se de um romance falhado que atravessa vários continentes, baseado na experiência pessoa de Alexandra Lucas Coelho que decidiu transformar essa história de amor em literatura.

Neste livro abordas um período muito particular da história da Palestina, porque escolhestes este e não outro momento mais importante sobre a história deste país?
Alexandra Lucas Coelho: Porque este livro é uma experiência minha, ou seja, tudo o que esta aqui é um tratamento de circunstâncias inteiramente reais e que acontecerem comigo. Portanto, eu transportei para a literatura uma história de amor, para além de outra coisas, tem um eco na minha experiência pessoal e profissional. Eu dei as minhas cirscuntâncias à Ana Blau, não sou eu, porque ela é outra coisa, ela esta no território que é da literatura, é um desdobramento das minhas circunstâncias, mas provém delas. Eu de facto estava em Varsóvia quando me telefonaram do Público a perguntar se podia ir até o funeral do Arafat e na cobertura deste acontecimento eu conheci uma pessoa exactamente como conto aqui, começa nesse momento porque é o início de uma história que estou a narrar que é uma história de amor que acontece paralelamente neste cenário.

Então a jornalista portuguesa que aparece no livro acabas por ser tu.
ALC: Como estava a dizer esse personagem já não sou eu, o ponto de partida do personagem sou eu, eu dei as minhas circunstâncias biográficas, a minha experiência, o que vivi como repórter, depois ela no texto é trabalhada, estou a escrever um diário, num território que é a literatura, onde tem a sua própria existência. Eu tenho as minhas circunstâncias reais, vou trata-las com outra liberdade com um deslocamento de mim, com uma figura que crio. Essa jornalista não sou eu.

É um tratado sobre a errância? Ela atravessa vários pontos do mundo, embora tenha a sua casa em Barcelona.
ALC: Ela é catalã, mas todas as viagens que aqui estão, acontecem por duas razões: por motivos profissionais, porque ela decide depois ir morar para Jerusalém e instala-se nesse local, ou por razões amorosas. Eu não a vejo como uma personagem errante, a errância não tem um objectivo, quando a personagem viaja é sempre para um fim, ela primeiro vai para Israel para o funeral do Arafat depois decidi ficar lá, porque acha que a experiência tem de ser desenvolvida numa estádia mais longa. Quando vai para Paris, para Espanha, para Itália e a Catalunha, tudo isso tem a ver com a história de amor, há sempre uma razão para essa viagem, não vejo como uma errância, um planar sem objectivo.

O facto da história de amor ser fragmentada, eles encontram-se muito poucas vezes, foi uma tentativa de transpores para o livro uma grande romance trágico.
ALC: Não, a história foi mesmo assim, as circunstâncias são reais.

 

 

Então a narrativa deste história em termos escrita é para dar a ideia que o amor acontece ao longo do tempo?
ALC: Não, o ritmo da escrita resulta de todas as circunstâncias serem reais que correspondem a forma como as coisas aconteceram, os encontros e intervalos e depois o ritmos da troca de correspondência corresponde exactamente aquilo que aconteceu. Não é uma estratégia que decidi, todos os intervalos foram exactamente como as coisas aconteceram. Eu fiz este livro porque queria lidar com as minhas circuntâncias biográficas, mas há, sobretudo, coisas que estão alteradas na personagem masculina, porque não se tratava de expôr uma pessoa, ele é protegido por alterações a biográfia dessa personagem. Como a Ana Blau não sou eu, é catalã, mas as datas, os acontecimentos, os ritmos, respondem exactamente ao que aconteceu.

É uma história de desamor?
ALC: Eu acho que sim, não é uma história de amor, é sobre o desejo de paixão, e como esse sentimento alimenta aqueles dois, no fundo ele vive de todas as circunstâncias à volta, aquelas duas personagens querem estar uma com a outra e ao decidir estarem juntas vem tudo o que as rodeia e as circunstancias em que se conheceram. Digamos que num quotidiano normal nada daquilo poderia sobreviver e é por isso é que história acabou, porque na verdade ela não tinha outro tipo de alicerces, ela resulta dessa fragmentação, dessa impossibilidade que era isso que a alimentava e portanto ela morreu, é uma das hipóteses, mas sim, é uma história de desamor.

O que te custou mais transpôr da história toda para o livro, em termos de escrita?
ALC: Talvez a relação física entre eles, o sexo é algo que quero explorar, de ir muito mais longe do que esta neste livro, se pensarmos tudo se projecta no sexo, o medo, o fracasso, a dor, a luxúria, os fantasmas, a dimensão de possibilidades para o mal e para o bem, para tudo que é triunfante e bom. O livro começa com uma cena que é um fracasso e queria tratar disso, é um território muito bonito onde se projectam emoções muito complexas, coisas muito difíceis de chegar lá, de transpôr para a literatura. Isso foi o mais difícil para mim, acho que sim, mas ao mesmo tempo gostava de ter ido muito mais longe do que fui.

A cena é descrita de uma forma crua, ou seja, não é tratada de uma forma literária, através de metáforas e grandes floreados, foi isso que quisestes? Distanciar-te de uma descrição literata?
ALC: Eu não acho que seja menos literária por ser crua. Eu apenas acho que o que me interessa fazer na literatura é tocar no real, da forma mais intensa, mais verdadeira possível. Às vezes isso passa por ser absolutamente cru, não deixa de ser literária por causa disso. A crueza faz parte da escrita, não é por usar uma metáfora que eu sou literária, posso até estar a ser mais pobre, há umas que até estão gastas. O difícil é como vou tocar numa coisa assim, no nervo, mas faze-lo de uma forma que não esteja usada, ou seja mentira, é a única coisa que me interessa, isso é literatura, é arte. Mas, há muitas formas de chegar lá, a crueza é uma delas e é uma boa forma, quem me dera conseguir isso.

Achas que estes dois personagens nunca poderiam ter ficado juntos?
ALC: Acho que não, porque o que os liga seja são as circunstâncias, não estavam verdadeiramente apaixonados.

Se não fosse a guerra nunca teria acontecido, é isso?
ALC: Sim, é um desejo de aventura.

Também não é porque quando te encontras num destes cenários, a vida torna-se mais intensa?
ALC: É verdade, sim. Esta história tinha a ver com tudo isso, desejo de aventura, de paixão, de criar um fora do quotidiano e ficou-se por aqui, porque não chegou a ser quotidiano. Não é um amor, talvez seja um desejo.

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