Foi uma obra obrigatória para as jovens casadoiras, escrita por Laura Santos.
Recentemente quando fiz uma limpeza voltei a redescobrir dois livros que pertenceram à minha mãe e que na sua juventude eram leitura quase obrigatória para quem se ia casar, a famosa “escola de noivas”. Deliciei-me e ao mesmo tempo fiquei horrorizada com alguns dos capítulos que discorrem sobre este conceito de mulher moderna que recebia uma espécie de manual que lhe ensinava entre outras coisas como uma noiva deve comportar-se, o tipo de enxoval que deve possuir, a vida pós-casamento, como agradar o seu marido, os cuidados a ter com as crianças, conselhos de como tirar os diversos tipos de nódoas da roupa (que achei deveras úteis), a decoração do lar, o que constitui um serviço de mesa apropriado, como arrumar um armário, como limpar a casa, que tipo de plantas são adequadas numa residência e claro esta “pequenos nadas que fazem as boas cozinheiras” acompanhadas de receitas (algumas das quais com ar de serem muito saborosas, devo confessar). Numa das páginas chega a afirmar-se que “não basta à mulher ser uma perfeita dona de casa, económica, asseada e habilidosa. Deve igualmente receber bem na sua casa, tanto as suas amigas, como os amigos do seu marido” fim de citação, referente ao subcapítulo das apresentações. Agora, talvez fiquem com uma ideia do grau de excelência que se esperava de uma jovem mulher casada ao ponto de ser necessário publicar um livro para a ajudar nessa tarefa hercúlea que era a gestão de um lar português (e sim estou a ser irónica, caso não tenham notado!). E não pensem que se tratava de um conceito anacrónico para a época, a “escolas de noivas” tinha e...ainda tem um público vasto no nosso país, porque ao fazer uma rápida pesquisa na internet encontrei uma edição de 2007. E não só, a título de curiosidade cabe referir que a autora, Laura Santos, por conta destes livros e outras publicações sobre gastronomia portuguesa e lavores construiu um império editorial que ainda se mantém nos nossos dias.
Depois de folhear esta “escola de noivas” não pude deixar de reflectir sobre o papel da mulher portuguesa na sociedade dos anos 60 e princípios dos anos 70 de como estas jovens ficavam confinadas a um ideal de donas de casa perfeitas e não desesperadas, verdadeiras super mulheres bem vestidas e de sorriso constante no rosto, numa sociedade conservadora que só lhes permitia trabalhar, ou viajar apenas com permissão escrita do marido, ou do pai no caso das solteiras. Só tenho mais uma coisa a acrescentar sobre esta matéria, viva a revolução do 25 de Abril!Boa leitura!