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O africano

Escrito por 

José Eduardo Agualusa é um dos escritores de referência na escrita de origem africana, um dos seus mais aclamados livros é "o vendedor de passados", que abordámos nesta conversa sobre livros.

O vendedor de passados tem uma característica que é uma narrativa em dois tons, de um lado, Félix Ventura e do outro, o Eulálio, porquê escolher uma osga como narrador?
José Eduardo Agualusa: Este livro tem muito percurso engraçado. Eu acho que a perspectiva num romance é muito importante quando se começa a livro. Eu precisava de um narrador que tivesse essa perspectiva, a partir de cima, porque aquilo se passa numa casa, num espaço fechado e aí surgiu a ideia de uma osga, porque convivi a vida inteira com este animal, sempre esteve presente. Então não foi uma coisa estranha para mim e é curioso que já uma vez lembro-me que estava em digressão a apresentar este livro em França quando um francês fez essa pergunta, havia um senegalês na sala que se levantou e perguntou qual era a estranheza? Em África, nas histórias tradicionais é muito normal os animais falarem e faz parte do quotidiano e a verdade é tão simples quanto isso. Não foi algo muito elaborado, aconteceu assim, porque era o melhor narrador para cada história.

A presença de animais a falar, de outros fenônemos ligados à natureza é algo que atravessa a literatura de origem africana, não só no seu caso, mas de também de outros escritores.
JEA: Vamos dizer que sim. O maravilhoso esta inserido na realidade, de uma forma que já aconteceu na Europa, mas que não acontece tanto e que se manifestava ainda nas zonas rurais, menos actualmente. Na maior parte dos países africanos, pelo menos nas cidades que conheço, ainda é assim.

O Félix Ventura é uma personagem baseada numa pessoa real?
JEA: Não inventei tudo. Completamente.

Ele no final é um homem feliz ou não? Apesar do nome curioso.
JEA: Sim é verdade. É o feliz destino. Eu acho que sim, ele tem uma história de amor que se resolve de forma positiva, ele vai ter com a mulher que ama.

De todos os personagens que descreve neste livro, qual foi o que em termos de escrita lhe apresentou mais dificuldade?
JEA: Os personagens que dão mais prazer são aqueles que tem mais contradições, são os maus, os perversos, e neste livro tem um personagem que é um antigo agente da segurança do Estado e que se transforma em mendigo, essa foi uma das que me deu mais prazer desenvolver de facto.

Porquê? Pelo lado negro?
JAE: Precisamente pelo seu lado negro. Eu sempre digo isto, as pessoas boas são fáceis de compreender, mas não escrevo livros para compreender esse tipo de pessoas, essas eu compreendo. Eu escrevo livros para entender as pessoas más.

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