José Viale Moutinho é uma personalidade maior do que a vida, até em tamanho. Esta sempre atento ao mundo português que o rodeia e é sobre isso que escreve, recolhendo lendas, contos e adivinhas populares. É também poeta, romancista e tradutor de várias obras literárias que esquece porque tem sempre muito mais na sua mente inquieta.
Nestes últimos anos tem publicado diversos contos e lendas da cultura madeirense, porque sentiu a necessidade de faze-lo agora?
José Viale Moutinho: Não foi de repente. Já há muitos anos foi um dos refundidores da sociedade portuguesa de antropologia e etnografia do Porto, é uma instituição que foi fundada em 1927. Simplesmente muito depois do 25 de Abril, já nos anos 80 foi refundada, isto porque demos uma volta à instituição porque estava nas mãos do professor Santos Júnior e ele fazia daquele espaço uma casa sua, convocámos uma assembleia geral e apresentámos uma lista diferente com o Vítor Oliveira Jorge, um arqueólogo e ele ficou como presidente. Eu era o secretário-geral dessa organização, mas mesmo antes dessa altura já tinha feito outras recolhas em 1978 fiz um livro ilhas e romances da Madeira, tenho um cancioneiro sobre o povo português com o título “terra, canto e os outros” e os inéditos da Trindade Coelho e a sua importância etnográfica que saiu nos trabalhos de antropologia.
Mas, o que o atrai nessas temáticas?
JVM: Ao longo do meu percurso literário sempre fiz investigação no campo da literatura popular. É a linguagem do povo, do que ele gosta e do que conta. Isso é que importante, na Madeira nada estava sistematizado, havia umas recolhas espalhas por ai e bastante incompletas, isto no que diz respeito a contos e lendas. No romance, esse trabalho já estava feito pelo Pedro Ferrer e pelo David Pinto Correia. Há também outras possibilidades literárias, que serão as tradições populares madeirenses que irá sair agora em livro.
Afirma que depois de escrever os contos esquece-os todos?
JVM: Eu escrevi um livro com o maior número de adivinhas populares portuguesas, são mais de mil e na altura até sabias algumas e agora não me lembro de praticamente nenhuma. Acontece. Sai da cabeça e acabou. Eu uma vez fiz a revisão de um livro que era um roteiro sobre as ruas do Porto, ajudei a fazer aquilo e depois no final não sabia onde ficavam. São coisas que acontecem.
Mas, vai lançar essa publicação esta semana?
JVM: Vou é lançar uma tradução que fiz de um livro de Balzac que só estava em francês e logo não estava traduzido em português, fala em como pagar as dívidas e satisfazer os seus credores sem gastar um cêntimo. É verdade! (risos)
Porque nunca mais escreveu nenhum romance?
JVM: Eu só escrevi dois romances na vida, por norma sou mais contista e estou a fazer um sobre os falsos Dom Sebastião. O desaparecimento do rei em Alcácer Quibir deu lugar a quatro impostores que o tentaram substituir como sendo o monarca. Isso não deu resultado e daí surgiu a ideia para um romance que estou a acaba-lo e saí em princípio para o próximo ano.
Escreveu muita poesia em jovem, acha que ela tem idade?
JVM: Eu ainda publiquei um livro de poemas em 2004. Mas, tudo tem idade. Estou a recolher a segunda parte da minha poesia completa e isso também sairá em princípio para o final do ano. Estou a rever poemas de 2004 até agora.
E alterou-os muito?
JVM: Eu altero sempre. Acho que o devo fazer, porque há coisas que não me agradam. Volto a reescrever porque quanto a mim o poema tem de ser reescrito. Não tem nada a ver com laivos da juventude. Tudo o que é poemas, mesmo ao meu período mais antigo que são 1975 e de lá para cá tenho uma nova perspectiva e por isso altero algumas palavras.
Sei que não viveu grande parte da sua vida na ilha, há algo de ilhéu na sua escrita?
JVM: Há. Talvez por causa do isolamento. Não faço ideia…