Em Dezembro de 2002 Gonçalo Cadilhe inicia uma viagem à volta do mundo sem transporte aéreo que irá durar 19 meses, onde percorrerá 38 países.
Sempre gostei de ler crónicas de viagens, porque me transportam para outras culturas e outras formas de interpretar a humanidade, através do olhar muito pessoal do cronista. Quando Gonçalo Cadilhe deu início a este períplo pelo globo um dos aspectos que mais chamou à atenção nas suas crónicas de viagem publicadas pelo semanário Expresso, foi o facto propositado do autor nunca se ter deixado fotografar ao longo desta aventura audaciosa, foi inusitado pelo facto não sermos “contaminados” de certa forma pela sua imagem real e pouco a pouco fomos descobrindo a personalidade do viajante ao longo dos diversos textos. Devo confessar que o mistério em muito contribuiu para manter à minha fidelidade a leitura semanal. No fim da viagem quando finalmente sou confrontada com a identidade do escritor fiquei agradavelmente surpreendida, a ideia que tinha criado era outra completamente diferente, a minha imaginação fértil tinha “pintado” a imagem de um homem latino, mais velho, baixo, maciço, de óculos, com barba rija e cabelo crespo, só faltava quase a pala no olho esquerdo e uma perna de pau!
Outro aspecto de que gostei muito nos textos foram os meios de transporte utilizados, como foi o caso das embarcações mercantes e outros afins, na altura na pude deixar de pensar como é bom ser do sexo masculino em determinadas situações, já que uma mulher aventureira solitária para levar à cabo uma aventura desta mesma natureza teria de disfarçar-se de homem, ou no mínimo andar armada. Mas, nenhum destes aspectos que salientei retiram o mérito das crónicas que descrevem as idiossincrasias dos vários povos com os quais contactou e sua forma peculiar de olhar para esses novos mundos. Se ainda não conhece a obra de Gonçalo Cadilhe sugiro que comece a sua leitura por este primeiro livro e depois parta para uma grande aventura imaginária, através das restantes publicações. Boa leitura.