Um olhar sobre o mundo Português

 

                                                                           

h facebook h twitter h pinterest

Última paragem, massamá

Escrito por 

É um livro que estabelece uma dualidade temporal para conectar dois personagens. Um romance escrito ao ritmo veloz da vida urbana, cada vez mais desumanizada, mais amontoada e mais mirrada de sentimentos. É a primeira edição de um jovem escritor, Pedro Vieira, que retrata a vida ficcionada das pessoas com quem nos podemos cruzar todos os dias.

Há dois paralelos que estabeleces entre uma batalha do tempo dos romanos e a linha de comboio, porque?

Pedro Vieira: Uma porque há muitos paralelos que se podem fazer com a época e a forma como vivemos agora. Acho que basicamente o comportamento que havia em sociedade nessa altura, porque houve umas regressões no fim do mundo antigo, a idade média, têm muitas semelhanças com os nossos dias com a excepção da tecnologia, como é óbvio. O tipo de comportamento político, social, de pormenores de pessoas que vivem em prédios em altura, as ínsulas. Do crescimento da cidade desmesurado, da emigração em Roma, há muitas coisas parecidas com o agora. Em segundo lugar, fui buscar um episódio em particular, aquela batalha foi a altura em que o império parou de se expandir. E não cresceu mais. A partir daí foi sempre a regredir.

A analogia que estabeleces com a actualidade tem a ver com a decadência da sociedade?

PV: Não necessariamente, eu usei porque há uma figura particularmente importante nesse episódio que era um general de uma legião que sobrevive aquela batalha, a emboscado, mas mesmo assim decide suicidar-se porque acha que fracassou naquilo que tinha se tinha proposto fazer. E daí o paralelo com a minha personagem feminina que também perde o controlo da vida dela e acaba por decidir tirar a própria vida.

De alguma forma ao ler o livro tem-se a impressão que são baseadas em pessoas que encontravas no teu quotidiano, na linha de comboio…

PV: De alguma forma sim. Não há uma ligação directa, não individualizo, aquela cara que via é mais uma mescla disso. Eu sou um frequentador dos transportes públicos naturalmente. Por circunstâncias da vida profissional e também onde moro, é mais fácil andar de transportes do que de carro, e faz mais sentido até. Em particular os comboios, porque houve uma altura da minha vida que os usava com frequência, é um viveiro para a escrita, porque é muito fácil olhar para as pessoas e criar-lhes vidas. Adivinhar quem elas são, o que elas fazem todos os dias ali, porque saem naquela estação com os sacos a tiracolo, porque choram ao telemóvel, porque da algazarra com os amigos. E então para mim é mais fácil, porque sobretudo escrevo sobre o que vejo, claro que há uma carga de ficção sobre isso, mas é o universo em que vivo.

Reparei que as personagens nada tinham de ti, da tua vivência.

PV: Não, de facto. O que há muito de meu lá é as expressões idiomáticas, no humor que utilizo, eu está muito no livro. Uma pessoa que me conheça minimamente consegue identificar-me perfeitamente como narrador daquela história. Mas, em termos de figuras daquela história não tenho ligação nenhuma na realidade.

Imprimes um ritmo muito elevado a escrita deste livro, lê-se com a mesma rapidez, fluidez como que para acompanhar a velocidade do comboio.

PV: Sim eu escrevo com muita fluidez e tenho alguma dificuldade em rever e as vezes se calhar achamos sempre quando o livro sai que podia estar melhor. Mas, eu tenho muita dificuldade em fazer esse trabalho, e aí entra o papel de editor, é diferente, porque é uma pessoa avalizada e que dá bons conselhos com a sua experiência e o que sabe de literatura. Se for eu a ter que faze-lo tenho imensa dificuldade, a minha escrita é muito encadeada e voltar para atrás, reescrever e reconstruir torna-se difícil porque escrevo em torrente. Eram períodos curtos de escrita quando eu comecei a fazer o livro. Demorou muitos meses porque intervalei muito, escrevi á séria quando assumi a responsabilidade de entregar o livro, cerca de dois meses. Mas, era sempre um período de cada vez, não eram muitas horas, porque já tinha notas sobre o que queria escrever em determinado capitulo, sobre determinado assunto e depois escrevo em torrente e devido a tudo isso, sinto imensa dificuldade em voltar atrás.

Porque aquela linha?

PV: É um estereótipo, aliás o título remete para esse estereótipo do subúrbio, e há outros mais, mas para mim é mais emblemático de Lisboa. Eu queria retratar este tipo de vidas comuns, a maior parte das pessoas com quem nos cruzamos vivem nas periferias. Até porque Lisboa é uma cidade cada vez mais vazia. O concelho em si, enquanto a área metropolitana cresce desmesuradamente. Lisboa concelho está mais mirrada de gente. E a linha de Sintra é emblemática nesse sentido, é onde se estão a amontoar cada vez mais pessoas e em breve será o concelho mais populoso do país até.

Deixe um comentário

Certifique-se que coloca as informações (*) requerido onde indicado. Código HTML não é permitido.

FaLang translation system by Faboba

Eventos