
Foi uma comemoração cheia de glamour e de excelente moda nacional.
Um dos aspectos que verdadeiramente mais me chamou à atenção sobre as comemorações dos 20 anos do Portugal Fashion, no decorrer da apresentação das colecções primavera-verão 2016, foram as peças de vestuário de alguns dos jovens designers de moda, na passerelle bloom, que ao meu ver muito pessoal foram de um elevado nível de qualidade. Estes novos talentos nacionais apresentaram colecções de grande sofisticação, criatividade e inovação estética que me deixaram impressionada. Gostei tanto que aqui vão os meus nomeados para a primavera-verão 2016:

Eduardo Amorim apresentou “Untold” que é precisamente o que o criador demonstra nesta nova coleção. O designer, através dos detalhes com fita termocolada sobreposta nas costuras, faixas que prendem a zona dos braços, etc e ainda tenta representar o atual sistema, onde a falsa liberdade de informação e expressão impera. Em contraposição vemos detalhes de peças desconstruídas com mangas aplicadas em pontos invulgares para representar a libertação da opressão já mencionada, passando assim a ideia de uma humanidade liberta da mordaça da censura. Com uma paleta de cores que varia entre os tons mais escuros e mais claros, a coleção apresenta alguns apontamentos de cor e materiais como, por exemplo, malhas técnicas com toque de papel e de dupla face "aborrachadas". Tudo isto representa uma desconstrução do clássico para peças com novas formas descontraídas. Este efeito segue a alusão a um tema controverso e muitas vezes camuflado numa sociedade "democrática" e “livre".

Inês Marques mostrou a coleção “Lath”, que se caracteriza por ser rica em elementos gráficos e texturas. Inspirada na estética do artista Andy Vogt, e sem nunca esquecer o material chave do autor, a madeira, a jovem designer vai revelar “propostas com um design bem simplificado, através de linhas retas e depuradas, com misturas de cor e materiais”. A designer “privilegiou materiais simples, como as sarjas, a partir dos quais criou novos resultados, através de diferentes intervenções nos tecidos”. Resultados, esses, que se materializaram em estampados, aplicações e acabamentos. Este processo criativo, garante, “torna as suas peças em autênticas obras de arte”.

[UN]T é a marca de Tiago Silva, estudante de design de moda do Modatex com 24 anos, natural de Braga. Frequentou artes visuais, onde veio a descobrir o gosto pelas artes plásticas e o design de moda. No seu currículo, conta já com um estágio em design industrial na Petratex e com a participação (em colaboração com Marques Almeida e com Carlos Couto) no Portugal Fashion. Vencedor do 44.º Concurso de Jovens Criadores, promovido pelo Instituto Português do Desporto e Juventude, o criador assume preferência pelo desenvolvimento de conceitos e um enorme prazer na realização de coleções para o público feminino. Dois corpos e duas matérias, opostas entre si, colidem onde a mente se torna palpável dentro de um corpo sólido. "Frames” são retirados desta matéria conforme a reação que têm deste embate com a mente, sendo estes difundidos de acordo com a atmosfera circundante.

Daniela Barros desenhou uma coleção que alude a uma reflexão sobre as palavras de Didion, sobre os seus valores morais, as vivências e os atos. Trabalho experimental que combina técnicas e detalhes de tailoring sobre uma silhueta desconstruída. Denim, tencel lyoncel e seda japonesa de 1980, tradicionalmente utilizada para quimonos, são os principais materiais da coleção. O branco, que transmite pureza, contrasta com a profundidade do negro, sendo o bege e o azul também dois tons com forte presença na coleção. Blocos de cor, numa composição harmoniosa masculino vs feminino, e sobreposições compõem uma figura estruturada, mas ao mesmo tempo fluída.

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Anabela Rodrigues, segundo a jovem estilista, “inicialmente pesquisei imagens relacionadas com o transtorno bipolar e isso realmente foi o que me levou a encontrar o meu tema. O objetivo é fazer uma coleção com peças reversíveis, que possam marcar e vincar a ideia de bipolaridade, do positivo/negativo e do preto/branco apenas. O nome “Klecks” deve-se ao teste Rorschach, que, apesar de não ser uma cura para este transtorno, é um dos mecanismos utilizados para descobrir a doença. Assim sendo a coleção coloca imagens das manchas, como print ou corte a laser. No teste de Rorschach são sempre apresentadas 10 imagens de manchas e só serão apresentadas 10 neste trabalho. O propósito é transmitir a ideia de que existe uma “doença” na coleção e de que eu estou a tentar examiná-la. Relativamente aos volumes e às formas, as peças são estruturadas e volumosas, no caso dos cortes a laser. Existem também peças contraditórias, bastante caídas e fluídas”.
Em nota de rodapé vou abordar dois dos designers de moda já consagrados que tem em comum nas suas colecções o facto de celebrarem 30 anos, por motivos diferentes.

Anabela Baldaque comemorou de 30 anos de carreira decidiu apresentar “Em nome próprio”, como uma simples homenagem à sua marca. “A roupa não se sobrepõe à alma de quem a veste, é importante deixar espaço para que a personalidade de cada um brilhe. Temos uma coleção fluida, romântica, divertida, que se constrói, pelos muitos vestidos longos e saias divertidas e desconstruídas. Saias que, por vezes, saem do seu registo mais justo com rachas assimétricas e de bolsos longos, para formatos mais amplos e de trespasse diagonais e longas, tornando-as improváveis. Temos blusas hiper-românticas, enriquecidas com fitas de debrums, presilhas, contendo vários tecidos de texturas diferentes, por vezes só de padrões. Apresento também mini tops, rígidos e fluidos inspirados nos anos 70. A colecção possui cores azuis em vários níveis, rosas desde do pálido ao pêssego, amarelos e verdes camuflados, Castanhos dourados e pretos. Os materiais abrangem desde as sedas, aos algodões, lantejoulas, cambraias e bordados e muita fantasia”.

Nuno Baltazar, decidiu celebrar 30.º aniversário do filme "Out of Africa”. Por isso, a sua nova coleção "tem como ponto de partida a vivência de Karen Blixen, no Quénia, entre 1917 e 1931. As fascinantes texturas, cores e detalhes da tribo Kikuyu são o ponto de partida para propostas urbanas onde peças e detalhes sofisticados se fundem com elementos casuais e easywear”. De acordo com o descritivo da coleção, "as silhuetas x e h ganham tridimensionalidade pelas texturas e grande profusão de elementos étnicos. Estruturas anatómicas, decotes em v quebrados, saias soleil, detalhes nas linhas de tórax e cintura acentuam uma figura feminina forte. Marfim, baunilha, caramelo, marsala, sanguínea, terracota, diospiro e preto são as cores protagonistas desta estação, onde marcam ainda presença tons néons, ouro, bronze e azul denim". Nos materiais, o criador privilegiou o jacquard de algodão, as telas viscose/cupro, os crepes e a seda natural, que coexistem com elementos fantasiosos tridimensionais, plissados e acabamentos foil.