Volto a fazer uma pequena resenha histórica da indústria em termos nacionais.
Antes do 25 de Abril de 1974 as portuguesas vestiam-se de acordo com o regime, cores básicas, sobretudo preto, branco e cinzentos, os decotes eram recatados, com saias abaixo do joelho, as linhas eram direitas deixando pouco espaço para a imaginação, uma silhueta minimalista, quase abstracta, fruto de um mundo fechado que deixava pouco espaço para as influências que pudessem vir do exterior. Na pós-revolução dos cravos tudo mudou e pouco a pouco as portuguesas sentiram uma grande necessidade de desconstruir essa imagem rígida e aderiram em força as tendências da moda provenientes do estrangeiro, os corpos assumiram as suas curvas, as saias subiram muitos centímetros acima do dito decoro, as paletes de cores eram mais variadas e padrões dos tecidos mais psicadélicos, a imagem reflectia o espírito de um país aberto a novas emoções e que se ansiava libertar-se de um passado pesado e amorfo.
Os anos oitenta propiciaram o aparecimento dos chamados estilistas. Ana Salazar, Fátima Lopes e Augustos são alguns dos nomes incontornáveis deste processo revolucionário que motivou o aparecimento das primeiras marcas made in Portugal. Houve até um grande crescimento e modernização da indústria têxtil que até então se encontrava estagnada e desactualizada. Dos anos noventa até os dias de hoje houve um grande esforço por parte de diversas entidades para promover a participação das empresas do sector em inúmeros eventos internacionais ligados a moda e na diferenciação e consolidação de algumas marcas no exterior. No entanto, ao contrário do que possa pensar, as mulheres nesta matéria, embora tenham sido o principal motor desta mudança, pouco ou nada contribuíram ao longo dos anos para a sedimentação dos designers no mercado interno. Passadas duas décadas as portuguesas continuam a preterir as marcas nacionais em prol das estrangeiras, chega-se ao ponto de haver empresas com produtos com nomes estrangeiros para poderem vender bem. Contudo, não há só más notícias, a fileira têxtil portuguesa é actualmente responsável por 11% das nossas exportações, um claro sinal do mercado em relação á qualidade dos produtos nacionais.