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A filosofia da andreia

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A Andreia Oliveira é um nome a reter no panorama da moda nacional. As suas colecções são o resultado de um trabalho exaustivo e elaborado, que não termina nas peças, cada colecção é um conceito. Fruto de uma pesquisa e de uma reflexão profunda. Ela não tem medo de experimentar e transformar os coordenados mais básicos em conjuntos orgânicos, que quase ganham vida própria. Gosta de aprender, de criar novos desafios e de evoluir como profissional, em direcção a um futuro que ainda está a construir.

Na colecção Air raid a natureza foi a tua inspiração primordial?

Andreia Oliveira: Esta colecção tinha a ver com o taekwondo, que não usei de forma óbvia. O uniforme que eles utilizam, mas sim reflectir sobre a temática das artes marciais. No aspecto mais duro, mais bruto, misturado com uma tecnologia kitsch, meia rudimentar que eram as luzes e cintos com líquidos azuis. Foi essa a direcção que segui. Um taekwondo futurista com o kitsch.

É por isso que as linhas são muito direitas, decidistes simplificar?

AO: Sim, como jovem criadora que sou, novinha, eu sinto que estou a aprender ainda. Por isso, aproveito estas colecções para experimentar é para isso que elas servem. Eu já estava cansada das curvas e das formas arredondadas e por essa vontade de querer ir para linhas rectas, se calhar adoptei este conceito de taekwondo. Eu já tinha essa vontade de mudar e experimentar, portanto o conceito foi ao encontro dessa necessidade.

Quais foram os materiais que utilizastes?

AO: Usei malhas tricotadas. Gosto muito de usa-las porque podem aplicar-se muitos pontos ter texturas diferentes, consoante o que escolhemos. Escolhi também umas malhas elásticas, que era para enfatizar a questão de haver a necessidade de movimento ligada ao desporto e algumas organzas e sedas transparentes.

As cores escolhidas também tinham a ver com o conceito?

AO: Sim, mas também porque gosto bastante. Eu aprecio pegar num conceito que à partida chama uma paleta de cores, mas que decido mudar. Quando reflecti sobre o taekwondo, por ser um exercício mais duro, mais bruto deveria ter cores escuras, era o que as pessoas pensariam primeiro. Mas, decidi que era mais apropriado usar cores claras, frias e pálidas para acentuar o aspecto blindado e robótico que podia existir ligado ao futurismo e ao aspecto bruto que é o de uma pessoa vestida com o equipamento de taekwondo.

Em relação ao círculo, é uma colecção cheia de símbolos, o que há por detrás dela?

AO: É uma colecção virada para os estados de espírito que uma pessoa poderá ter ao longo das suas vivências. Tanto é uma realidade positiva, quando estamos bem. Como também aborda, o outro lado, o aspecto menos bom da vida, as negativas e as mais depressivas. Na altura pesquisei muito sobre a depressão e as pessoas que estavam em situações muito complicadas. Chegam ao ponto de não saberem o que fazer. Achei todo esse mundo muito bonito. As pessoas parecem que vêem tudo com muita limpeza e tudo se torna mais claro. As rotinas não são tão importantes, a questão é como vai ser a sua vida e como podem ser felizes ou não. Então pesquisei isso, ao nível neurológico, o que a nossa mente faz, onde a pessoa se situa, qual é a parte do cérebro onde aparecem as depressões. O culto desse espírito, do antigo Egipto de onde vem essas histórias e comecei a formar símbolos, cada um deles tinha um significado mediante as situações espirituais e formei assim a colecção, mas sempre com um aspecto sportswear e prático, com esse cunho.

O fly dolphins foi inspirado na música ou foi ao contrário, primeiro apareceu o conceito e só depois a canção?

AO: A ideia não surgiu com a música. Ao acabar o curso e ganhar o concurso, tive vontade de fazer outras coisas que vinha desde esse período da minha vida. Estudei melhor e experimentei mais a questão da moulage, com tubos e transparências. A colecção começou a ficar escura, não em termos de cores, mas de aura. Aquela música pareceu-me que se encaixava perfeitamente. A partir do momento em que desenhava e embora a canção não me estivesse a inspirar, ajudou a enfatizar a aura que eu já tinha delineado para aquela colecção e acompanhou-me sempre á medida que o processo se ia desenvolvendo, achei que fazia sentido o colocar como o título da colecção, porque tornou-se tudo muito estreito.

Os casacos de malha são muito intrincados, qual foi a técnica que usastes para criar o efeito?

AO: A técnica propriamente dita, não sei dizer ao certo. Foi tudo feito na máquina. São pessoas que fazem malha há muitos anos, quase desde crianças com as mães, nós facilmente fazíamos experiencias e chegámos aquele resultado. Uma máquina de tricotar parece quase um órgão, com aquelas agulhas todas. Nós íamos experimentando, vamos tirar aquela agulha ali, aquela acolá, ali, até chegar ao efeito que já tinha desenhado. São peças inteiras.

Quantas horas, em média, foram necessárias para um casaco?

AO: Não sei ao certo, mas leva muito tempo. A idealizar, modelar e cozer, cerca de quatro dias. As senhoras que tricotam fizeram tudo. Por norma eu ajudo a coser as peças, contudo, estes casacos foram todos feitos na máquina.

As camisolas de gola alta, também tem símbolos bordados, há também uma ideia subjacente nestas peças?

AO: Foi uma técnica que não tive tempo de evoluir, desenvolver e experimentar mais. Aproveitei nessa colecção utilizá-la no Portugal Fashion. Foi elaborando e estudando até chegar a resultados diferentes. Simbolicamente não tem significado, confesso que nessas peças não tem. Esteticamente sim, eram imagens que via e gostava muito à medida que ia fazendo as peças, mesmo quando não estavam completas, eu gostava daquele aspecto texturado em três dimensões, já que aquilo é tudo alto e era muito divertido pensar como é que havia de pôr. Eu tinha um bodie básico e isso foi sendo aplicado aos poucos e foram peças que levaram muito tempo a fazer, porque essas sim foram feitas todas a mão.

Como é que fizeste essa espécie de nervuras nas mangas, nos ombros? Há aplicações nas saias e nota-se que foi uma colecção muito pensada e bastante elaborada, onde perdestes muitas horas.

AO: Sim, foram muitas horas que perdi nas camisolas. Gosto muito de fazer tudo à mão, mas nem sempre é possível, porque acarreta custos diferentes.  É complicado. Toda a gente corta para conseguir reduzir os custos para poder apresentar as colecções. Fala-se em crise e nota-se, porque é preciso simplificar para conseguirmos pagar de outra forma não era possível apresentar.

Fizeste tudo a mão como?

AO: Fui muito engraçado, porque tínhamos de fazer o molde de um bodie básico e todas aquelas linhas tem cordões por dentro para pesar. Portanto, uma peça daquelas é pesada e quando é lavada tem de secar duas semanas, porque tem muito algodão por dentro. Cada linha é um cordão, revesti-o com o mesmo tecido do bodie e tinha uma espécie de barras, eu ia colocando e cosendo por baixo, como era tudo muito orgânico, não era possível ser a máquina. Teve de ser cosido à peça, um a um para dar o efeito que pretendia. Demorou muito tempo a fazer, uma semana cada uma. É muito bonito, porque gostei muito de fazer aquilo, de desenvolver o conceito.

O calçado foi também tu que o concebestes?

AO: Os sapatos têm uma história rocambolesca. São do Pedro Pedro, ele deu-mos e eu alterei-os. Pintei e cortei. Eu também gosto bastante de pegar em peças e altera-las, foi o caso dos sapatos e que até funcionaram bem. Foi tudo muito divertido. A colecção foi muito pensada e também tive muito tempo para pensar o que ajudou.

Qual é o balanço que fazes de participar num evento como o Portugal Fashion? Foi positivo para ti.

AO: Sim, positivo é sempre. Se não fosse não continuava lá. Eu encaro isto como algo não muito transcendente. Acho que é necessário, se concorri e ganhei é porque trabalhei muito para o conseguir. Agora, tudo é evolutivo, estou no Portugal Fashion a experimentar, até porque continuo como jovem criadora, com pouquíssimos coordenados, que é aquilo que posso no momento dar. Depois se sentir necessidade de fazer outras coisas e sair, embora me tenham sempre apoiado muito, acho que vão compreender. Se decidir ficar, é igual, é evolutivo e importante, mas não é o mais importante. Nem é o auge de onde quero chegar. Simplesmente tem de acontecer.

Então qual é o futuro, a tua marca em nome próprio?

AO: Eu realmente não sei. Tenho outros interesses que não só a moda, embora leve isto muito a sério. Quando se começa a entrar numa rotina que é fazer para vender para elaborar a próxima colecção e sacrificar algumas coisas que até gostamos para ser mais comercial, eu não sei ao certo ainda se é isso que quero fazer. Como só tenho 22 anos, ainda tenho algum tempo para pensar e por isso não estou muito preocupada. Quero aprender muitas coisas, algo que gostaria de fazer é joalharia, tirar um curso superior e aprender outras coisas para poder misturar. Senão chegamos a um ponto que estamos a fazer sempre a mesma coisa. Queria que tudo evoluísse para melhor, em crescendo, seja em que plataforma for.

http://www.andreiaoliveira.com/478204/Andreia-Oliveira

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