És tu que interpretas essa informação?
TN: É um trabalho a dois. A pessoa traz a peça e como já conhece o meu trabalho e se identifica com ele, pede-me para incluir o objecto num cenário que será único e original, porque dificilmente alguém terá um igual. São os trabalhos que mais gosto de fazer, porque são inesperados, que obriga a pensar e como vamos resolver esse trabalho mais específico.
Em média quando realizas estes bonecos regionais, quanto tempo demoras?
TN: Essa é a pergunta mais frequente. Eu vou responder o mesmo, é muito difícil dizer quanto demoro a fazer uma boneca. Porquê? Geralmente, a peça é feita, desde o princípio até o fim do processo, por mim. Demora, porque há vezes em que determinado pormenor não resulta e pode levar muito mais tempo. Depois as outras bonecas que derivam dessa primeira são muito mais rápidas de elaborar, mas é difícil de dizer, porque são todas diferentes, são muitas horas, muitas dores nas costas e nos ombros, mas quando olho para a peça acabada e para a satisfação do cliente, não me interessa mais nada.
Desenhas primeiro?
TN: Algumas sim, para os quadros. A primeira boneca foi desenhada e foi experimentada, agora está tudo tão automatizado que faço os pormenores que quero acrescentar na peça. Quando pretendo criar um quadro, desenho. Se calhar é vicio de formação, porque provenho da área de arquitectura, à semelhança da profissão o desenho pouco tem a ver com o produto final, mas é o principio de um compromisso que se vai alterando até a peça estar acabada, mas ajuda muito pelo menos para organizar as ideias daquilo que pretendo até atingir o objectivo final.
Tens ideia do número de clientes que atendes?
TN: Não.
Sabes que estão a aumentar?
TN: Sim, porque a melhor publicidade é através do passa-palavra e isso tem-me acontecido. Tenho uma cliente que compra para ela, quando as leva para o seu trabalho acaba por oferece-las e as suas amigas vêm até mim. Acaba por ter um efeito multiplicador. Tenho clientes mais fixos, porque gostam de usar com mais frequência os meus acessórios e há aquelas que só as utilizam em momentos especiais e não fazem encomendas com tanta frequência, mas aparecem e sabem que podem contar comigo desde que consiga responder as suas necessidades.
Quantas réplicas fizestes até agora dos trajes tradicionais da Madeira?
TN: Até agora fiz 70, mas não sei quantos são, nem sei sequer, se existe alguma pessoa ligada ao folclore que te pode responder a isso.
Onde vais buscar esse material?
TN: Há pouca informação rigorosa e cientifica sobre o tema. Existem estudos feitos pelos próprios grupos de folclore, por isso falo com eles e pergunto. Os vestidos podem ser de menina solteira, até a casada, depois há os trajes de trabalho. Outra forma de pesquisa vêm através dos postais mais antigos, mas é preciso ter cuidado, porque quem os realizou, também fez uma interpretação desse vestuário e não sabemos até que ponto essa leitura é fiel à realidade. Depois existem alguns livros, sem fotos, que descrevem em pormenor algumas peças. Os clientes também são uma fonte de informação, quando participo em determinados eventos, as pessoas vem ter comigo a pretexto dos bonecos e explicam-me a origem dos trajes. Eles acrescentam mais informação à aquela que disponho. Esse é um dos aspectos que mais gosto do meu trabalho. As pessoas podem pensar que os acessórios são fúteis, mas eu acho que depende da carga emocional que colocámos em cada objecto. Estas peças não sendo de ouro, nem de brilhantes, acabam por ser pequenas jóias pelo carinho que eu deposito ao faze-las, porque mesmo que faça meia dúzia, cada uma delas pode ter um nome próprio, cada uma tem um olhar e um sorriso diferente. Depois, quando a pessoa a compra torna-a especial o que faz com que não seja fútil. Serve para recordar a ilha, para evocar a alegria da Madeira que é feita de gente sorridente e muito colorida. Tenho um casal de ingleses que me contactou e ficaram muitos felizes por rever-me recentemente, porque há dois anos, adquiram uma peça que ofereceram a neta e ela gosta muito desse boneco e isso traz-me uma enorme satisfação. O trabalho não é em vão. A ideia é essa passar conhecimento, alegria e carinho. Não é só a peça, mas tudo o que a envolve.
Pretendes experimentar outras linhas, outras colecções no futuro?
TN: O conceito é a “natureza viva” e dentro dessa visão tenho três linhas, as flores, o folclore e os “perdidos e achados”. Eu pensei em muitas coisas, mas há limitações de tempo e físicas porque é muito difícil arranjar alguém que trabalhe comigo. É um trabalho muito personalizado, existe muito pormenor e algumas são muito minhas que dá-las para outra pessoa as fazer seria muito complicado. As embalagens são feitas fora, mas muito do design gráfico é feito por mim, são áreas que posso explorar. Em termos de artesanato, o trabalho que faço se reflecte só neste tipo de peças. Tenho que amadurecer ainda muitas ideias. Pretendo criar uma página de internet, mas apenas para apresentar os meus trabalhos, não pretendo vende-los online, porque nem toda a gente os procura é para os adquirir, é mais para copiar. Adulteram o conceito, as pessoas sentem-se enganadas, porque não é igual ao original, por isso prefiro um atendimento mais personalizado e não me tenho dado mal.