Uma das coisas que mais me emociona neste dia dos namorados não são as expressões de amor propriamente ditas, mas os aromas, sob a forma de arranjos florais, ou mesmo uma pequena embalagem de perfume, toda essa azáfama romântica e um tanto quando comercial, me traz a memória e ao meu olfato um conjunto de recordações sensoriais que carrego sempre comigo como os meus odores preferidos, por isso, eis alguns dos aromas inebriantes que me transportam a um tempo perdido, a um momento inesquecível, ou a uma pessoa amada…
O meu primeiro odor preferido é o cheiro a maresia, sou uma amante do mar, do azul profundo, dos dias bafejados pelo vento de leste preguiçoso do verão que transporta o aroma a mar, é como se a sereia louca de Capicua pura e simplesmente decidisse emergir das águas salgadas do Atlântico para passear pela terra molhando a sua passagem e enfeitiçando, não com o seu canto, mas com o seu odor corporal, tudo e todos.
O cheiro a café é o segundo da minha lista, mas podia bem ser o meu aroma mais que preferido e vou dizer porquê, remete-me à minha mãe, aos milhões de manhãs da minha vida que começavam com o cheiro a café que inundava toda a casa e que davam o sinal de que o um novo dia começava, que era hora de acordar e começar a rotina diária. E posso dizer que não começo bem o meu dia se não saborear o meu café com um pingo de leite, é nesse momento que o mundo para e posso respirar calmamente antes da azafama diária.
As goiabas, são outro dos meus aromas preferidos por excelência. Diga o que disserem, o perfume desta fruta madura traz-me de volta o natal, aos convívios, os preparativos dos doces, aos licores e as lampinhas, como se apelida ao presépio na ilha da Madeira, todos esses momentos reaparecem como se tratassem de um filme nostálgico perfumado a preto e branco. Não consigo come-las, deixo-as libertar o seu cheiro até a exaustão, uma forma poética de morte lenta para uma das frutas com uma das cores mais bonitas que existem na natureza.
Um bebé recém-nascido é outra das grandes memórias olfativas da minha vida, se existe um aroma associado a pureza e a inocência, este o é com certeza. Há algo nestes pequenos seres vivos que nos fazem quase rebentar de amor, ternura e vontade de proteger até o final dos seus dias quando cheirámos aqueles cândidos corpinhos minúsculos que amparámos entre os nossos braços. É quase indescritível, não é? Deixa-me em lágrimas só de pensar.
A terra molhada depois de uma chuvada. É daqueles momentos de renovação que inspirámos em grandes golfadas e que nos deixam em êxtase. Há algo de reconfortante nesse olhar para a natureza sarapintada de gotas prateadas de água no seu manto verde e o exalar da terra de alívio ao renascer graças a água caída dos céus de forma persistente que termina com raios de sol tímidos entre as nuvens.
O Jasmim é a flor do aroma feiticeiro. É uma daquelas plantas cuja beleza cor lavanda a balançar em cachos entrelaçados nas pérgulas que me remetem para as noites de luar em primaveras distantes, aos beijos roubados e risos cúmplices. O aroma da juventude eterna.
O meu perfume, como não podia deixar de ser, é outro dos meus aromas preferidos e se ao longo dos anos foi-me deixando conquistar por várias marcas conhecidas, há uma que continua a resistir e persistir, a minha segunda pele há vários anos e sem o qual não me sinto eu, o meu Chanel, o Allure. É pessoal e intransmissível, como uma impressão digital quando misturado com as feromonas da minha pele. Gosto mesmo de sentir alguns dos seus vestígios na minha roupa quando abro o meu armário e não consigo mudá-lo. É o tal. O meu ar.
E agora que me viu a minha pequena lista de aromas e odores preferidos consegue pensar nos seus?