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As jóias da coroa

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As histórias marcantes das jóias da casa de Bragança no século XIX são o mote para uma palestra do investigador, Eduardo Alves Marques, autor da obra “se as jóias falassem”, no âmbito das conversas de “dar a ver”, que abordou muitos dos episódios caricatos e curiosos das várias peças de ourivesaria das rainhas portuguesas.

Onde é que estão as jóias da rainhas portuguesas hoje em dia? A nossa história em concreto começa em 1834 quando D.Maria II é aclamada rainha de Portugal, a qual se seguem D.Estefânia, D.Maria Pia de Sabóia e D.Amélia já no século XX. Mas, vamos ainda abordar a Imperatriz D.Amélia de Leuchtenberg e a condessa d'Ebla que casa em segundas núpcias com o rei D.Fernando II.

Para compreenderem a história marcantes das jóias da coroa há que fazer duas distinções, por um lado existem as chamadas jóias do Estado, onde a monarquia centra uma série de rituais específicos que contam como uma representação do poder. Desde 1640 a dinastia de Bragança ofereceu a coroa de Portugal à nossa senhora da Conceição é por esse motivo que não existe a cerimónia de coroação, mas sim de aclamação. As peças de ourivesaria estatais são feitas com pedras preciosas, prata e ouro e nunca podem ser alienadas, o rei e a rainha podiam usá-las, transformá-las, mas nunca podem ser vendidas. Actualmente, as jóias estão etiquetadas, seladas e discriminadas individualmente e esta tudo devidamente guardado no Banco de Portugal.

As jóias particulares são adquisições efectuadas pela casa real, através da dotação do Estado e temos que enquadrá-las numa monarquia constitucional. Neste caso, grande parte destas peças de ourivesaria privadas estão desaparecidas, porque são devolvidas aos seus proprietários.

 

 

D.Maria II é filha de D. Pedro I imperador do Brasil. Em 700 anos de história é a primeira soberana que viaja e isso permite-lhe adquirir conhecimentos que mais nenhum rei tinha tido até a data. Entre 1834 e 1853 é o auge do romantismo, também há menos de 100 anos descobriram-se as ruínas de Pompeia e existe um grande interesse pelo antigo, onde se procura inspiração para a espiritualidade, naquilo já fomos e muitas das jóias da rainha são inspiradas nesse período. Existe um lado afectivo nas peças muito marcante, onde aparece a representação dos filhos, dos sobrinhos, dos irmãos e é neste contexto que aparecem as miniaturas, as braceletes são um ex-libris.

A rainha possui 183 jóias pessoais, uma das peças em destaque é o berloque e colar do opalas da mãe, D.Maria Leopoldina e uma tiara em diamantes com pedras de várias cores. Um Châtelaine com um relógio de bolso, de Leitão e irmãos, consta ainda do inventário.


D.Maria II estabelece, como uma das regras básicas do seu reinado, acabar com a lei do morgadio, que consistia em que apenas o primogénito é que herdasse e a restante descendência tinha de fazer bons casamentos. A partir do seu reinado cada filho passa a receber exactamente o mesmo que os outros, excepto o rei que tinha a sua ocupação régia. Quando a soberana morre as suas jóias privadas são loteadas por grupos que são colocados numa mesa. Todos os lotes são numerados e cada um dos sete filhos sobreviventes escolhe um número por sorteio.

O rei d.Fernando II sobe ao trono, por morte de D.Maria II, já que o infante ainda é menor. O soberano viúvo numa das suas idas ao teatro acaba por apaixonar-se por uma cantora de ópera, Elise Hensler, uma mulher culta e encantadora, com um pequeno senão, não pertencia à nobreza. Mesmo assim, contra tudo e todos casa com ela, é um escândalo nacional na altura, tendo em consideração que tinha a seu cargo filhos menores reais. Uma das jóias mais emblemáticas que o rei lhe oferece, no dia do casamento, é um alfinete de malmequeres em ouro do tamanho de uma mão. Cada jóia carrega consigo uma história, podemos saber os quilates ou o número de diamantes, mas cada uma destas peças é uma aventura e esta concerne a bisneta da condessa que herda uma propriedade que é o chalet da Parede, casa de verão da condessa d'Elda e o famoso alfinete. Este relato começa com a neta da condessa que era uma mulher elegantíssima, que só comprava as melhores marcas e tinha tantos sapatos Dior que amarrava fitas de seda nas caixa para saber qual era a respectiva cor do par. Por uma fatalidade, acaba por morrer num desastre de automovél e o alfinete desaparece. Quando a bisneta da condessa d'Elda volta dos EUA e regressa de vez para Portugal em 1998, ela decide vender a casa, porque tem uma proposta irrecusável de um promotor imobiliário, embora ao mesmo tempo, alimente um sentimento de culpa e perda por desfazer-se da casa onde nasceu e onde a mãe viveu. Assim, uma semana antes de entregar a casa tira todo o recheio e procura o alfinete em vão. Por esses dias a senhora começa a ter um sonho recorrente e vêm-lhe à memória as cavalariças nas traseiras da casa, onde a mãe a levava passear no pónei que ela tinha quando era criança. No último dia, em finais de Outubro, ela fica sozinha por uma última vez na sua casa de infância, estaciona nas traseiras ao pé da cavalariças, dá uma volta pela propriedade e como as cinco horas já era de noite decide partir, ao entrar no carro acende os faróis e a luz incide na cavalariça, ela repara que no seu interior meio escondido estava uma caixa dos sapatos da mãe, sai do carro e ao abri-la e pegar num dos sapatos, caí o alfinete.

A nova imperatriz do Brasil, Amélia de Leuchtenberg, madrasta da rainha D.Maria II, era tão bonita que segundo relatos da época o imperador D.Pedro I quando a vê pela primeira vez desmaia. Na primeira metade do século XIX ela possuia 500 peças de ourivesária privadas e depois morrer não se sabe ao certo o que aconteceu à maioria delas. Como a sua única filha Maria Amélia morre no Funchal com tuberculose, a soberana viúva e sem mais filhos deixa as jóias melhores à sua irmã, a rainha da Suécia em vez da enteada e soberana de Portugal, já que era do conhecimento público uma certa animosidade que existia entre ambas desde essa altura. Por vingança, ou despeito, o facto é que as peças de ourivesária foram despachadas por barco em 14 caixotes rumo ao Norte e uma das tiaras de diamantes da casa de Bragança, agora, adorna a cabeça da actual rainha sueca.

Pedro V casa com D.Estefânia, uma mulher muito cândida, religiosa e beata e ela trazia algumas jóias particulares, há duas peças no Palácio Nacional da Ajuda, uma pulseira de outro oferecida pela rainha Victória, com a palavra “remember” com diamantes encrustados e outra em alemão que lhe ofereceu o irmão.

 

Uma das histórias mais curiosas e dramáticas da monarquia portuguesa tem lugar antes do casamento do rei, Dom Pedro decide oferecer uma das jóias mais caras que há memória, uma tiara com 4 mil diamantes, a peça custou 86.953,645 reis e tudo isto faz parte do inventário real. Acontece algo inusitado, depois do casamento, o diadema desaparece, nunca mais ninguém a viu, mas existe uma ilustração do dia do casamento, por isso sabemos que a jovem soberana a usou. Outras das curiosidades sobre esta jóia é que para a época não era bom tom levar diamantes no dia do casamento, estas pedras preciosas só deviam ser usadas por mulheres casadas e não por virgens. Existe uma dama camaristas, a duquesa de Rio Maior que escreveu nas suas memórias, tendo sido publicadas em livro por Gonta Colaço, que a princesa era tão bonita que todo o povo a queira ver e ao diadema, mas a peça era tão pesada que lhe corta a testa, a rainha sangra e quando ela sai da igreja o povo diz “ ai coitadinha, vai morrer, vai amortalhada” e a verdade é que a rainha passado um ano morreu com tifo. De acordo com o relato da duquesa do Rio Maior, no dia do funeral, a joven soberana estava vestida com uma seda de prata pálida e Dona Estefânia, por ordem do rei, trazia na cabeça o diadema do seu casamento que logo que chegou ao paço foi retirado e substituído por coroa de flores de laranjeira e partir desse momento perde-se o rasto da peça de ourivesaria. Mas a história não acaba aqui, há um contrato nupcial que estabelece que quando um princípe, ou uma princesa se casa, morre e não deixa descendência, a coroa tem de devolver todo o dote, ou seja, a rainha como não teve filhos, todas as suas jóias particulares tinham de ser devolvidas, tal não acontece, já que o espólio alegam desaparece e a outra parte do dote em dinheiro da rainha acaba por ser usado para construir o hospital D.Estefânia em Lisboa.

 

D.Maria Pia de Sabóia casa com rei D.Luís I no dia 6 de Outubro 1962. Ela traz consigo peças de inspiração romana, executadas por Castellani. Para além disso, possui tiaras, pentes de cabelo, travessas, pulseiras, alfinetes e brincos com trabalho de cinzel magnífico. A rainha quando chega à Portugal manda fazer um inventário de todas as peças de ourivesária do Estado e usa-as com frequência. A tiara e um colar com diamantes em estrela, muito em voga naquele período, foram executadas com diamantes a vulso que pertenciam a coroa real. Existe também uma travessa em laça de esmeraldas com fios de diamantes, que é do tamanho de uma mão dessa época.

Com a implantação da República nada desaparece em termos de jóias do Estado, mas Dona Maria Pia, como era muito vaidosa, gastava muito dinheiro em jóias e vivia acima das suas possiblidades. Naquela época tinha pedido dinheiro emprestado ao conde de Burnay, o homem mais rico no fim da monarquia, e como caução deixou-lhe jóias, que recuperaria assim que saldasse a dívida, o banqueiro acumulou 369 peças de ourivesaria da Rainha-mãe, que foram leiloadas pelo Banco de Portugal em 1912 para recuperar o dinheiro emprestado.

 

D.Amélia, filha dos conde de Paris, casa com D.Carlos I e é uma das rainhas mais presentes e estimadas pelos portugueses, foi a fundadora das Misericórdias. É também uma soberana que não ostenta muitas jóias, porque é muito religiosa e piedosa, quando fica viúva decide dividir as jóias privadas de forma salomónica, as que trouxe de França vão para os herdeiros franceses, as que recebeu em Portugal ficam para os herdeiros da casa real nacional.

 

A sua tiara de diamantes que agora pertence a D. Isabel de Herédia, a actual Duquesa de Bragança foi usada no dia do seu casamento, herdou ainda um “collier de chien”, a coleira de cão também em diamantes, bem como um pregadeira em esmeraldas e diamantes de 60 cm, onde no meio esta escrito “por seu bem”.

http://www.matriznet.dgpc.pt/matriznet/home.aspx

http://www.monarquicos.com/

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