Há peças que se apresentam mais dificuldades na concepção devido aos materiais, ou as técnicas que utilizas?
JR: Há peças mais demoradas do que outras. Os áneis demoram muito mais tempo na sua concepção, porque são feitos de raíz, sem moldes. Se uma pessoa me fizer uma encomenda a peça é feita de próposito para ela. Não acontece como numa joalharia que temos vários anéis idênticos prontos a serem comprados. O anel é feito com as medidas dos dedos da pessoa. O arboreos é uma peça muito requisitada, só é feita por encomenda, não é possível ir a uma loja e compra-la. Depende da pessoa, há quem o use no dedo indicador.
É por isso que te distingues dos restantes joalheiros, porque afirmas que fazes joalharia de autor?
JR: Sim, porque não se pode considerar que a minha joalharia seja comercial. Neste momento tenho alguma dificuldade em entrar no mercado da joalharia tradicional, como por exemplo, num shopping, porque para eles o meu trabalho devido à imagem, a cor e as fortes texturas, eles consideram que não são peças comerciais, por vezes. Acho que o meu trabalho é artístico, sim. Mas, são peças para serem usadas no dia-a-dia, contudo, há jóias mais apropriadas para festas e eventos.
Quem é o público que procura as tuas jóias?
JR: São mulheres com personalidade. Advogadas, médicas e professoras. Que gostam de marcar à diferença na forma como se apresentam e se mostram, querem que as suas jóias sejam vistas. Não são pessoas muito discretas ou simples.
Há pouco referiste que o arborious é uma peça muito requisitada, mas que outras jóias são um êxito junto das tuas clientes?
JR: Tem a colecção sinun, que tem por base a espinha. A bandolete e os brincos, são um conjunto e tem muita presença. É para uma mulher que quer que as suas jóias sejam vistas, mas de uma forma mais delicada.
E qual é a tua preferida das que já criaste até agora?
JR: A que me enche mais as medidas como designer é o ruber folium. Primeiro porque ao nível da mistura dos materiais tem como base a prata, é toda pintada à mão em esmalte vermelho. Ao nível técnico e plástico é uma peça que me satisfaz muito, porque é o limiar entre o artesanal e artístico e é uma peça que dá perfeitamente para ser usada no quotidiano, que equilibra bem a tinta e a prata sem perder o ar de jóia. Foi também um anel que me ajudou muito na minha carreira, porque alcançou o terceiro prémio do concurso VIP jóias, na secção inovação e saiu em dois livros internacionais, um dos 500 anéis e outro foi um anuário de joalharia, por isso é uma jóia querida, porque é um reflexo do meu trabalho.
Quando crias uma colecção segues as tendências e fazes poucas peças para cada uma delas? Como é que funciona?
JR: Eu normalmente parto dos acabamentos, por exemplo, no arboreos e algumas peças que fiz com ouro usei o cor de rosa porque era uma forte tendência de 2013. Quando faço os acabamentos sigo as tendências, mas quando faço uma peça começo pelo anel, sempre. Estabeleço os custos que essa jóia terá e começo a fazer peça. Depois crio os brincos, os colares são uma peça que não faço tanto, não sei porque, se calhar porque não sou uma pessoa que os usa muito, é uma jóia mais secundária nas minhas colecções, mas tenho para as minhas clientes. Começo pelo anel e descontruo os detalhes dessa peça para criar os brincos, colares e bandoletes.
Quantas peças fazes por colecçao?
JR: Não é certo, o anel e brincos faço sempre. Depois depende do tipo de peça, o arboreos tem tanto colar, como pregadeira e bandolete, como o frutectum. No ruber folium só existem brincos e anel. Depende também da imagem, criar mais peças de uma determinada forma é forçar, dígamos assim, é o criar por criar, por isso cinjo-me aos anéis e aos brincos, isso sempre.
Como jovem designer e tendo sido premiada por diversas vezes, como é que achas que pessoas como tu são vistos em Portugal?
JR: Infelizmente, as pessoas em Portugal, mais que no estrangeiro, compram em função da marca, aonde esta e ao seu poder, não ligam à qualidade, ou aos detalhes e isso priva jovens designers como eu tanto na joalharia, como na moda de crescermos e expandirmo-nos quer tenhámos validade ou não, é sempre um pouco dificil. Só quando tive alguma atenção dos media é que os meus trabalhos foram mais vendidos e havia até pessoas que já conheciam o meu trabalho, mas só "arriscaram" nessa altura numa jóia minha. As pessoas ainda continuam a consumir as marcas que conhecem.