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O estilo malandro

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Há um código de vestuário que se associa ao malandro português em oposição ao brasileiro. São duas faces diferentes da mesma moeda.

Quando pensamos num malandro qual é a imagem que nos surge quase que de imediato? É o tipo de ar manhoso com sorriso cínico coberto por um bigode que deixa mostrar o dente de ouro, tipo Zezé Camarinha, usa um fato de antracite com cores berrantes e o cabelo lambido de brilhantina ou gel. Usa a camisa aberta quase até o umbigo, a mostrar os pelos de macho latino e remata a “visão” com um colar de ouro com a cruz de Cristo e o anel também de ouro com a esfera amilar no dedo mindinho da mão direita. Um retrato que e pasmem, muitas mulheres consideram ser muito atraente. Este é o malandro português das classes mais desfavorecidas. O actual, mais burguês, digamos que anda de fato Armani, com sapatos de verniz pretos, camisa branca e gravata às ricas e com um sorriso que branco mais branco não há. Onde podemos encontra-los? Deixo isso ao critério da vossa imaginação. Adivinhem lá!

No outro lado do Atlântico, o estilo é mais apurado. O malandro brasileiro é mais chique, usa um fato branco com camisa de seda japonesa importada, no topo um chapéu panamá e sapatos de duas cores para rematar a sua imagem de homem tropicaliente. Um estilo anacrónico segundo Gilmar Rocha, num estudo intitulado “ A estética e performance no vestuário do malandro” e cito em que “a preocupação estética com o vestuário representa seu principal investimento simbólico, pois estamos falando de um tipo de homem que, muitas vezes, não tem bens, nem propriedades, a não ser a roupa do corpo, como se diz”. Para a estudiosa a importância que o vestuário tem para um malandro converge “para a construção de uma representação estética de uma personagem que tem no vestuário um dos principais mecanismos de eficácia simbólica de sua identidade social”.  Ela defende mesmo que houve até uma evolução ao longo do tempo no tipo de visual que era a imagem de marca de um malandro, passando até por um período, onde se pretendia criar um maior distânciamento entre o a imagem do tropicalismo para a sofisticação dos anos 50, os fatos passaram a ser pretos ao invés do inaculado branco. Uma reviravolta na cor que não altera o código em si, o que representava em termos de linguagem não-verbal, era o estilo de vida de alguém que não odedecia as regras impostas pela sociedade, que estava associada a boémia, a música, as mulheres e aos jogos clandestinos.

O vestuário era um reflexo apurado desta estranha forma de estar para dizer o mínimo. O  fato para o malandro representa  metaforicamente, “ variações de estilo e da multiplicidade de ornamentos que paramentam a personagem. É extremamente rico em simbolismos e significados sociais. Ele denuncia as mudanças de status pelas quais passou a sua identidade”. No Brasil contemporâneo podemos  apreciar esse código da tela, como eles próprios denominam, apenas nas escolas de samba, já que o malandro dos nosso dias, não utiliza mais o vestuário como uma forma de reafirmar o seu estatuto, muito pelo contrário. O actual descodificou a imagem e de certa forma confunde-se com o próprio tecido urbano.

http://www.scielo.br/pdf/tem/v10n20/07.pdf

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