Dados estatísticos demonstram que a beleza física tem um peso significativo na sociedade actual.
Ser feia é um pecado mortal imperdoável a qualquer mulher. Na moda, no cinema, na televisão e na publicidade a aparência física conta quer queiramos ou não admiti-lo. Todas nós sabemos disso. Já o sentimos na pele de uma forma discreta, ou mais despudorada. A discriminação para quem não é “bafejado” com o rosto e corpo ideal é patente. Mais no caso das mulheres. Há sempre alguém pronto para criticar a nossa imagem, o nosso corpo, o nosso vestuário e a nossa postura. As revistas cor-de-rosa cada vez mais exploram esses “defeitos” de forma implacável, as pernas com celulite, umas olheiras profundas, mas o pior de tudo é a obsessão da sociedade actual pelo excesso de peso.
De acordo com um estudo de Joana Vilhena Morais, doutorada em psicologia clínica, sob o título, ser mulher, ser feia e ser excluída, “ a feiúra é, atualmente, uma das mais presentes formas de exclusão social feminina, e como tal, uma importante forma de agenciamento de subjetividade. Tomando a gordura como uma das atribuições mais representativas de feiúra na cultura atual, apontamos para os processos de exclusão vividos por aquelas que nela se enquadram. Buscando demonstrar como a imagem da mulher e a construção da identidade feminina estão fortemente associadas à beleza, destacamos alguns dos qualitativos morais e estereótipos depreciativos mais comumente observados. Paralelamente, enfatizamos o novo paradigma cultural da contemporaneidade - o dever moral de ser bela como um adicional aos padrões estéticos de beleza que sempre existiram ao longo da história”. Mas, quais são as insignías atribuidas a feiúra? Três basicamente, o não ser magra, o não ser jovem e o não parecer saudável. São estes os novos paradigmas da sociedade actual. “Se, historicamente, as mulheres preocupavam-se com a sua beleza, hoje elas são responsáveis por ela. De dever social, a beleza tornou-se um dever moral. O fracasso, não se deve mais a uma impossibilidade mais ampla, mas a uma incapacidade individual” como sublinha a autora. Para colmatar essas “falhas” existem actualmente no mercado inúmeros tratamentos estéticos que veículam a perfeição fisíca, que se traduz em termos de sucesso profissional e pessoal.
Para Catherine Hikam, professora da London School of Economics and Political Science, existe um capital erótico no mundo do trabalho, ou seja, uma pessoa é mais bem sucedida, se além do aspecto físico, se dispôr de qualidades como a desenvoltua, charme, elegância e sensualidade em detreimento das suas capacidades intelectuais ee mesmo formação adequadas ao exercício de uma determina função numa empresa. Para reforçar este argumento, ela afirma que "pesquisas realizadas nos Estados Unidos e no Canadá demonstram claramente que homens atraentes (quer dizer, com mais capital erótico) ganham entre 14% e 27% mais do que os homens não atraentes - considerando que tudo o mais entre eles seja equivalente. Para as mulheres, a diferença varia entre 12% e 20%.
No fundo, o que todas estas especialistas acabam por reforçar é o argumento de que o grau feiúra é um índice com enorme peso na contratação de um indivíduo, embora não se o admita por ser politicamente incorrecto e mesmo se aplica a vida afectiva. Assim para Joana Moraes, " o ser feia, frequentemente associada à gordura, sofre uma das maiores formas de discriminação nas sociedades que cultivam o corpo. Para eliminá-la, mitigá-la, ou disfarçá-la, todos os esforços e sacrifícios serão dispendidos. Uma discriminação ostensiva, manifesta e sem culpa, ao contrário dos negros, pobres, gays ou qualquer outra minoria - discriminamos os feios e/ou gordos sem nenhum pudor ou vergonha". Contudo, há ventos de mudanças neste contexto, já se verificam na moda indícios de um novo paradigma de beleza, o aparecimentos das modelos XL e mesmo na música com cantoras mais cheinhas enchem as páginas das revistas da especialidade. A esperança e força de mudança é sempre a última a morrer.
http://www.psicologia.pt/artigos/textos/A0237.pdf
http://esr.oxfordjournals.org/content/26/5/499