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Trabalhar com alma

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Liliana Alves é uma designer de joias que aposta em peças que misturam o passado com a contemporaneidade, é um simbiose entre o tradicional, através da filigrana, e um presente repleto de materiais inusitados e inovadores.

Como é que começa essa tua paixão pela joalharia?
Liliana Alves: Eu desde pequena sempre tive alguma sensibilidade para o mundo da arte e dos trabalhos manuais. Era eu que fazia as prendas de Natal com fios de cobre, missangas e alguns materiais. Passava a minha imaginação para composições diferentes e interessantes, neste caso para oferecer aos meus familiares.


É aí que surge a ideia de seguir um curso de joalharia?
LA: Estamos a falar de um período que abrange o ciclo e o secundário. Eu tinha 11 anos e já fazia trabalhos, no liceu segui o agrupamento de artes nas Caldas das Rainha e depois soube de um curso de joalharia, em Gondomar. Contactei a escola e nesse ano lectivo como estavam atrasados, deu tempo para inscrever-me e fiz uma formação profissional de 3 anos, que me deu muita percepção e sensibilidade para trabalhar diferentes materiais, ser autónoma, pensar na peça e revitaliza-la. A componente técnica foi muito importante para poder transpor à minha imaginação.


Abordando as colecções como é que começas a percepcionar a joia? Há uma simbiose entre a tradição e com a contemporaneidade.
LA: As ideias por muito que sejam livres, no meu caso, eu acabo por estrutura-las também, porquê? Porque não sou apenas uma apaixonada pela joalharia, este é o meu modo de vida. A inspiração e o processo criativo surgem através da minha sensibilidade, como vejo a natureza, como vejo a arte, quando oiço simples palavras e aprecio os gestos de pessoas. Estes são alguns pontos da minha fonte de inspiração. Depois são interpretados através do desenho, que uso muito no meu trabalho. É uma forma representativa muito própria, ou seja, eu não me inspiro na natureza e faço algo óbvio, ou realista. Eu tento pegar no que observo e tento interpreta-lo, a seguir vou expressa-lo através das técnicas que aprendi e uma delas é a filigrana. Eu agarrei nessa concepção tradicional portuguesa, do próprio fio e criei uma série de composições diferentes e interpretadas por mim, que são inseridas num desenho que surge por algo que ouvi, ou vi. E com essas mesmas técnicas tento aplicar alguma versatilidade nas peças, porque um dos grandes trunfos do meu trabalho é essa mesma componente, tento aplicar nas joias um significado mais eterno, mais prolongado. São peças que a pessoas se apaixonam, tem apreço por elas e querem usa-las, daí eu provisionar alguma versatilidade, ou então não gostam. Meu objectivo não é um mercado de massas, é de qualidade e de alma. Quero que as pessoas sintam a peça e o que usam.

 

Tens esmaltes, pedras, madeiras, prata e outro tipo de materiais nas tuas peças. Então porquê escolhes esses e não outros?
LA: A minha formação foi feita em materiais nobres, neste caso a prata, o componente chave é esse material, por vezes aplico ouro, depois é complementado com pedras e já usei madeiras e esmaltes. Tenho uma parceria com uma ceramista das Caldas das Rainhas e por isso algumas das peças tem cerâmica, porque acho que a simbiose é interessante. Tenho também peças com borracha, que surgem através da joalharia alternativa, ela é uma joalheira que faz trabalhos com borracha, juntámos a expressão dela com a minha e surgiu um resultado muito interessante. Eu tento por vezes focar-me nos materiais, mas a minha formação e naquilo que sou mesmo qualificada é nos materiais nobres. O tipo de mercado que pretendo atingir tem um certo nível de alta joalharia, aparece em galerias de arte e ourivesarias, o que não quer dizer que nestes espaços não se insiram outros tipos de peças e materiais, mas eu fui formada numa determinada área e quero inserir-me num determinado patamar.

 


Quem são as mulheres que usam as joias Liliana Alves? Quem é o teu público?
LA: Eu acho que é muito variado. Tenho tido descobertas felizes, o meu trabalho tanto se insere numa pessoa jovem dinâmica, que possivelmente esta a sair da faculdade, pretende inserir-se no mercado de trabalho e aprecia arte, como tenho a noção que tenho um público entre os 40, 50,60 e até 70 anos que olham para uma peça e também se identificam, porque o que consigo fazer com o meu trabalho, sem perder a expressão própria, é exprimir-me em linhas leves e soft, como também arrojadas para pessoas que gostam de joias de grande dimensão. Este é o desafio. Consigo faze-lo graças à minha criatividade aliada ao meu compromisso técnico, porque tenho as ferramentas necessárias para conseguir separar as coisas sem perder a identidade delas. Tenho uma colecção que é a "leveza", que é usada por diferentes faixas etárias que usam essa peça. Como tenho as "chitas" que é mais arrojada, ou nobre digamos assim e tem o seu público. A expressão esta lá.


Tens venda em vários locais ao nível nacional, mas tens pontos de venda fora do país ou é uma questão de visão para o futuro?
LA: Desde o ano de 2011 que estou presente no mercado da Suíça, onde tenho dois pontos de venda e alguns particulares e estou num site online em Berna que vende os meus trabalhos e que esta neste momento a organizar uma série de eventos de mostras de moda em que estou inserida. Já vendi para Espanha, em Barcelona. No final de 2013 estou a entrar no mercado canadiano, duas senhoras criaram um site de venda de design português, encontraram o meu trabalho e contactaram-me no sentido de comercializarem o meu trabalho e tem um showroom onde vendem a particulares. No próximo ano, sou capaz de ir até lá, porque sempre que o artista está presente em algum evento torna tudo mais fácil ao nível das vendas e é mais especial. Eu foco este ponto, porque as vendas estão inerentes ao meu trabalho, é a minha profissão e é desta área que vivo.


E este ano tem alguns objectivos em particular que pretendes atingir?
LA: Sim, tenho alguns contactos em outros países, nomeadamente em 2013, há a possibilidade de pesquisar o mercado da Austrália. A ideia é expandir o mais possível à minha marca e continuar com os bons clientes nacionais, independentemente do cenário actual que o país vive, as zonas mais turistas e outras áreas que conhecem as minhas joias vão tendo alguma afluência e escoamento do meu trabalho, porque estou no mercado desde 2008/9. Já existe todo um trabalho por detrás e um conhecimento e este ano que passou foi muito bom, fiz um trabalho com os storytailors que foi muito importante. A colecção que construi para o desfile desta dupla, no Portugal Fashion, sob o tema" Lisboa cidade de museus" apliquei ideias alusivas à cidade, á barca de São vicente e os corvos, o que me deu muita visibilidade e me ajudou a conhecer muitas pessoas. Quando estamos no meio e trabalha-se de corpo e alma acho que as situações acabam por fluir mais cedo, ou mais tarde. Em 2014 penso que ainda vou colher mais, porque continuo a sonhar também.


Então sentes que tanto ao nível nacional, como internacional o teu trabalho é valorizado?
LA: Sim, tenho tido bastante público e pessoas que apreciam. Há imensos artesãos de joalharia, mas cada artista tem a sua expressão e quando as pessoas me procuram é que já me conhecem.

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