Bárbara Eugénia é uma cantora psicadélica romântica e tropical, como ela própria se define. Os seus álbuns são reflexo das várias etapas da sua vida e mais uma vez isso fica patente no seu último trabalho, “frou frou”.
Queria começar a falar do teu primeiro trabalho, o “jornal do bad”, já passaram cinco anos, é de 2010, olhando para atrás como vês este álbum?
Bárbara Eugénia: Eu gosto muito do meu primeiro disco. Acho que aprendi a gostar mais dele com o passar do tempo.
Porquê?
BE: A gente tem uma tendência, quem faz disco, tem umas fases de não gostar, de achar ruim, de achar bom e mau de novo. Hoje em dia tenho um profundo respeito pelo meu primeiro álbum, acho que ele é muito bom, porque eu podia fazer o meu momento daquela época e acaba sendo um bom trabalho de estreia. Tenho muito orgulho dele.
O nome, porquê “jornal do bad”?
BE: Era o nome de um email que eu escrevia, porque eu era do Rio de Janeiro e fui morar em São Paulo, tenho também muitos amigos que moram fora do Brasil e na época estava sentindo a necessidade de me expressar além de um oi tudo bem? Eu estou bem e deu tudo certo. Mas, enfim, criei esse email para um grupo de amigos em que contava tudo de uma forma mais literária, de uma forma mais poética, daí eu apelídei de jornal do bad, porque é o meu apelido para os meus amigos mais antigos, eu era meio ranzinza e chata (risos). É o meu diário, da bad, então quando fiz o meu primeiro disco achei que era muito válido, justo nomeá-lo dessa forma, porque era a minha vida naquele momento.
Em relação ao teu segundo trabalho, houve um salto? O que achas que mudou?
BE: Mudou bastante. Ficou mais colorido, isso se pode notar pela própria capa, que era vermelho e preto no primeiro EP e neste segundo trabalho é multicolorida, este é um disco mais solar. Acho que tem também a ver com as fases da minha vida mesmo, eu fui ficando em paz comigo mesma, com o que estava vivendo e isso se reflectiu neste álbum.
É curioso que digas isso, porque muitas destas canções tem um tom nostálgico na mesma, são canções de amor e tem muito à influência dos anos 70.
BE: Sim, muita.
Era música que ouvias, ou que os teus pais ouviam?
BE: Claro que era música que os meus pais ouviam e ainda ouvem, mas é a música de que gosto mais, é uma grande influência essa sonoridadade dos anos 60 e 70.
Mas, pelo que li é um estilo de música meia brega.
BE: Não, o brega já é do Brasil, de um certo tipo de música romântica que existiu no mundo inteiro, mas que no nosso país teve o nome de brega. Eu gosto do rock and roll, do psicadélico e do romântico que abrange todas as formas de ser rockeiro daquela época, desde o mais louco até o romântico fofo.
Definem a tua música como a nova música contemporânea do Brasil. Tu revês-te neste tipo de definição?
BE: Eu já me enfiaram em tantos rótulos que já nem sei. Eu digo que faço música brasileira psicadélica, romântica e tropical.
Tu já andas a cantar alguns temas do novo trabalho discográfico. Fala-me um pouco disso. Qual é o fio condutor deste álbum?
BE: A linha condutora do meu disco é a diversão. Acho que anda tudo mundo muito sério e muito chato, o mundo é muito, muito careta. Vivemos numa ditadura global horrorosa e acho que a gente tem de dar um pouco de risada e dançar os problemas.
Mesmo em termos de voz é mais leve? Porque sempre tens um tom nostálgico.
BE: Aí eu já não sei, eu não posso julgar. Eu estou mais livre.
Em termos de composição?
BE: Mais livre também.
O que mudou?
BE: Eu estou mais sem freio, querendo tirar um sarro dos problemas, em vez de ir a fundo, em vez de ficar sofrendo. Esta muito chata a vida, a gente precisa de se divertir e dançar mais. O mundo esta quase insuportável. Devemos viver mais no amor, estou querendo trazer mais isso junto com a alegria.
Então passámos do teu alter-ego bad para alguém diferente.
BE: É uma outra coisa, o meu novo disco chama-se “frou frou” e frou frou é da da.
São as diversas fases de crescimento da tua vida?
BE: Sim, totalmente. Eu vou fazer 35 anos e sou outra Bárbara Eugénia.
E Bárbara Eugénia como é que para músicos como tu, que não são main stream, no Brasil?
BE: É difícil de viver de música. Eu sou tradutora também. Eu não sei o que leva a alguém a ficar mais bombado, eu sei que é difícil mas apesar disso, existe um núcleo duro de amigos compositores e artistas brasileiros que são muito integrados, como o Tatá aeroplano, Peripane, Anelis Assunção, Andreia Dias e estamos muito unidos a nossa música. A gente não ganha tão bem, não consegue a exposição que precisaria para viver da música, mas todo o mundo esta junto e a gente inventa e cria oportunidades e faz novos projectos conjuntos e é isso, a gente no Brasil tem de rebolar de alguma forma.
É por isso que fostes viver para São Paulo? Há mais oportunidades?
BE: Não eu fui para São Paulo, porque me separei mesmo. Nem era cantora.
Esta cidade tem um grande movimento cultural.
BE: Sim, todo o mundo acha isso, mas eu nem era cantora quando mudei para o São Paulo.
Mas, voltando aos teus amigos músicos e ao facto de serem um núcleo criativo, isso é também porque vocês não se encaixam no movimento da tropicália?
BE: Não, não, da tropicália totalmente nos encaixámos, a gente adora este estilo, mas não na música main stream brasileira de agora, que nada tem a ver com tropicália, nem bossa nova, ou coisas mais tradicionais, ou mesmo vanguardistas. A música do Brasil é outra, que nada tem a ver com a gente.
Em paralelo com este tens um novo projecto?
BE: Sim, tenho. Vou gravar um disco com o Tatá aeroplano para o ano que vêm.
Vais participar só com a voz ou também compões?
BE: Não é um disco nosso, como o Aurora é um disco meu com o Chancas. Este trabalho é um disco composto pelos dois, vai ser lindo e a gente virá para Portugal concerteza para fazer uma tournée linda.