É um trabalho de Mísia, lançado em 2005, inspirado na mãe da cantora.
É um disco cheio de “músicas” que a ajudaram a sobreviver quando a vida nos morre. É assim que Mísia define este trabalho na capa deste projecto muito sui generis, porque atravessa vários estilos musicais, varias línguas e que fala de poesia, de poetas. É uma homenagem as influências do hemisfério sul do mundo, que reflectem as origens ibéricas da cantora. É um caleidoscópio melódico, com tangos, boleros e fados que se fundem muito bem neste disco, porque falam do mesmo, da tristeza, da alegria, da vida, da morte, dos amores trágicos e dos momentos marcantes de toda uma existência. É uma miscelânea de sotaques e tons, em “fogo preso”, de Vasco Graça Moura, declamado por várias actrizes europeias. É um disco que fala da amizade, dos poetas e escritores que gentilmente cederam-lhe o seu tempo e o mais importante as suas palavras…José Saramago em o fado da “adivinha II”, “se a morte me despisse” de Natália Correia, “Cicatrizes” de Rosa Lobato Faria e “Se o nosso mundo anoiteceu” de José Luís Peixoto. É também um tributo aos músicos do sul, do outro lado do Atlântico, os míticos de sempre, Manzareno, Expósito e Piazzola. “Ese momento” e “te extraño” tem uma cadência única que só foi possível, graças a magnífica interpretação desta artista, que embora não seja muito valorizada no nosso país, é amplamente reconhecida e premiada além-fronteiras. Este disco é um compêndio de influências que vão ao encontro de todos os que gostam de música e que não pretendem ouvir um trabalho estanque que se limita a um único género, formatado e embalado para as grandes massas. Este Mísia pode não ser para todos, mas encerra em si todo o meridiano sul de um universo musical muito rico, variado, cheio de tonalidades quentes. São todos excelentes motivos para rever este meu preferido de sempre marcado pela diferença.