Quais são os pontos altos deste próximo festival?
RB: O festival ainda não esta fechado ao contrário do que é habitual. Tivemos de fazer ajustes de última hora, de modo que não divulgámos o programa completo. O que posso adiantar é que teremos os habituais concertos na Casa das Mudas, os after sessions na Estalagem da Ponta do Sol e há algumas actividades paralelas, desta feita com a Universidade da Madeira e a Aneurisma, é um workshop de arte generativa, na semana que antecede o início festival, depois temos uma exposição audiovisual. Esta última componente vai decorrer o centro das artes, no auditório, com quatro artistas madeirenses, o Jerome Faria, o Hugo Olim, o Carlos Valente e Victor Magalhães, vai decorrer entre os dias 30 de Novembro até dia 7 de Dezembro.
E os nomes em termos mundiais?
RB: Um facto relevante em termos da programação musical logo no primeiro dia, 30 de Novembro, uma parceria com a maior editora desta área, a comemorar 30 anos de existência, em termos da música não só mainstream, como da mais vanguardista, a “Touch”. Esta estrutura é nuclear nesta área e vai apresentar artistas que fazem parte desta editora. Vamos ter também o Mike Harding a dar uma conferência sobre o percurso da marca e de evolução musical, logo no primeiro dia do festival, considerado o aniversário da “Touch” e à noite ele irá assumir o papel de DJ na after session. Em termos artísticos não posso destacar nada ainda, é uma programação equilibrada com grandes nomes, não para o espectador comum, mas também para quem esta dentro desta área. Se antes este evento era uma forma de divulgação da música feita em computador ao longo destes dez anos houve uma transformação, é mais eclético, surge de uma necessidade da ilha dispor música alternativa. Este ano a programação reflecte várias tendências nesta área, música ambiental, improvisada, de “film recording”, ou seja, sons naturais, que depois misturam formando uma espécie de escultura sonora.
Em termos de músicos portugueses houve uma evolução, tem crescido em termos de participação, ao longo destes dez anos?
RB: Um dos objectivos deste festival foi não só trazer músicos estrangeiros de renome, mas sempre foi nossa preocupação dentro das nossas possibilidades proporcionar formação aos jovens da região. Há sempre um workshop que permite aos artistas interessados aprender alguma coisa, tem sido também fundamental na inclusão de artistas madeirenses, temos sempre duas vagas reservadas para os músicos nacionais, de preferência com um da Madeira no line-up. Este ano por acaso, não se apresenta pela segunda vez um artista local, a representação local será feita através da exposição. Temos dois aristas portugueses, um deles é veterano e prestigiado ao nível internacional com muitos anos de história na música alternativa avant-garde portuguesa, que é o Carlos Zíngaro, trás cá o seu trio mais um artista francês convidado e no último dia, iremos apresentar um projecto musical, sediado em Braga, chamado Palmer Eldritch, é um duo, que é construído pelo Miguel Guimarães dos Mãos Morta, um artista de renome e de um mais jovem. Portugal sempre teve alguma evolução nestas artes passa desapercebida infelizmente. O Carlos Zíngaro, basta citar o seu exemplo, faz música improvisada, com raízes no jazz há imensos anos, ele leva o nome do nosso país até lá fora, como outros. Há também emergentes, fruto das inovações das tecnologias, que se tem vindo a afirmar dentro e fora de portas. O que vejo nestes últimos anos, dez anos, é que a música portuguesa está de boa saúde e recomenda-se.
Em termos dos músicos madeirenses?
RB: Sendo a Madeira uma ilha, tudo passa pelo isolamento geográfico e pelo de facto de ser periférica. Com uma população de cerca de 200 mil pessoas, neste sector específico só uma pequena percentagem é que cultiva interesse por estas áreas, se numa cidade com milhões de habitantes esta tribo representa muita gente, aqui, a amostra deste universo é reduzido, não só em termos de público como de músicos. O panorama há dez anos atrás indicava meia dúzia de potencias artistas interessados, apenas um já dava os primeiros passos, estava a criar uma carreira fora de Portugal que é o Jerome Faria, na electrónica experimental. No vídeo tínhamos o Hugo Olim e outros de diferentes percursos, dez anos depois, continuámos com estas duas referências musicais, temos os mesmos interessados, mas que infelizmente não se podem dedicar em exclusivo a esta área. Contudo, já se constata que existe uma nova geração que cresceu com o festival, que espero tenha bebido essa influência e que comece a dar os primeiros passos. Há a perspectiva de criar um polo regional, e como agência cultural estamos dispostos a apoiar estes jovens e que no futuro possam fazer parte do alinhamento inicial do festival.