É um público mais informado?
MN: Não sei, acho que terá a também a ver com o facto de haver mais discos portugueses e músicos a tocar jazz. Quanto mais pessoas se formam, mais tocam. Há vários tipos de jazz, desde o mais diversificado ao mais vocal. Creio que também se tornou menos intelectual com o passar dos tempos, houve uma fase mais difícil e hoje em dia há de tudo um pouco. Isso leva que as pessoas vão procurar, ir até os clubes para ouvir essa linguagem e tem mais curiosidade por música mais complexa, mais instrumental.
Curiosamente em Portugal só se ouvem vozes femininas. Já te questionaste sobre o porquê deste fenómeno?
MN: Posso garantir que vai mudar. Já há alguns alunos Hot Club cantores e na escola superior de música já começam também a aparecer, acho que fazem muita falta. Não faço ideia porque é que é. O único que imagino é que seja por vergonha, mas espero que haja cada vez mais, a trabalhar e a gravar discos.
Quais são os nomes que influenciaram a vinda para música e que te marcam, que estão na tua base?
MN: Não são necessariamente de jazz, na base quando era mais jovem e comecei a ter meu próprio gosto, a Björk marcou-me muito. Ouvi o primeiro disco dela com doze anos, chama-se “début”. Foi o primeiro trabalho à solo. Marcou-me por ser muito original. Depois, há muitas vozes femininas que me influenciaram a Erica Badu, a Tory Amos, a Fiona Apple, que não são do jazz, mas para além de cantoras, são compositoras e instrumentistas. Descobri mais tarde a Elis Regina e redescobri a Ella Fiztgerald. Depois quando mergulhei no jazz, a Julie London, a Billie Holiday, a Sarah Vaughan, há muitas por onde escolher e também homens, o Tony Bennett.
Quando soubestes que querias ser cantora?
MN: Não sei, eu sempre cantei muito em menina e adolescente. Mas, eu cantava para mim e não sabia que as pessoas poderiam gostar de me ouvir. Aos poucos foi percebendo isso e fiquei muito contente. Creio que a pretensão de actriz começou primeiro, embora a música me acompanhe diariamente. Depois um amigo meu praticamente me obrigou a cantar num bar que tinha, aí começou um desejo muito maior de ser cantora.
E o teu lado de compositora, quando é que se começou a manifestar?
MN: Começou naturalmente, os músicos, pelo menos eu, queremos sempre improvisar e criar novas melodias. Sempre inventei canções, nem que fosse com os meus irmãos. A primeira coisa que compus foi para um disco que se chamava “PT Project”, que era uma projecção de novos talentos e no qual participei com amigo meu, porque foi obrigada. Para estar presente nessa colectânea, tinha que assinar um tema original. Depois quando estive em Nova Iorque, comecei a compor porque necessitava de exprimir sentimentos e emoções, a música era esse veículo, era vital, como forma relaxamento depois de um dia de aulas intenso. Sabia-me bem, acompanhava-me e era uma espécie de banda sonora da minha vida.