A música de Jorge Palma transcende várias gerações e por esse motivo continua a ser um dos artistas mais amados e como já se disse mais perdoado pelo público português. Um toque de genialidade natural que não reconhece, porque encara a música com um trabalho árduo, continuo, a pulso.
Em mais do que uma entrevista refere que a sua veia criativa provavelmente já passou, não acha que a maturidade e a experiência contam?
Jorge Palma: Acho que há fases em que não faço muito por puxar pela imaginação, porque há sempre coisas novas a acontecer, porque existem períodos mais produtivos do que outros. Mesmo quando escrevi a canção “uma página em branco” é um pouco a brincar com a imaginação, isso basicamente é trabalho. É só meter na cabeça que vou fazer um disco à maneira, mas as primeiras coisas vão para o lixo.
Então acha que ainda vai escrever o seu melhor álbum de sempre?
JP: A ideia é sempre fazer uma coisa boa. Acho que sim, porque vou reunindo muita informação, portanto a idade e a vivência ajudam...
Faz a perfeição?
JP: Não, não, eu não quero perfeição. (risos)
E dos discos que já editou qual é o reflecte melhor o artista?
JP: Isso é muito subjectivo. Eu gosto de todos por motivos diferentes, uns por motivos mais afectivos, outros por serem mais eficazes.
Como o “dá-me lume” que foi um sucesso junto da crítica e do público?
JP: Trata-se de uma colectânea. Foi muito bem organizada pelo Tiago Palma, meu filho, aliás, é a minha melhor colectânea, foi muito bem tratada e masterizada. A canção “dá-me lume” é daquelas que ficou junto do público e que é mais ou menos obrigatório tocar.
Sente que agora tem um novo público depois do aparecimento de “vôo nocturno” e de uma das canções ter feito parte da banda sonora de uma telenovela portuguesa?
JP: Essa verdade a gente não sabe, mas o “encosta-te a mim” foi um sucesso que ninguém estava à espera, não vale a pena fazer previsões. A verdade é que naquele verão de 2008 eu já não podia ouvir aquilo, era em todo o lado, na rua, no quartel dos bombeiros... (risos)
Acha que não tivesse feito parte da banda sonora da telenovela teria o sucesso que teve?
JP: Concerteza isso contribui sempre. Mas, o sucesso não vem de uma telenovela, nem dum disco em particular, resulta de muito trabalho, a pulso, depende de uma continuidade. Existem coisas que correm melhor inclusivamente nos concertos, há sempre uns melhores do que outros, por razões diversas, mas há um percurso muito sádio.
Abordando os concertos, há um tema emblemático que lhe pedem para tocar sempre?
JP: Depende. Há sempre umas bocas. (risos) Se essa canção estiver no alinhamento, se me sentir capaz de a tocar, toco. Mas, o que acontece muitas vezes é que acabo por tocar esses temas, porque esta no alinhamento, eu costumo fazer concertos grandes, mais de duas horas, nos concertos com o Ségio Godinho há mesmo muita música, que ultrapassa claramente essas duas horas.
Diz que nasceu músico, desde o quatro anos quando começou a tocar piano...
JP: Não tinha consciência disso, mas a verdade é que era.
Se não fosse músico o que teria sido?
JP: Já quis ser aviador, bombeiro (risos). Eu estudei com alguma convicção, ao princípio o curso de engenharia, gostava de ter acabado o curso porque gosto de matemática, física. Não me teria feito mal nenhum, mas a verdade é que o ambiente musical proporcionou-me muita actividade e não dava para conciliar as duas coisas.
Essa área da matemática tem influência na hora de compor?
JP: Acho que a matemática tem influência em tudo, no equilíbrio e funcionamento de uma melodia é fundamental.
E nas letras? Sei que um dos seus mestres foi o Ary dos Santos.
JP: Foi sim, ele deu-me as ferramentas para trabalhar, transmitiu-me confiança e foi muito importante aquele período de trabalho, era um ambiente de festa todos os dias, mas havia muito trabalho. Depois tenho outros mestres que nem sabem que o são, das coisas que eu ouço, agora morreu o Bowie. Eu quando gosto de uma canção, meto na cabeça que vou aprender a letra, estudo-a mesmo, não é só decorar, tento perceber como a pessoa escreveu aquilo e tento aprofundar o mais possível.
Para se ser um excelente músico, tem-se que ser um pouco melómano, ouvir muita música? Isso é importante para o processo?
JP: Havia períodos da minha vida que passava de manhã à noite a ouvir música, mas a ouvir com atenção. Neste momento nem tanto, mas tanto pode ser um Mozart, como o Tiago Bettencourt.
Isso é importante para o processo criativo?
JP: Quando gosto de ouvir, não gosto que haja conversa, com pessoas a mexer-se, ou a falar. Na minha adolescência e juventude habituei-me a isso, podia estar uma dúzia de pessoas, mas a gente ouvia, ninguém falava, estavámos a ouvir com muita atenção, eu gostava muito de retirar trechos de guitarra, baixo, bateria e piano para aprender.
Mas, ainda ouve muita música clássica?
JP: A minha mãe habitou-me a ouvir e em criança gostava muito de ouvir música clássica. Depois na adolescência virei-me para o rock, mas retomei os estudos, porque há compositores fantásticos, o Joahnn Sebastian Bach é uma sonoridade que não há como ficar completamente rendido.
Esta numa fase de concertos pelo país, inclusive com o Sérgio Godinho, mas tem algum projecto em vista?
JP: Projecto é esta digressão, mas com um fim que não esta a vista. Portanto é continuar. Tenho cada vez há mais trabalho e quero ver se gravo temas novos, esta-me a apetecer.