É um álbum feito de cumplicidades e amizades que cantam Sérgio Godinho.
Falar da música de Sérgio Godinho é o mesmo que falar de Portugal. Ele é cantautor do quotidiano comezinho, com as suas vivências, as suas fragilidades e as suas estranhezas. É também uma das vozes de Abril, das guerras camufladas e de uma juventude que respirava os primeiros sopros de liberdade, audível no dueto com outro companheiro de luta e amigo, José Mário Branco, em “que força é essa” e num registo mais recente a “balada da Rita” com David Fonseca. Este é também um álbum de afectos, que o próprio, define, como algo que faz “com o mais imenso prazer” e não porque “sou obrigado ao obrigado que vos devo”. Ainda bem. Tendo isso em mente, convidou uma série de músicos, cantores e instrumentistas, que generosamente e humildemente deram o seu cunho pessoal as suas canções. “Fotos de fogo” é cantado a duas vozes, o novo e velho fado encontram-se nas magníficas interpretações de Carlos do Carmo e Camané e claro, Sérgio Godinho. “Mudemos de assunto” com o incontornável Jorge Palma, “as tantas aos poucos foi percebendo, as tantas foi trauteando, as tantas foram conseguindo… uma outra narrativa”. E para animar os espíritos mais soturnos e perdidos em contemplações metafisicas, ouçam “dancemos no mundo”, com os clã. Seguindo o sendeiro de vozes femininas, recordo “a inesquecível” pelo seu registo vocal muito particular, a Teresa Salgueiro, que interpreta, o tema “ pode alguém ser que não é”. Finalizo com outro dueto de amigos de estrada, em “Barnabé”, com Vitorino, “quem vai ganhar vai vencer, mesmo que as esperanças sejam poucas”, o que tem o Sérgio que é diferente dos outros?