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O lírico

Escrito por 

Pedro Macedo Camacho é um jovem que divide a sua vida entre a engenharia e a composição de música para concertos e jogos. Aliás, é esta última actividade que lhe tem granjeado reconhecimento e alguns prémios ao nível internacional. Recentemente compôs um Requiem para Inês de Castro, interpretado pela Orquestra Clássica de Coimbra para coro, soprano e barítono.

Reparei que a tua carreira musical começou com bandas sonoras para jogos, como é que te surgiram essas oportunidades?

Pedro Macedo Camacho: Eu estudei composição clássica durante muitos anos e como gostava muitos de jogos, achei por bem criar banda sonoras para os jogos mais complexos, que necessitam mais do que uma mera faixa, porque envolve uma produção com equipas com mais de 100 elementos. São projectos mesmo em grande. Basicamente enviámos a nossa música, pessoas qualificadas ouvem-nos para o efeito e escolhem de um painel de 10 compositores de todo o mundo, os que tem qualidade para fazer uma demonstração, são novamente ouvidos e tomam uma decisão.

Como é que te candidatas, fazes uma pesquisa e depois envias os teus trabalhos?

PMC: Não, é convite por email. Ou porque de alguma forma eu os contactei para mostrar o meu portfólio, ou porque hoje em dia e já acontece ouviram falar de mim e decidem se pretendem contratar-me ou não.

Qual é o desafio que se coloca em termos musicais compor uma banda sonora para um jogo? É diferente de compor para um filme, por exemplo?

PMC: É igual, já fiz banda-sonoras para alguns filmes e para publicidade, mas dedico-me mais aos concertos e aos jogos. A única coisa em que diferem é que compor para um filme é linear, numa cena sei perfeitamente onde começa e acaba a música. Para os jogos nunca sabemos o que vai acontecer e o que o jogador vai fazer, porque é um sistema aberto, então temos de compor música para cada uma das possibilidade e criámos mecanismos para que a música se adapte ao jogador. Nunca sabemos como vai começar e como vai acabar. Temos de compor para cada uma das variáveis e para o pode acontecer.

Tens de jogar o jogo para perceber essa dinâmica?

PMC: Depende do projecto, uns tenho que jogar, outros basta uma descrição, um vídeo para que possa perceber qual é o ambiente e com a experiência adquirida já sei como tudo funciona.

Recentemente escreveste uma ópera.

PMC: Um Requiem para Inês de Castro.

Como é que surgiu esta oportunidade?

PMC: De uma forma muito engraçada e só soube muito tempo depois de escrever o Requiem. Foi através da banda sonora para um jogo, uma das faixas inexplicavelmente foi usada na telenovela “Passione”, o meu professor de composição Eurico Carrapatoso, (é graças a ele que sei o que sei em termos de composição e é provavelmente o melhor professor que alguma tive), enviou vários emails dando a conhecer esta situação e uma das pessoas que viu essas missivas gostou da minha música, também ele compositor e um ano depois a orquestra clássica de Coimbra sob a direcção artística do maestro Artur Pinho Maria perguntou-lhe se haveria alguém apto para escrever um Requiem para Inês de Castro para coro e orquestra e ele achava que eu era a pessoa indicada, apesar de ter escrito uma música direcionada para jogos. Mas lá esta eu não escrevo de uma forma mais simplificada para jogos, eu componho para um orquestra e coro na mesma, não olho para um jogo como um projecto menor, levo-o com o máximo da seriedade e as pessoas percebem que há técnica e foi a partir daí que o maestro ouvi a minha música e contactou-me. Escrevi o Requiem para orquestra, coro, soprano e barítono, ao todo cem elementos.

Foi a primeira vez que tivestes um concerto com esta magnitude?

PMC: Sim, foi a minha primeira obra de concerto e parece que houve grande aceitação.

O que trouxeste para esta obra em termos de composição?

PMC: O Requiem é muito complexo em termos de processo mental. Para cada acto, imaginei uma cena, uma situação.

Imaginastes em termos musicais a morte de Inês?

PMC: Sim, cada andamento é uma situação concreta, no primeiro, Dom Pedro se depara com a morte de Inês, o seu espanto e depois a sua revolta, há um coro de anjos, existe mesmo uma imagem associada a cada passo, muito simplificadamente.

O que sentistes quando ouvistes pela primeira vez o que passastes da tua cabeça para a pauta?

PMC: Foi uma situação muito engraçada, já estava à espera, obviamente. Sabia que ia ficar assim, mas há um gosto especial em ver as pessoas dedicarem-se ao máximo em termos de interpretação, foi fantástico.

Vamos falar da música em termos nacionais, achas que se valoriza a composição, os jovens compositores como tu, em Portugal?

PMC: Os valores são muito baixos, não vale a pena pensar, acho mesmo que é impossível equacionar uma carreira a tempo inteiro em termos de composição para concerto. Para compositor de media é preciso trabalhar muito e ter alguma sorte também, porque de outra forma é muito difícil. Portugal não tem tamanho suficiente para ter um mercado, nem dinheiro. Agora, um português a trabalhar em termos de composição requer um risco maior, mas é preciso pensar que estamos a concorrer para um projecto como resto do mundo, por exemplo, neste momento vou fazer uma apresentação contra o melhor da Dinamarca, da Grã-Bretanha, etc., na óptica do empregador, ou seja, estamos a concorrer com pessoas que estão mesmo a dedicar-se de corpo e alma para conseguir obter o projecto. Estamos sempre em competição o que é bom. Ao contrário de outras situações como músico, por exemplo, em que não estou a ser avaliado naquele momento, porque gosta quem quer. Quando componho para um jogo estou a ser avaliado em termos das minhas capacidades e criatividade e somos avaliados por compositores que sabem faze-lo, mas não tem tempo para determinado projectos, são os directores de áudio dessas empresas e ao contrário do que se possa pensar, eles não escolhem os amigos, ou por simpatia, eles elegem o melhor e são projectos que envolve muito dinheiro e se não for assim não vale a pena. O meu primeiro projeto, para playstation 3, aconteceu porque os compositores ingleses não estavam a dar conta do recado, foram despedidos e eu entrei. Não podemos desperdiçar um momento, a pessoa tem de ser perfeccionista ao máximo.

Gostavas de sobreviver só da música se pudesses? Deixavas a engenharia civil?

PMC: Não gostava. Gosto muito de fazer as duas coisas. Durante o dia faço a engenharia, sou engenheiro civil que é um sonho que tive desde criança. E também gosto de ser músico. A engenharia é boa, porque limpa a cabeça, é um mundo diferente e depois á noite tenho um espaço de três horas para compor, claro que não tenho 10 projectos num ano, tenho 3 no máximo e faço-os com muito coração.

Em termos de composição há um projecto que gostarias mesmo de fazer, que tens na gaveta?

PMC: Tenho um que estou a desenvolver com um amigo holandês, que trabalhou recentemente para o Sony e vou compor com ele um projecto de música electrónica, vai ser uma mistura de Massive Attack com as nossas influências de orquestra. Queremos mesmo fazer um CD que daqui a um ano tem mesmo de estar na rua. Vai ser diferente, não é trabalho discográfico para ser um hit, é sim, para um nicho de mercado. Agora tenho uma banda sonora para o “Alcatraz”, um jogo de aventura que parece um filme interactivo, que vai sair dentro de pouco tempo. Estou também envolvido num projecto de composição para jazz com a cantora Maria José Leal.

Tens alguma preferência em termos de orquestra para tocarem a tua música?

PMC: Não, para mim não há preferidos, mas faria muito gosto que a orquestra da Madeira toca-se o Requiem da Inês de Castro, porque é a minha primeira obra e queria mostra-la na Madeira. O maestro Rui Massena abriu a porta para essa hipótese, mas vamos ver.

E sonhas em ouvir a tua música numa grande sala? O Scala de Milão, ou o Albert Hall?

PMC: Não, há grandes auditórios hoje em dia. Claro que gostava de tocar no Scala, era super fantástico, agora, não é fácil de lá chegar. O que me interessa é que as pessoas ouçam e gostem da música e a disfrutem nas mínimas condições. O que interessa é a atitude dos músicos ao toca-la, a entrega e a musicalidade, quando eles se entregam o público sente a música de outra forma completamente diferente.

http://www.musicbypedro.com/

http://www.youtube.com/watch?v=MwFBQxg1eZM

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