Recentemente escreveste uma ópera.
PMC: Um Requiem para Inês de Castro.
Como é que surgiu esta oportunidade?
PMC: De uma forma muito engraçada e só soube muito tempo depois de escrever o Requiem. Foi através da banda sonora para um jogo, uma das faixas inexplicavelmente foi usada na telenovela “Passione”, o meu professor de composição Eurico Carrapatoso, (é graças a ele que sei o que sei em termos de composição e é provavelmente o melhor professor que alguma tive), enviou vários emails dando a conhecer esta situação e uma das pessoas que viu essas missivas gostou da minha música, também ele compositor e um ano depois a orquestra clássica de Coimbra sob a direcção artística do maestro Artur Pinho Maria perguntou-lhe se haveria alguém apto para escrever um Requiem para Inês de Castro para coro e orquestra e ele achava que eu era a pessoa indicada, apesar de ter escrito uma música direcionada para jogos. Mas lá esta eu não escrevo de uma forma mais simplificada para jogos, eu componho para um orquestra e coro na mesma, não olho para um jogo como um projecto menor, levo-o com o máximo da seriedade e as pessoas percebem que há técnica e foi a partir daí que o maestro ouvi a minha música e contactou-me. Escrevi o Requiem para orquestra, coro, soprano e barítono, ao todo cem elementos.
Foi a primeira vez que tivestes um concerto com esta magnitude?
PMC: Sim, foi a minha primeira obra de concerto e parece que houve grande aceitação.
O que trouxeste para esta obra em termos de composição?
PMC: O Requiem é muito complexo em termos de processo mental. Para cada acto, imaginei uma cena, uma situação.
Imaginastes em termos musicais a morte de Inês?
PMC: Sim, cada andamento é uma situação concreta, no primeiro, Dom Pedro se depara com a morte de Inês, o seu espanto e depois a sua revolta, há um coro de anjos, existe mesmo uma imagem associada a cada passo, muito simplificadamente.
O que sentistes quando ouvistes pela primeira vez o que passastes da tua cabeça para a pauta?
PMC: Foi uma situação muito engraçada, já estava à espera, obviamente. Sabia que ia ficar assim, mas há um gosto especial em ver as pessoas dedicarem-se ao máximo em termos de interpretação, foi fantástico.
Vamos falar da música em termos nacionais, achas que se valoriza a composição, os jovens compositores como tu, em Portugal?
PMC: Os valores são muito baixos, não vale a pena pensar, acho mesmo que é impossível equacionar uma carreira a tempo inteiro em termos de composição para concerto. Para compositor de media é preciso trabalhar muito e ter alguma sorte também, porque de outra forma é muito difícil. Portugal não tem tamanho suficiente para ter um mercado, nem dinheiro. Agora, um português a trabalhar em termos de composição requer um risco maior, mas é preciso pensar que estamos a concorrer para um projecto como resto do mundo, por exemplo, neste momento vou fazer uma apresentação contra o melhor da Dinamarca, da Grã-Bretanha, etc., na óptica do empregador, ou seja, estamos a concorrer com pessoas que estão mesmo a dedicar-se de corpo e alma para conseguir obter o projecto. Estamos sempre em competição o que é bom. Ao contrário de outras situações como músico, por exemplo, em que não estou a ser avaliado naquele momento, porque gosta quem quer. Quando componho para um jogo estou a ser avaliado em termos das minhas capacidades e criatividade e somos avaliados por compositores que sabem faze-lo, mas não tem tempo para determinado projectos, são os directores de áudio dessas empresas e ao contrário do que se possa pensar, eles não escolhem os amigos, ou por simpatia, eles elegem o melhor e são projectos que envolve muito dinheiro e se não for assim não vale a pena. O meu primeiro projeto, para playstation 3, aconteceu porque os compositores ingleses não estavam a dar conta do recado, foram despedidos e eu entrei. Não podemos desperdiçar um momento, a pessoa tem de ser perfeccionista ao máximo.
Gostavas de sobreviver só da música se pudesses? Deixavas a engenharia civil?
PMC: Não gostava. Gosto muito de fazer as duas coisas. Durante o dia faço a engenharia, sou engenheiro civil que é um sonho que tive desde criança. E também gosto de ser músico. A engenharia é boa, porque limpa a cabeça, é um mundo diferente e depois á noite tenho um espaço de três horas para compor, claro que não tenho 10 projectos num ano, tenho 3 no máximo e faço-os com muito coração.
Em termos de composição há um projecto que gostarias mesmo de fazer, que tens na gaveta?
PMC: Tenho um que estou a desenvolver com um amigo holandês, que trabalhou recentemente para o Sony e vou compor com ele um projecto de música electrónica, vai ser uma mistura de Massive Attack com as nossas influências de orquestra. Queremos mesmo fazer um CD que daqui a um ano tem mesmo de estar na rua. Vai ser diferente, não é trabalho discográfico para ser um hit, é sim, para um nicho de mercado. Agora tenho uma banda sonora para o “Alcatraz”, um jogo de aventura que parece um filme interactivo, que vai sair dentro de pouco tempo. Estou também envolvido num projecto de composição para jazz com a cantora Maria José Leal.
Tens alguma preferência em termos de orquestra para tocarem a tua música?
PMC: Não, para mim não há preferidos, mas faria muito gosto que a orquestra da Madeira toca-se o Requiem da Inês de Castro, porque é a minha primeira obra e queria mostra-la na Madeira. O maestro Rui Massena abriu a porta para essa hipótese, mas vamos ver.
E sonhas em ouvir a tua música numa grande sala? O Scala de Milão, ou o Albert Hall?
PMC: Não, há grandes auditórios hoje em dia. Claro que gostava de tocar no Scala, era super fantástico, agora, não é fácil de lá chegar. O que me interessa é que as pessoas ouçam e gostem da música e a disfrutem nas mínimas condições. O que interessa é a atitude dos músicos ao toca-la, a entrega e a musicalidade, quando eles se entregam o público sente a música de outra forma completamente diferente.
http://www.youtube.com/watch?v=MwFBQxg1eZM