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O outro mil dedos

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Um concerto de Júlio Resende é um festim para os sentidos. A forma como toca piano, em especial neste disco solo, remete-nos não só para a história do fado e um dos seus nomes maiores, a Amália, mas também para uma das referências da guitarra portuguesa, é como revêr o mestre Carlos Paredes, só que ao piano, passando os seus mil dedos pelas teclas de forma magistral. Simplesmente brilhante e a não perder.

Porquê três álbuns de jazz depois, decides fazer um disco só com músicas de Amália? E neste momento da tua carreira?
Júlio Resende: Eu não sinto uma descontinuidade, é um continuidade. É normal que um pianista após as tantas na sua carreira queira fazer um disco à solo. Na história dos pianistas há essa tradição. Eu também queria fazer o meu e o mais pessoal possível e nessa medida, me estava a envolver cada vez mais com o fado, era cada vez mais óbvio que conseguia pensá-lo sozinho e quando decidi fazer o álbum, lembrei-me que solo quer dizer terra e esta terra de onde venho que é Portugal, onde estava embrenhado e cada vez mais fazia sentido pensar num disco à solo a partir do fado e das canções que sabia de memória, que fazem parte da minha terra e que me foram ensinadas pela Amália ao ouvi-la cantar.

Como é que escolheste os temas e qual foi o processo para criar as pautas para a música?
JR: Sobretudo, eu queria aprender a tocar os temas como se os tivesse a cantar ao piano, ou seja, o piano é que canta e eu tento cantar com o piano. Eu não sou a voz, é o instrumento. A ausência das palavras neste projecto musical é uma coisa que tem de ser substituída, esta foi a parte mais difícil aprender as canções e cantá-las ao piano como se tivessemos ouvir uma voz. A segunda parte foi imaginar a minha viagem em torno desses mesmos temas.

No concerto, organizado pela sociedade de desenvilmento da Madeira, contudo, os temas tiveram uma certa sonoridade jazzística e de improviso.
JR: Claro, todo o concerto é improvisado na medida em que nada há nada escrito.

Então, todos os concertos são tocados de forma diferente?
JR: Sim, embora haja um arranjo e há a canções que todos conhecemos. Essas tento manter estáveis ainda que não seja repetida da mesma maneira. Eu, em breve, vou tocar num novo concerto e não sei o que vai acontecer. Sei que vou tocar alguns desses temas e que algumas serão perceptíveis, mas não tenho nada escrito, não sei como vai começar, vai ser no meio e como vai acabar. Nem prevejo, apenas tento deixar-me ir, mas há uma base que é o fado.

 

 

É difícil passar a guitarra portuguesa para o piano em termos técnicos?
JR: Não é difícil. A guitarra portuguesa construiu uma linguagem do fado que nos identificámos como a língua desse estilo musical português. Eu tentei assimilar o instrumento nesta minha performance e como eu penso o piano. Mas, a ideia não era imitar a guitarra porque é inimitável, cada instrumento tem as suas características, então, apenas me inspirei nela.

Olhando para os teus trabalhos discográficos anteriores, o que Solo te traz em termos pessoais?
JR: Eu acho que é o meu trabalho mais pessoal e o maior desafio que enfrentei e coloquei a mim mesmo e vou continuar a pensá-lo e em cada concerto exijo esse repto, porque é um modo de pensar este genéro musical, neste caso o fado, pouco visto, ou pouco pensado e nessa medida eu tive que pensar a partir do zero.

E daqui para frente?
JR: Tenho vários projectos, muitas coisas a meio termo, mas só gosto de falar quando tudo tiver pronto.

www.julioresende.com

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