É um álbum de regresso às origens da sua voz e a confirmação do seu talento como intérprete.
Dulce Pontes poderia ser descrita como a voz de Portugal. Ela encarna o espírito luso através da forma como interpreta a sua música e que é só comparável à Amália, pela expressividade e emotividade que impregna nas melodias que canta. Neste disco a cantora cobriu-se de barro, porque pretendia despir-se para encontrar a nudez do seu canto. O corpo é apenas um invólucro. Queria redescobrir a sua essência, a sua alma e a sua voz. É um álbum que pretende de ir ao encontro da origem de uma identidade musical, que sai em busca da natureza, dos quatro elementos, através de uma instrumentalidade inusitada. O tema “é tão grande o Alentejo” é disso um exemplo, se ouvirem com atenção, ao fundo ecoam um didjeridoo australiano, uma gaita-de-foles e o cante alentejano dos ganhões de Castro Verde, que geram um cruzamento de sonoridades pouco usuais. É a terra. A canção que dá título ao disco é um clamor ibérico, onde estão presentes todos os sons tradicionais e a que Dulce aufere ainda mais poder com o clarinete, os tambores e a conjunção de várias vozes. É dedicado ao Zeca Afonso, o cantautor de Abril e uma das suas referências musicais. A alma guerreira é um hino à sua irreverência como cantora e como artista em busca do seu fogo interior. Sem ti meu amor não vejo o céu/apaga-se a fogueira que esta dança guerreira em mim acendeu…Dulce, a guerreira, uma doce contradição. Ondeia, é a água e devo dizer que é um dos temas que mais emoção me causa, ouvem-se os sons do mar ao fundo e a sua voz cristalina remete-nos para esse mundo subaquático, repleto de mistérios, de ondas que se propagam indefinidamente, como a sua voz que se insinua, que flutua e ondeia nesta canção. É tão sublime e magnifico como o seu talento.