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Os saltimbancos alentejanos

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Os Virgem Suta apareceram no ano longínquo de 2009 em pleno Alentejo, mais concretamente em Beja, local de nascimento de dois rapazes, o Nuno e o Jorge, fofos e inspirados que decidiram desde tenra idade ser músicos. E, por deus que assim foi, e é com uma alegria e descontração contagiante que eles cantam e encantam pelas terras perdidas de todo o Portugal.

Vocês aparecem em 2009 e lançaram um novo álbum em 2013 como tem sido esse trajecto?
Jorge Benvinda: Tem sido um trajecto muito duro, de muita luta, mas muito prazeroso. Estes dois álbuns e cinco anos que se passaram obrigaram-nos a ser mais músicos ao fim ao cabo. Tivemos a aprender a com a repercussão, com toda uma série de coisas misturadas e experimentar. Depois esta jornada levou-nos para concertos mais pequenos em casa de pessoas e também muito grandes. Este ano estivemos no "mares vivas" a abrir o festival no palco principal, ou seja, todo este percurso tem sido entusiasmante e bom.

Nuno Figueiredo: Iniciou-se com muita vontade e sem muito saber. Agora estamos a adquirir conhecimento e a aprender ao longo do tempo, cada vez sabemos mais, também temos muito para aprender, mas estamos mais confiantes e isso permite-nos experimentar outras coisas que antes nem sequer nos aventurávamos a fazer.


Acham que o vosso enorme sucesso junto do público se deve ao facto de alguns dos vossos temas terem feito parte de banda sonoras de telenovelas e do prémio que ganharam recentemente, o globo de ouro.
NF: Eu não acho que as telenovelas tenham influenciado assim tanto, acredito que ajudam a divulgar a música, mas eu tenho ideia que o sucesso se deve ao nosso contacto com o público, os concertos que fomos dando. Já fizemos mais de 200 desde que começámos com o primeiro disco, e isso permitiu estar em frente de muita gente e cada vez temos mais público. Creio que é uma bola de neve crescente e acredito que as pessoas gostam, dizem aos outros e espalham a notícia. Temos crescido mais por aí do que propriamente pela divulgação, se bem que ajuda, mas não acredito que tenha sido o que nos catapultou.

JB: Tudo conta. O aparecer aqui e ali, a verdade é que temos de convencer os promotores quer queiramos quer não, se eles não ficarem convencidos que atraímos as pessoas, ou um concerto que crie satisfação, não apostam. Quem faz essa procura encontra nos virgem suta um bocadinho de festa, de divertimento e de uma boa gargalhada, mas também há sempre um olhar aguçado com o que se passa na sociedade, nós somos cidadãos deste nosso Portugal, estamos atentos e fazemos muita força neste lado. A musicalidade agrada tanto a nós que a fazemos como as pessoas que vão aos concertos e que nos promovem, conseguimos divulgar a nossa música, as nossas canções e ver como as pessoas reagem. Isso é muito importante.


Nas vossas canções, os virgem suta, abordam o quotidiano, mas nota-se uma certa preocupação social, isso sempre aconteceu desde o princípio?
NF: Somos pessoas como todas as outras, estamos atentos a todas as realidades e temos a vantagem de transpor para aquilo que fazemos o nosso ponto de vista. E não podíamos deixar de o fazer. As canções são sobre o que é bonito, mas também não podíamos deixar passar ao lado coisas que nos tocam mesmo sem querer, quer nas nossas vidas, quer na dos que nos rodeiam e faz parte do que vamos fazendo como compositores. Portanto, tudo isso nos influência e tem de transparecer nas letras.

JB: Uma coisa importante é que temos de ter capacidade de rir das nossas tristezas, dos nossos azares e dos problemas e é o que acontece com muita facilidade. As nossas inquietudes são afinal as das outras pessoas e do mundo. Se calhar falamos de nós, mas de uma forma geral e temos incutido coisas que sentimos, há alguma afinidade sem dúvida que existe. Nós, nem ninguém, podemos perder o espirito da capacidade de ironizar, de ser mais aguçado e dignos para dar a volta as desgraças.


Como jovens músicos começaram a vossa carreira graças as novas redes sociais que os catapultaram junto do público.
JB: Curiosamente não. O nosso percurso começa há 15 anos a trabalhar com um produtor e a tentar lançar um disco, quando mais ninguém ligava. Conhecemos o Helder Gonçalves e a Manuela Azevedo num festival em Gaia e eles ficaram muito interessados no nosso trabalho. A partir daí começámos a criar uma relação com o Helder, a mandar canções de Beja para o Norte, a fazer viagens até a Povoa e desenvolvemos uma relação estreita em termos musicais, de confiar, de direcionar, de aconselhar sobre as canções. Numa fase em que estávamos cansados e colocamos á questão de desistir de tudo, ele insistiu para ter calma e disse: vamos lá trabalhar o vosso primeiro álbum e sem grande pretensão fizemos a pré-produção. Depois conseguimos direcionar-nos para duas editoras, escolhemos a "universal music" e pronto e foi a partir daqui. Só depois de lançar o álbum é que começámos a aparecer, foi um trabalho seguido de muita produção e contacto com as pessoas em concertos.

 

Mas, o país trata bem jovem músicos como vocês, ou nem por isso?
JB: Se formos fofinhos o país trata-nos bem. (risos) O país é maravilhoso, mas esta miserável e sem dinheiro.

 

Mas, isso é actualmente. Mas, num todo?
JB: Num todo? Se queres saber, faço concertos há muito anos e ainda existe muita gente que prefere comprar um maço de tabaco do que um bilhete para um concerto, ou mesmo para a cultura, ou seja o que for. Mas, neste momento não podemos queixar-nos as pessoas tratam-nos com muito carinho nos nossos concertos, dirigem a nós, olham-nos com muito amor.

Estão já a preparar um novo trabalho?
JB: Estamos os dois e ainda não começámos a misturar as canções, mas o objectivo é lança-lo para o final do ano, mas se não conseguirmos preferimos o primeiro trimestre do próximo ano.

Então este novo projecto musical o que vai acrescentar em relação aos restantes trabalhos discográficos?
JB: Ainda não sabemos.

NF: Uma pessoa vai crescendo e como em tudo na vida tem de fazer sentido o que se vai fazendo todos os dias, é quase como me perguntares: estas vivo hoje, o que fizestes ontem? Nós acreditámos que estamos sempre a acrescentar, nós crescemos, vivemos mais coisas pelo mundo e sempre de forma diferente. Acho que vamos acrescentar isso, a nossa perspectiva do mundo e se calhar até se pode manter igual, é contudo, outro olhar, outra concepção da nossa realidade, porque de resto tudo se mantém igual. Nós somos pessoas exactamente iguais ao que erámos, excepto de que temos mais dias de vida, até mais experiência e sabedoria.


JB: O terceiro álbum só vai ser conceptualizado no final, porque somos dois, duas cabeças e nem todos os dias estamos da mesma forma, se respirarmos diariamente e formos fazendo música no quotidiano, temos algo mais diversificado, é a nossa forma de compor. Isso interessa-nos. Depois de olharmos para aquilo, acrescentamos, ou tiramos canções e só depois começámos a afunilar todo o trabalho, temos feito sempre assim. O nome do disco, o alinhamento, até a percepção de que surgem surpresas pelo caminho, como o "brinde a vós", só no final. Vamos fazendo o que nos dá na gana e depois vemos para que lado dá.

 

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