Então como criam as melodias, primeiro usam os instrumentos, ou surgem simultaneamente com essas misturas electrónicas?
O: Acho que começam nos instrumentos e terminam mais uma vez nos instrumentos, não misturámos nada electrónico. Usámos só o acústico e não misturámos nenhum aparelho para fazer o nosso som. Agora utilizámos instrumentos e rítmicas que também são usadas em termos de formato electrónico, ou seja, inspirámo-nos nessa atmosfera para construir a nossa própria música no formato acústico. E o processo criativo passa por fazer muitas escutas de música de dança e de "world music" e depois tentar reunir essas ramificações que existem e fazer linhas rítmicas inovadoras, diferentes, novas e originais.
Já editaram um primeiro álbum e agora tem em calha um segundo?
O: Temos um segundo trabalho intitulado simbologia.
Este novo projecto vai diferir muito em relação ao anterior?
O: Não vai diferir muito. Vamos ter linhas melódicas muito mais assumidas, a precursão vai estar baseada em melodias concretas. O primeiro disco não assumia essa característica, os sons eram sacados consoante os acordes da precursão e com didgeridoo. Este trabalho tem uma vertente mais espiritual, da primeira à décima terceira, cada uma delas representa um caminho no comprimento espiritual de cada individuo.
De cada pessoa que faz parte da banda?
O: Não, cada um que o escuta. Nós ao baptizar cada tema estamos a basear-nos em fórmulas matemáticas e no calibre espiritual de estádios que já foram estudados e practicados por mestres espirituais. A matriz para a composição de este disco é o calendário Maia, do povo que provém do México. Eles utilizavam as 13 luas e o tempo para eles era regular, um ano correspondia a 13 meses e oito dias em média, caracterizado por uma matriz que é o Zolkin. Os Maias encontraram um padrão no tempo em que conseguiram identificar 20 selos diferentes para cada registo e 13 tons que corresponde a cada lua, a combinação resulta em 260 dias, que são justamente nove meses, no fundo retrata da qualidade da energia que banha a terra em cada dia e eles conseguiram categoriza-la.
Como transpões todo esse universo para a música?
O: Esse universo na música aparece através da fórmula matemática da onda encantada. Para os Maias correspondia ao elemento 13, 13 dias, 13 semanas, 13 anos, 13 Zolkins que é doze mais um, uma simbologia sagrada para muitos povos e crenças holísticas. Eles achavam que a onda encantada estava nesses 13 elementos, que começava no dia 8 de Março e ia 13 dias à frente até chegar ao dia 25 de Julho que era o ultimo dia do ano e o dia seguinte é o primeiro de um novo ano. Cada dia da onda encantada é um degrau, um estádio no caminho espiritual, nesse dia tem haver uma reflexão específica para o nosso crescimento pessoal. No primeiro dia reflectimos sobre o propósito que nos inspirava. É uma reflexão universal e que na nossa música as pessoas podem ou não identificar. Nós fizemos melodias com propósitos matemáticos que nos inspiram esses temas. O segundo dia da onda espiritual é a rectidão. A melodia serve como base para que uma pessoa possa fazer uma meditação activa, não passiva, pode estar a mentalizar essa rectidão e esta a avançar em termos de conceptualização do seu propósito. Terceiro, fizemos uma melodia para o serviço, que é outro estádio, como posso estar disponível para cumprir esse meu propósito? E fazer tudo isto com rectidão e de forma eximia. O quarto será a definição, definir tudo o que vai encontrar no contexto e assim sucessivamente.
Então cada um dos temas é um dos 13 estádios?
O: Sim, até atingir a transcendência.
Aconselhas então na capa do CD as pessoas a começarem pelo primeiro tema?
O: Sim, nos conduzimos as pessoas para que assim seja, mas existe o livre arbítrio e nós aceitámo-lo totalmente e podem começar do último para o primeiro. Cada um é que sabe o seu caminho. Este é o que nós construímos em termos de obra artística e as pessoas podem seguir à risca e encararem qual é o sentimento do artista quando compôs aquela obra, tanto é assim, que as músicas têm uma ligação umas com as outras. Em palco tocámos os temas todos seguidos para ver qual o feedback das pessoas, o que perfaz um total de 35 minutos de música. Temos muita escola em termos musicais, somos pessoas que foram até esses países para se formarem, o baterista, o Xoben, foi até Cuba para aprender a dominar a técnica da bateria cubana que é muito difícil. O Magupi, o nosso percussionista esteve em África mais do que uma vez, para aprender os diversos elementos africanos. O nosso conhecimento é genuíno, não vêm da internet.
Porquê "olive tree dance", por se tratar de uma árvore milenar?
O: Nós somos portugueses, fazemos música instrumental com raízes em Portugal. Somos também considerados música portuguesa, só que somos avant-garde na forma de o fazer e não usámos uma forma convencional de criar melodias. A oliveira existe em Portugal e nós utilizámos instrumentos feitos em madeira e tudo tem um elemento orgânico e natural. O "olive tree" também ramifica e convida outros artistas a tocarem com eles, fundimos com outras bandas, o que torna a nossa música mais rica, daí a lógica. A nossa raiz também é universal, porque queremos tocar nos palcos do mundo e não apenas de Portugal e cá já fizemos muito serviço. Até usámos ritmos tradicionais portugueses que são traduzidos de outra forma, porque é feito por jovens que pensa de outra maneira, fora da caixa, que sai de um esquema que já está muito batido. O nosso objectivo é extravasar esse convencionalismo e fazer música que desperte emoções nas pessoas. Esse é a nossa grande motivação extra para fazer concertos e muitas vezes as pessoas vêm ter connosco no fim para perguntar o que isto?
Já realizaram concertos até na Austrália, não?
O: Como grupo não, tenho é participações como músicos australianos. Mas, já tocámos em vários sítios, estivemos na Índia, um pouco pela Asia e 3 meses no Brasil.
Qual foi a percepção deles em relação ao vosso som?
O: Foi extraordinária a recepção. Mostrou quão avant-garde erámos, porque ficaram fascinados com a nossa sonoridade.
É uma música transversal, porque qualquer público a entende?
O: No início o público português ficava atónito a olhar para nós, pareciam esquisitos, nem percebiam que era para dançar. Mas, como nos viam executar as melodias de forma rápida e exímia, diferente, os espectadores ficavam colados a nossa execução. Tivemos cerca de um ano a mostrar o nosso trabalho, em 40 concertos, e não a mostrar serviço. Queremos que as pessoas saltem fora do seu contexto, porque nós também saltámos fora do nosso instrumento, não pensámos só na música, pensámos no corpo, na nossa mente e entrámos em transe. Não ficámos apenas a executar enquanto as pessoas dançam, a nossa música é genuína. Cada concerto é um momento para nós e isso nota-se nas frequências que tocámos, porque estamos a abrir uma conceptualização nas pessoas que nos ouvem, que vão fervilhar e sentir essa energia. Queremos inspira-las, tanto o fizemos que em 4 anos já existem bandas inspiradas na corrente dos "olive tree dance".