E quando as pessoas te abordam sobre os temas e acabam por exprimir algo que nada que tem a ver com o que escreveste, gostas dessa multiplicidade de ideias?
CA: Na verdade gosto, de sentir que as nossas canções e as nossas letras acima de tudo possam levar as pessoas a pensar, o que é isto? É transporta-las para realidades diversas e nesse sentido as pessoas tem de ter a liberdade de construir as realidades como as vêem. Qualquer um de nós quando lê um texto vai interpreta-lo de forma diferente, por isso, é que existem diversos pontos de vista e a música tem essa particularidade de abrir um campo de possibilidades tão grande aos que estão a ouvir que lhes permite prazeres diferentes. É verdade que as nossas letras são mais abstractas, é a minha maneira de escrever, uns poderão gostar mais e outros menos, mas eu acho que é uma experiência interessante poder tentar perceber o que quis dizer e experimentar aquela letra ligada aquela música em ambientes diferentes e acho que isso faz todo o sentido.
Fala-me do novo álbum, com a experiência que tem não só em palco, mas também pelo facto de já terem editado um disco, o que este novo trabalho traz de diferente em relação ao anterior?
CA: Este último álbum é particular.
Em que sentido?
CA: Estas canções foram crescendo à medida que as tocavámos, e antes de serem álbum, foram sendo tocadas ao vivo na tournée que realizámos posteriormente à saída do disco anterior e quase como um convite perguntaram-nos se não queríamos pegar nessas músicas e fazer um álbum com elas e depois começar a trabalhar num terceiro álbum do zero, que seria uma experiência nova. Aceitámos o desafio e construímos este trabalho com as canções que achámos que eram interessantes e se ouvir com atenção este é mais calmo, mais centrado nos ambientes e tudo teve a ver com esse crescimento ao vivo.
Como intitularam esse novo trabalho?
CA: "De um tecto igual a nós", posso explicar o título, nós construímos uma sala de ensaios, onde também guardámos as ofertas de alguns amigos, coisas que tínhamos oferecido uns aos outros, as imagens da nossa tournée e como alguns dos temas foram gravados nesse espaço, sob esse tecto, achámos que fazia todo o sentido para o segundo álbum. Foi um trabalho lançado em 2013.
Qual foi o feedback?
CA: Ao contrário do disco anterior, este trabalho não foi lançado através de uma editora, actualmente há uma grande facilidade de fazer este trabalho pessoalmente, queríamos ter mais "mão" em tudo e na verdade foi uma experiência fantástica, porque conseguimos juntar todos aqueles amigos que fomos ganhando ao longo desta viagem que é a música, são músicos que quiseram participar nesta construção até como artistas na capa e todos reagiram bem a este álbum. Neste momento estamos parados, uma vez que, o meu irmão foi pai, é o baixista, e pediu-nos um tempo para organizar-se. Estamos já a preparar algumas surpresas para os concertos ao vivo, realmente um dos poucos sítios de Portugal onde nunca fomos tocar foi à Madeira, esperámos um convite um dia destes.
É um EP?
CA: Não definimos muito os nossos trabalhos, tem cerca de 35 minutos, era o ideal, as músicas ideais, mais não queríamos, menos também não, damos a possibilidade de o ouvirem gratuitamente, de fazerem o seu download e depois darem a sua opinião.
O "homem mau" tem um percurso de 10 anos, olhando para atrás o que pensas sobre tudo isso?
CA: Estes 10 anos passaram a correr basicamente, quase não o sentimos, tem sido uma experiência fantástica que quase se dilui nas nossas vidas, faz parte delas, as canções, os concertos e já tocámos em palcos que nunca sonhámos. Fazemos música por amor, o tocar com as figuras que tocámos e passar por Portugal inteiro e sobretudo, podermos expressar na forma de arte que escolhemos, fazer com que as pessoas nós vão ouvir e sentir a gratidão por aquilo que fazemos isso faz-nos obviamente felizes.
E Portugal gosta dos seus músicos?
CA: Portugal somos nós e os músicos também. Não gosto de ser fatalista e dizer que o país não é bom para os artistas, nós temos esta cultura e temos de viver com ela, os músicos tem de fazer aquilo de que gostam e na minha opinião quando se faz o que se gosta não se tem de estar a queixar. Somos felizes, podíamos ter mais? Se calhar.
Quando pretende lançar o terceiro álbum?
CA: Nós somos pouco certos em datas. Poderei dizer que sairá no próximo ano e se calhar vou falhar a previsão (risos).