Tiveram várias parcerias, nomeadamente com o Bernardo Sassetti e com a Manuela Azevedo, como é que surgiram estas oportunidades?
JF: Nós pensámos em pessoas com quem gostaríamos de trabalhar, desde o primeiro disco com a Ana Deus e o convite foi feito da mesma forma.
Mas, vão buscá-los por oposição em termos musicais é isso?
AC: Sim, o interesse é esse. Pelas duas coisas chocar e ver o que acontece, porque torna-se menos previsível o desfecho e é o que nos interessa, porque se quissermos fazer algo onde tivessemos muito controle fazíamo-lo nós. Gostámos de entregar-nos a outra pessoa e ver como é que ela interpreta aquilo que fazemos.
E o que acharam do Bernardo e da Manuela?
AC: Foi horrível de uma forma geral! (risos). Claro que não, foi óptimo. No caso do Bernardo Sassetti tratava-se de um músico extraordinário, foi super simples de falar com ele e mais apreciar o nosso amadorismo da altura e ver que ele foi espectacular. Com a Manuela trocámos uns emails e nos primeiros takes estávamos boquiabertos, ela fez mais do que um, por iniciativa própria e apenas e só por descargo de consciência, mas nunca se notou a diferença. É excelente trabalhar com essas pessoas, porque põem-nos no lugar e dão uma riqueza nova ao tema.
Estão a pensar em continuar esse tipo de experiências e já pensaram no nome de outras pessoas com quem gostariam de colaborar?
JF: Não sei, neste último trabalho “peixe:avião” não o fizemos porque não sentimos que fosse necessário. Fizemó-lo no passado porque fazia sentido e não porque sim.
AC: Este trabalho acabou por ser um bocado um retorno às raizes, respondendo a uma pergunta que não feita (risos). Foi a primeira vez em oito anos que fizemos o que é normal as bandas fazerem numa primeira fase que é estar em conjunto e descobrir um som, foi algo que nunca tinhámos feito na verdade apesar de tocarmos e nos conhecermos musicalmente muito bem. Se calhar é por isso, que resultou nesse trabalho. Uma vez que foi feito pelos cinco juntos, lançado pela editora que criámos, tudo feito por nós, apesar de ser o terceiro foi mais o “do it yourself” e nesse sentido é bom não termos tido nenhuma participação, somos só os cinco e o disco chama-se peixe: avião, porque somos assim.
Quando começaram a trabalhar os vossos primeiros álbuns tinham a noção que estavam a fazer algo diferente em termos musicais?
JF: A nossa música não é muito diferente de muitas bandas do panorama português, ou europeu e americano. Temos a particularidade de termos um certo som e cantarmos em português. Dentro disso, temos de ter personalidade e fazer algo que fosse distinguível e agora já não existe apenas um som, obtemos várias sonoridades distintas da banda ao longo da carreira, talvez actualmente o que temos é o mais característico de todos, muito provavelmente.
Qual é o disco que vós define como banda?
JF: É o último. O homónimo.
E termos do próximo passo, já consideraram a internacionalização deste som português.
JF: Nunca pensámos muito nisso.
AC: Acho que é mais importante aprofundar o nosso mercado, o público português.
Mas, há público português espalhado por todo o mundo.
AC: Sim, mas que acaba por chegar um bocadinho cá. Organizar uma tournée lá fora junto das comunidades portuguesas é complicado porque é um público disperso e é preciso que seja nosso público, ou seja, a fatia da audiência que gosta do peixe:avião é demasiado pequena. Na verdade nunca pensámos muito nisso com esta banda, porque cantámos em português e faz sentido o que fazemos cá. Se surgir fantástico obviamente, não vamos recusar, mas se calhar o nosso campo de acção é mesmo Portugal, pelo menos para já.
E em termos nacionais, Portugal gosta muito dos seus músicos alternativos? Tem noção que fazem esse tipo de som?
AC: Sim, claro. E acho que há mais abertura desde uns dez anos a esta parte para a música feita em Portugal. Mas, para a música independente e alternativa há mais, acho que existe mais vozes críticas na música, é mais fácil essas bandas se mostrarem e até as rádios as apoiam. Acho também tem a ver um pouco com a crise os próprios parceiros que apoiam concertos e pequenos festivais tem uma maior noção que existe qualidade no nosso país e que não é preciso sair, estar a gastar 15 vezes mais para trazer um artista que cante um festival inteiro, é possível ter boa música nacional. Acho que existe muito boa música feita no nosso país.
JF: De qualquer maneira há mais caminho para percorrer. É preciso criar mais públicos para a música independente que fazemos e que as outras bandas fazem. Muitas pessoas despertaram para isso, não só para as bandas portuguesas, mas também para outras mais internacionais do genéro. Acho ainda que, há um peso muito grande daquilo que se poderia chamar genericamente música comercial, muitas pessoas ainda não sabem que a música alternativa existe e que o nosso mercado pode-se expandir ainda mais.