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Os índios do avião

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Os peixe:avião são um grupo indie de rock alternativo que encontrou a sua sonoridade própria ao longo de vários anos de carreira.

O vosso primeiro álbum foi um sucesso em termos de críticas ao nivel nacional, depois lançaram o “Madrugada”, no qual decidiram escrever as músicas todos juntos em vez de isoladamente, decidiram fazer isso porquê há um maior peso neste segundo trabalho já que o primeiro foi muito bem acolhido?

José Figueiredo: Entretanto lançámos um terceiro que é o homónimo que é o peixe:avião. É esse que te estas a referir?

Sim.

André Covas: Não teve a ver com o peso da recepção dos álbuns anteriores. Teve incialmente a ver com uma certa maneira de trabalhar característica e nós queríamos fazer algo diferente. A única forma que encontrámos de garantir que faríamos algo assim e maior era começar logo pelo trabalho de composição. O não estarmos em casa a pensar em melodias e partilharmos isso com outros, mas em vez disso, irmos todos para o estúdio, para a sala de ensaios, sem pensar e só fazer música, era uma maneira de garantir que íamos fazer algo diferente. Não tem a ver com o peso da crítica tem a ver com o facto de querermos fazer algo novo.

Em termos melódicos o que distancia o homónimo, peixe:avião, dos trabalhos anteriores? Parece haver um maior amadurecimento em relação aos discos anteriores.

AC: Sim, esta forma de trabalhar que nos auto-impusemos acabou por trazer outras coisas imediatas ao resultado musical do disco e que era também algo que desejavámos fazer construções harmónicas e melódicas mais simples, não tão complexas como o “Madrugada”, ou o “40.02”. Nesse primeiro álbum notou-se um crescimento de complexidade que quissemos contrariar neste trabalho e o facto de estarmos sempre juntos, os cinco a compor, porque quando se esta em casa isso acaba por conceder uma liberdade que é um pouco perversa, por ser se calhar excessiva, estamos com o computador, ou com o instrumento à frente e podemos gravar 40 instrumentos à vontade, depois podemos aplicá-los a um disco e adaptá-los para tocar ao vivo. Mas, como neste trabalho quissémos os cinco compôr ao mesmo tempo, nunca havia mais do que cinco coisas a acontecer e isso faz com que haja composição mais despida, faz com que seja mais essencial e não decorada, ou trabalhada com outras camadas por cima. O resultado final é mais conciso nos arranjos e mais simples na composição em si e depois o facto de estarmos a trabalhar com instrumentos e não com o computador, estámos a compor com o que é o resultado final fez com que trabalhassemos melhor o som, plasticamente, o álbum é mais duro, mais cru, porque somos menos, pegámos nas guitarras e tocámos com amplificadores. Todos esses aspectos fizeram com que o foco seja especial e isso faz com que o disco seja mais aberto do que os anteriores.

Em relação as letras, como é que funciona em termos de processo criativo, pelo que me apercebi primeiro trabalham o som e só depois acrescentam as letras. É difícil compor em português para este tipo de sonoridades ou não?

JF: Se calhar é mais difícil para o Ronaldo Fonseca.

AC: Sim, é mais difícil. Ele tem essa missão solitária de escrever as letras nas composições que entregámos-lhe em mão e acho que nunca dissemos que nunca gostámos.

JF: Podemos fazer algumas sugestões, mas as letras são o seu departamento.

AC:Acho que houve fases mais difícies e que lhe podemos chamar de falta de inspiração, que é algo muito complexo, mas ele vai tendo essa luta pessoal e fazendo esse caminho. Para nós é muito mais simples, fazemos o que nos apetece e dizemo-lhe safa-te rapaz!

JF: Já fizemos várias músicas, não em letras, mas em melodias vocais. Mas, de facto o processo é de composição para a letra e nunca interpretámos as letras dele com música.

Tiveram várias parcerias, nomeadamente com o Bernardo Sassetti e com a Manuela Azevedo, como é que surgiram estas oportunidades?

JF: Nós pensámos em pessoas com quem gostaríamos de trabalhar, desde o primeiro disco com a Ana Deus e o convite foi feito da mesma forma.

Mas, vão buscá-los por oposição em termos musicais é isso?

AC: Sim, o interesse é esse. Pelas duas coisas chocar e ver o que acontece, porque torna-se menos previsível o desfecho e é o que nos interessa, porque se quissermos fazer algo onde tivessemos muito controle fazíamo-lo nós. Gostámos de entregar-nos a outra pessoa e ver como é que ela interpreta aquilo que fazemos.

E o que acharam do Bernardo e da Manuela?

AC: Foi horrível de uma forma geral! (risos). Claro que não, foi óptimo. No caso do Bernardo Sassetti tratava-se de um músico extraordinário, foi super simples de falar com ele e mais apreciar o nosso amadorismo da altura e ver que ele foi espectacular. Com a Manuela trocámos uns emails e nos primeiros takes estávamos boquiabertos, ela fez mais do que um, por iniciativa própria e apenas e só por descargo de consciência, mas nunca se notou a diferença. É excelente trabalhar com essas pessoas, porque põem-nos no lugar e dão uma riqueza nova ao tema.

Estão a pensar em continuar esse tipo de experiências e já pensaram no nome de outras pessoas com quem gostariam de colaborar?

JF: Não sei, neste último trabalho “peixe:avião” não o fizemos porque não sentimos que fosse necessário. Fizemó-lo no passado porque fazia sentido e não porque sim.

AC: Este trabalho acabou por ser um bocado um retorno às raizes, respondendo a uma pergunta que não feita (risos). Foi a primeira vez em oito anos que fizemos o que é normal as bandas fazerem numa primeira fase que é estar em conjunto e descobrir um som, foi algo que nunca tinhámos feito na verdade apesar de tocarmos e nos conhecermos musicalmente muito bem. Se calhar é por isso, que resultou nesse trabalho. Uma vez que foi feito pelos cinco juntos, lançado pela editora que criámos, tudo feito por nós, apesar de ser o terceiro foi mais o “do it yourself” e nesse sentido é bom não termos tido nenhuma participação, somos só os cinco e o disco chama-se peixe: avião, porque somos assim.

Quando começaram a trabalhar os vossos primeiros álbuns tinham a noção que estavam a fazer algo diferente em termos musicais?

JF: A nossa música não é muito diferente de muitas bandas do panorama português, ou europeu e americano. Temos a particularidade de termos um certo som e cantarmos em português. Dentro disso, temos de ter personalidade e fazer algo que fosse distinguível e agora já não existe apenas um som, obtemos várias sonoridades distintas da banda ao longo da carreira, talvez actualmente o que temos é o mais característico de todos, muito provavelmente.

Qual é o disco que vós define como banda?

JF: É o último. O homónimo.

E termos do próximo passo, já consideraram a internacionalização deste som português.

JF: Nunca pensámos muito nisso.

AC: Acho que é mais importante aprofundar o nosso mercado, o público português.

Mas, há público português espalhado por todo o mundo.

AC: Sim, mas que acaba por chegar um bocadinho cá. Organizar uma tournée lá fora junto das comunidades portuguesas é complicado porque é um público disperso e é preciso que seja nosso público, ou seja, a fatia da audiência que gosta do peixe:avião é demasiado pequena. Na verdade nunca pensámos muito nisso com esta banda, porque cantámos em português e faz sentido o que fazemos cá. Se surgir fantástico obviamente, não vamos recusar, mas se calhar o nosso campo de acção é mesmo Portugal, pelo menos para já.

E em termos nacionais, Portugal gosta muito dos seus músicos alternativos? Tem noção que fazem esse tipo de som?

AC: Sim, claro. E acho que há mais abertura desde uns dez anos a esta parte para a música feita em Portugal. Mas, para a música independente e alternativa há mais, acho que existe mais vozes críticas na música, é mais fácil essas bandas se mostrarem e até as rádios as apoiam. Acho também tem a ver um pouco com a crise os próprios parceiros que apoiam concertos e pequenos festivais tem uma maior noção que existe qualidade no nosso país e que não é preciso sair, estar a gastar 15 vezes mais para trazer um artista que cante um festival inteiro, é possível ter boa música nacional. Acho que existe muito boa música feita no nosso país.

JF: De qualquer maneira há mais caminho para percorrer. É preciso criar mais públicos para a música independente que fazemos e que as outras bandas fazem. Muitas pessoas despertaram para isso, não só para as bandas portuguesas, mas também para outras mais internacionais do genéro. Acho ainda que, há um peso muito grande daquilo que se poderia chamar genericamente música comercial, muitas pessoas ainda não sabem que a música alternativa existe e que o nosso mercado pode-se expandir ainda mais.

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