Este o 13º disco, com um número ligado ao azar foi de propósito ou não? Ou apenas havia material para mais um trabalho trabalho discográfico?
ALC: Nem sabia que era o 13º, nem tenho a certeza, porque temos muitos discos que dependem da forma como os contámos. Se incluirmos os álbuns de estúdio este não é o décimo terceiro, se contarmos os discos com originais também é capaz de não acontecer o mesmo, de maneira isso nem esteve nas nossas contas, nesses recenseamentos feitos pelos meios de comunicação social as coisas variam e é difÃcil de saber que disco é.
Os "Mutantes S21" foi considerado um dos melhores álbuns feitos em Portugal no perÃodo dos anos 90, é esse também o vosso melhor trabalho? O que os define como banda?
ALC: É um dos nossos grandes discos efectivamente, que nos trouxe de um patamar underground e de difÃcil sobrevivência para um outro, para estar mais à vontade em termos de carreira e do que nos apetecia fazer, sem ter problemas de encontrar eco, ou visibilidade. Portanto, é um álbum importantÃssimo para nós, dentro do género rock foi a primeira vez que se fez algo com aquele esplendor e por isso foi considerado o tal disco marcante dos anos 90, mas não acho que seja o nosso melhor trabalho. Posteriormente temos trabalhos discográficos que considero que não sendo melhores, são diferentes e estou a lembrar-me por exemplo, "Há já muito tempo que nesta latrina o ar se tornou irrespirável", que é um disco fabuloso, é o nosso trabalho mais conceptual e que muita gente considera o nosso melhor álbum. Estou também a recordar-me do "primavera de destroços" que é um disco sem conceito e sem tema, é um trabalho com canções soltas e que funcionou muito bem e que muita gente também considera ser o nosso melhor. No fundo, existem muitos discos bons dos mão morta posteriormente aos "Mutantes S21" e mesmo anteriormente, estou agora a lembrar-me do "corações felpudos" que é muito diferente, muito mais com guitarras. Mas, de facto esse tornou-nos mais conhecidos, por culpa do "Budapeste", o tema extraÃdo desse álbum, mas de longe não foi o disco que se vendeu mais, foi o 27º do top de vendas.
Consideram-se narradores da decadência e este é mais um capÃtulo?
ALC: Eu acho que é redutor, também narrámos a decadência. Mas, não somos só isso, questionamo-nos a nós próprios e a nossa relação enquanto indivÃduos, Adolfo, Miguel, Rafael, seres sociais nesta relação com o mundo em que vivemos. Esse questionar para nós também serve para o outro e é isso que fazemos. Narrámos e colocamo-nos nessa situação,de um mundo decadente, mas que serve sobretudo para perguntar-nos, pensarmos no que queremos que seja uma sociedade melhor, não é decidir se é perfeita ou não, não pretendemos dar respostas, queremos levantar questões e perguntas e assim procurar em cada um nós essas respostas e quando dizemos nós falámos do nosso grupo, mas também as pessoas que ouvem mão morta e gostam da nossa música, para sentirem o que é ser português, ser social num mundo moderno, num universo capitalista.
Nos concertos vemos todo o tipo de pessoas, desde a geração que vós acompanha desde o inÃcio até os mais jovens. Essa vossa mensagem é intemporal porque atinge vários patamares de portugueses?
ALC: É uma constante que vemos com bastante agrado e efectivamente nós chegámos a poucas pessoas racionalmente, mas a quem chegámos normalmente ficam connosco, ou seja, não somos um fenómeno de moda, quem nos conheceu nos anos oitenta fica a grosso modo connosco, os que nos conheceram nos anos 90 ficam também e que ainda os que nos ouviram em 2000 também permanecem e assim sucessivamente, até que fomos apanhando várias gerações ao longo dos anos. É uma constante dos concertos, vemos pessoas com a nossa idade dos 50 aos vinte anos de idade, portanto isso acaba por ser transversal. É evidente que são minorias entre gerações que se vão acumulando, é interessante, não é um fenómeno palpável noutras formações de rock ou não.