Dos músicos, o Jorge Dexler, como surgiu essa parceria e como se encaixa neste trabalho?
SF: Essa parceria começa no dia em que ouvi “a idade do céu” que é uma das canções que eu tenho neste disco, que é dele e ouvi a letra e pensei, gostava de ter sido eu a escrever esta letra (risos). Pensei ainda que gostava de gravar esta música, porque para mim faz sentido. Entretanto, fiz um contacto com o cantante uruguaio, Jorge Dexler, que já ganhou um óscar por melhor banda sonora, depois tive a felicidade dele ter ficado muito contente por eu ter vontade de cantar esta canção ao ponto de cantá-la comigo neste disco. A música aparece em dueto com o autor da canção e foi um momento muito bom e muito feliz, porque é a partilha, é óptimo quando percebemos que músicos como ele, que tem uma carreira mais do que consagrada no mundo inteiro, tem a generosidade de se entusiasmar com um dueto, com uma música num disco meu, foi um momento de grande partilha como músicos de uma forma saudável e natural.
Este novo trabalho o que acrescenta em relação aos anteriores? Porque há sempre esta comparação quase que inevitável com o teu álbum anterior muito marcante que é o “índigo”?
SF: O “índigo” foi um álbum muito marcante principalmente da forma como foi feito e é muito importante para mim, porque foi o disco em que comecei a escrever as letras, ou seja, já compunha, mas quando começo a traduzir toda a minha linguagem por palavras, que é mais directa com as pessoas e comigo, é natural que a roupa me servi-se melhor. Daí acabou por acontecer e ser um disco marcante, era muito justo a minha forma de pensar, de estar e de sentir. O “procura-se” já vêm nesse caminho, são dois álbuns a seguir com muita estrada pelo meio, com muitos músicos. É natural que vamos apurando à nossa forma de estar na vida e acho que isso se pode ouvir.
Consideram-te uma cantora nostálgica. Tu reves-te neste tipo de retrato?
SF: Eu sou assim sem dúvida nenhuma. Eu costumo dizer que sou uma fadista não praticante (risos). Eu comecei a cantar fado quando era miúda. Eu sou muito feminina a escrever e sou muito portuguesa. Escrevo muito sobre o mar e tudo isso nos leva naturalmente a uma grande nostálgia, de encontro comigo mesma e isso também se reflecte nas letras que escrevo. Acho que isso tem a ver com a alma portuguesa.
Sobre o quê gostas de escrever nas tuas canções?
SF: Eu acho como toda a gente quando lê um livro e tem aquele despertar: que engraçado nunca tinha pensado sobre isto, é sobre esses momentos que gosto de escrever e pode acontecer numa conversa na estrada sobre qualquer coisa. É inspiração que é o que nos faz falta na vida de todos para respirarmos mais fundo todos os dias. Agora quase que estou a fazer uma definição sobre o que é a cultura ou a arte não? Que é um bem de primeira necessidade na nossa vida para andarmos com o peito mais cheio. É isso que me faz escrever. O que define os artistas? São esses momentos em que agarram o papel ou a guitarra e dizem qualquer coisa.
A música portuguesa esta de boa saúde e recomenda-se?
SF: Estamos sim, porque temos gente sobrevivente e talentosa, porque para continuar a fazer cultura neste país só gente com muita vocação e somos vocacionados para fazer arte.
E resistentes?
SF:Sim, resistentes, mas também porque não conseguimos viver sem...para a nossa saúde mental, dos nossos que nos rodeiam e lá esta é a vocação. Ninguém neste momento faz arte em Portugal por interesse.