
Maryjuh é uma das vozes femininas do reggae. É uma das referências deste estilo musical em Portugal, que se tem vindo a afirmar a solo, num mundo de cantores e compositores masculinos, com temas leves e frescos, como é o caso do seu último single, "tell me why".
Sempre cantaste em coros, porque decidiste lançar uma carreira a solo neste momento?
Maryjuh: Primeiro que tudo porque queria que fosse um projecto original. No reggae há muitas vozes femininas, embora não a solo em Portugal e então tentei, pensei que como tinha grande bagagem ao nível do reggae nacional com a carismática banda que é o Jahvai, isso deu-me uma certa experiência e também havia muita gente a dizer-me que deveria tentar embarcar um projecto pessoal. Depois comecei a pensar que tipo de estilo musical queria imprimir e pensei: eu sou amante de soul, de blues e jazz, como em Portugal não há uma rapariga afirmativamente a cantar reggae tentei por aí. E nestes quase três anos como Maryjuh o feedback foi enorme, do qual não estava à espera, com apenas dois meses após ter lançado a minha primeira música no "you tube" tive logo convites para espectáculos.
Escreves os teus próprios temas, mas é apenas as letras ou também compões?
M: Eu crio as melodias e as letras. No início ainda cheguei a fazer alguns temas com produtores jamaicanos, com vários artistas. Entretanto, quando comecei a divulgar mais o meu trabalho, comecei a trabalhar com alguns produtores musicais nacionais e fiz algumas gravações. Era uma espécie de parceira, eles cediam a parte instrumental e eu introduzia as minhas letras, comecei desde o zero e criei um grande tema com o Micky que teve um grande feedback, foi uma produção 100% nacional, o tema "stronger". Ao longo do tempo, tenho feito concertos ao vivo com o meu companheiro profissional, que é o Nagga Fire dos e vamos fazendo espectáculos por todo o país.
E há a perspectiva de um álbum?
M: Sim, embora em Portugal o meio é muito pequeno e os instrumentos financeiros são muito escassos. Vou lançar um novo tema e um videoclip. Depois vou criar um grande single e ver o que consigo em termos de apoios para me ajudar a lançar, porque como disse ao nível da produção não é fácil. Não é que não esteja disposta a faze-lo, mas levarei mais tempo. Vou preparar o meu álbum e já tenho alguns temas, falta é meios financeiros para o concluir, mas julgo que brevemente há-de sair qualquer coisa. A minha nova canção é o "tell me why". É um tema de verão, fica no ouvido e os portugueses vão gostar.
Sentes que a tua carreira ainda é pouco visível porque não existem muitas mulheres cantoras de reggae, há um certo preconceito?
M: Sim, também há esse factor. É assim, não quero que me apontem o dedo, mas ainda é difícil. De certa forma infelizmente a mensagem do reggae não é tal e qual as pessoas pensam. No mundo da música há muitas rivalidades e de certa forma ver uma mulher num caminho que só foi percorrido por homens, claro, que tem pouco apoio inclusivamente de pessoas da minha idade. Encontrei esse preconceito, mas por outro lado, tinha muita gente a apoiar-me e dar-me muita força. Isto para mim constitui um desafio, sou uma pessoa forte, o meu objectivo é manter-me fiel a mim própria e fazer o meu trabalho como tenho feito.
O que inspira os teus temas?
M: Quando era mais jovem as minhas canções eram mais dedicadas ao amor, são temas mais fáceis de escrever, digo isto da forma mais honesta. É uma idade muito bonita, embora a minha vida nunca tenha sido fácil desde que cheguei a Portugal, é dura, mas o que não nos mata torna-nos mais fortes. O "tell me why" não tem uma mensagem, é uma canção de verão, é sobre uma desilusão. As minhas canções, como o "stronger", "a right to live" e " I raise, I shine", tem temas positivos, no sentido em que tento transmitir a minha experiência, sem ser muito dramática e sem expor demasiado a minha vida pessoal. É uma forma de chegar aos outros sem discriminar ninguém. É o lema do reggae. Também já tenho 23 anos e a maturidade é outra, a vontade é outra e com a idade tudo o que aparece na minha cabeça torna-se cada vez mais claro.




