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Vai formosa e segura

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Beatriz Nunes é uma cantora versátil que desdobra a sua voz em diferentes tipos de registos musicais. Um percurso que vem construindo de forma equilibrada e cujo futuro se prevê risonho, tendo em conta que é a nova vocalista, por mérito próprio, de uma das bandas mais emblemáticas do cenário musical português, os Madredeus.

O teu registo musical é erudito, no entanto, moveste por outros tipos de sonoridade, como o jazz.
Beatriz Nunes: Sou uma alma inquieta, tenho muitos gostos e muito diferentes. Comecei por estudar música clássica e canto e cheguei a um certo ponto que senti que não chegava e fui procurar o jazz que era algo diferente, mas nunca parei com a vertente erudita. Continuei em simultâneo e isso teve ramificações para a música ligeira e para o "world music". É verdade que tenho gostos muito diversos.


O que o jazz te trouxe que a música erudita não tinha em termos vocais?
BN: Essa pergunta é muito pertinente, em termos académicos senti que a música clássica ou a aprendizagem que estava a fazer naquele momento era uma pedagogia e metodologia russa muito conservadora, embora tivesse uma professora muito boa. O jazz tem outra liberdade que eu precisava e que me ajudou com a música clássica. No fundo interligaram-se, o rigor do erudito com a liberdade do jazz.


Fala-me então do projecto "mau sangue", que é uma outra vertente musical completamente diferente. Porquê aquele projecto?
BN: Eu gosto muito de desafios. O projeto "mau sangue" foi liderado por uma pessoa de quem gosto muito, um grande amigo meu, a quem reconheço também um talento enorme, o poeta Nuno Moura. Ele já editou livros e ganhou há alguns anos um prémio revelação. Na altura desafiou-me, vai fazer três anos, para um trabalho diferente, mais underground, com uma sonoridade quase conceptual. A música vai ao encontro da palavra, mais do que o contrário. E foi muito engraçado quase vestir uma personagem para levar a cabo o projecto que foi apresentado ao vivo, em que vesti mesmo uma peruca loura. Gostei muito disso, porque tenho algo de actriz também em mim.


Sim, mas a tua prestação não foi apenas vocal também participastes em termos melódicos.
BN: Sim, há duas músicas em que participei, uma delas fi-la quando era muito pequenina a partir de um dos poemas do Nuno. Quando tinha nove anos gostava de agarrar em livros e fazer música a partir dos poemas e fi-lo para o "parabéns Amália". Sempre fiquei com essa música, gravei-a e mais tarde o Nuno disse-me para usa-la já com arranjos. É um projecto muito pessoal.

 

Abordemos o teu novo desafio musical como vocalista dos Madredeus, em Essência, o novo álbum cujos temas foram retirados do antigo repertório do grupo, sei que para este álbum tentastes não ouvir os temas cantados pela Teresa Salgueiro.
BN: Sim, é verdade, inicialmente estive tentada para ouvir, mas rapidamente percebi que era um risco muito grande. As interpretações são tão fortes e fantásticas, muitas delas já conhecia, e eu percebi que se continuasse por esse caminho iria ficar influenciada. Eu tinha de olhar para estas partituras como se fossem peças clássicas. Então, tive a sorte de só olhar para o texto escrito musical e fazer a minha interpretação. É uma pauta em cru e eu tirei daquelas notas a minha interpretação, claro, que com muita ajuda do Pedro Aires.

 


E o que sentiste no teu primeiro concerto como vocalista dos Madredeus, porque havia uma grande responsabilidade.
BN: Lembro-me perfeitamente dia 14 de Abril de 2012, nas Caldas da Rainha, nunca me hei-de esquecer estava nervosíssima, estava com um bocadinho de medo, claro, porque é sempre uma grande responsabilidade. Tive medo da comparação, ou que as pessoas não aceitassem, mas, aceitaram muito bem e foram tão carinhosas na recepção do projecto que a partir daí fiquei mais descontraída e acho que foi fantástico esse primeiro concerto.


Como tem sido a tournée não só em Portugal, mas também no estrangeiro? O que a Essência traz de diferente do resto do repertório dos Madredeus?
BN: A "Essência" traz um novo ensemble de cordas da qual faz parte o Luís Clode e portanto, essa sonoridade é mais erudita e intimista e a minha voz, a minha interpretação, que também trará algo de novo e com estas novas variáveis fazemos um reencontro com o repertório mais antigo, na verdade o mote era os 25 anos dos Madredeus. Começou em 2012 e o Pedro e o Carlos quiseram escolher um conjunto de canções de todo o percurso e daí o nome essência.


Então qual é o teu próximo passo em termos musicais e de carreira?
BN: Neste momento quero mesmo terminar o meu curso, que desde que estou com os Madredeus ficou parado, bem não de todo. Mas, pretendo conclui-lo, o curso de canto jazz na Escola Superior de Música de Lisboa e talvez queira aperfeiçoar a técnica clássica, agora lá esta, regressar com outra maturidade. Tenho também um quarteto com o Jorge Moniz, o Luís Barrigas e o Mário Franco, toco na "Big Band" do Barreiro e estou em várias formações em jazz. O meu grande sonho seria lançar um projecto com músicas minhas, as minhas ideias.


E os Madredeus?
BN: Os Madredeus estão ainda na estrada, vamos este mês para o Brasil e até o final do ano temos mais datas marcadas em outros países. Vamos ver o que se segue há ideias de fazer outras coisas, novas músicas para um novo CD e estamos a trabalhar nesse sentido.


Como é que chegaste a banda?
BN: Foi da forma mais inesperada. Soube que estavam a fazer audições através de um maestro com quem trabalhava na altura num coro, que me disse que achava que eu era indicada. Eu jamais pensei que ia conseguir, mas foi tentar a minha sorte, havia muita gente e é uma questão de sorte e tenho muito que agradecer.

 

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