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Wonder wheel

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É o novo trabalho discográfico do músico de jazz André Fernandes. É um álbum diferente, porque pela primeira vez tem canções, não é apenas, um disco instrumental, é uma viagem pelo seu universo musical muito pessoal.

Fala-me deste teu novo trabalho musical "wonder wheel" em que se distância, ou que traz de novo em relação ao teu álbum anterior, "motor"?
André Fernandes: Este é um disco muito diferente de "motor". Creio que retoma uma banda com quem trabalhei no álbum anterior, o "cubo", com o Mário Laginha, o Nelson Cascais e o Alexandre Frazão, mas acrescenta a voz, que não tive em trabalhos musicais anteriores, ou seja, não é inteiramente instrumental. Possui também temas num formato mais tradicional de canção, com letra, que é algo que nunca fiz. É um disco, na verdade, muito diferente dos seis anteriores que gravei até agora.

É um disco muito heterogêneo mesmo em termos de banda, por um lado, tens músicos com uma larga carreira como é o caso do Mário Laginha e por outro, há pessoas com pouca experiência profissional. É acidental, ou querias esse tipo de mistura?
AF: Não penso muito em termos de currículo dos músicos ao escolhe-los. Portanto, o grupo de instrumentistas são veteranos, tanto o Alexandre, como o Damien e o Mário obviamente. A Inês Sousa é uma pessoa mais desconhecida do público, mais nova, que conheci na Escola Superior de Música e sempre gostei muito de a ouvir. Conhecia-a, através de muitos projectos em que estava envolvida em outras áreas. Convidei-a para um grupo de rock que tenho que são os "spill", conhecia muito bem as características da sua voz e sei que se adequada, até pelo seu background musical, a este repertório e foi uma escolha natural.

Qual foi o fio condutor para este disco em relação as melodias e as letras? Porquê definiste este conjunto de canções?
AF: Foi como nos outros discos. Eu escrevo música regularmente, faz parte da minha rotina e desde há dois anos tenho vindo a escrever temas bastantes diferentes daquilo que eu costumo fazer nos meus grupos de música instrumental. Alguns deles pediam claramente a presença de voz e de letra pela forma, mas eram coisas que escrevia naturalmente e não estava a pensar ter um disco assim. Foram-se acumulando e chegou a um ponto que fazia sentido, em que havia uma unidade, havia já canções que tinham essa característica de formar um todo, um álbum e eu também por outro lado, apetecia-me fazer um trabalho diferente dos restantes, apesar de serem todos diferentes uns dos outros, este é radicalmente diferente.

 

 

Porquê pela fusão?
AF: Acho que hoje em dia a música é toda fusão.

Então é pelo facto de teres letras para os temas?
AF: Não sei, o "motor" é diferente do "cubo", porque as formações são diferentes e os artistas são diferentes. Talvez o que demarca este dos restantes é o haver canções no sentido clássico do termo misturados com outras músicas que não são tradicionais nesse sentido e com a liberdade de interpretação que é natural do jazz em geral. Sendo que não é jazz, é um disco de fusão qualquer. O termo fusão é associado a algo muito específico, que se iníciou nos anos 70, que era misturar conceitos de jazz com batidas de rock e swing, mas hoje em dia acho que quando se fala de fusão, fala-se de quase tudo e o jazz tem influências actualmente da música de leste, dos americanos, mas não é um estilo, mas é uma mistura de muitas coisas.

Como se trata de um disco com temas que tem letras, sentiste alguma dificuldade nesse processo?
AF: Eu nem sequer me propus escrever as letras, eu sabia que os temas pelas melodias que tinham e pela forma como as escrevi, com a guitarra e a voz, vi que teriam de ser cantadas e muitas prestavam-se a ter uma letra. Mas, eu não escrevo letras, não tenho essa facilidade. Portanto, logo à partida isso não foi uma dificuldade para mim, tirei esse peso a mim próprio e pedi a uma grande amiga em Nova Iorque, uma rapariga japonesa que é a Akiko Pavolka com quem trabalhei ao longo dos anos, perguntei-lhe se ela gostasse das melodias, se gostaria de escrever algumas letras e ela escreveu.

E nesse processo de enviar emails e skype foi fácil esse diálogo?
AF: Sim, eu gravei demos em casa, no meu estúdio, sozinho. Gravei tudo, baixo, guitarra, bateria e cantei, fiz quase uma maquete para ela ouvir. A parte musical estava toda delineada e ela foi incrível no sentido em que pegou todas as nuances, que eu não estava à espera, nem era preciso que o tivesse feito e adaptou a letra completamente ao que tinha enviado. Encaixou-a de uma forma natural, mas eu já sabia que ela seria capaz de fazer isso, é um talento dela.

Mesmo sendo jovem tens uma carreira assinalável.
AF: Eu já foi mais jovem! Mas, sim(risos)...

Dos discos todos que gravaste, existe algum trabalho que para ti demonstra a tua essência e que te representava enquanto músico?
AF: Acho que todos eles de uma maneira ou outra representam aquilo que foi na altura que os gravei. Vejo os discos como uma fotografia do que estava a fazer naquele espaço temporal, a música que andava a tocar com os músicos com quem andava a tocar e naquele dia decidi fazer disso um disco. Ficaram os retratos daquele processo. Sinto um orgulho em todos, mas também sei que é uma evolução e maturação daquilo que faço, do meu estilo. Para mim o disco mais fora do baralho é o "motor", o último antes deste, é o que melhor faz justiça ao que faço.

Em termos do panorâma do jazz nacional, olhando para atrás, achas que houve uma evolução? O publico já vós encara de outra forma?
AF: Em termos de público, acho que sempre houve. O que esta por detrás em termos de organizações do jazz é que nem sempre suporta, ou promove esse gosto que as pessoas poderiam ter mais activo. Isso vê-se fora dos centros urbanos. O meio mudou muito nos últimos dez anos no sentido de quantidade e qualidade. A proporção de músicos mais jovens aumentou, de repente já havia cursos de música jazz e muita gente a tocar bastante bem, isso é bom e positivo e ajuda a estimular à criação artística em Portugal.
Há futuro para os músicos portugueses?
AF: Há futuro. Os músicos tem é de fazer música, porque gostam, e não porque vão ganhar dinheiro e ser famosos. O resto, obviamente, é o que desejamos que aconteça, mas não pode ser a razão para o fazer. E portanto acho que existe sempre lugar para os músicos, enquanto houver pessoas com música na cabeça que decidam pô-la cá para fora e isso faz sentido. Claro, que é um país pequeno e com tantos músicos há menos regularidade, não há tanto espaço e oportunidade de trabalho, mas isso talvez force à internacionalização dos músicos portugueses que passem a considerar que os seus palcos não são só aqui, mas no mundo.

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