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A instintiva

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Acompanhe-me mais uma vez, por este períplo em forma de imagens da fotógrafa de cena Célia do Carmo.

Desde criança tive sempre a necessidade de expressar-me. As artes chamaram-me sempre muito mais à atenção, desde os cinco anos de idade, o que eu gostava mesmo era de cinema. Nunca disse nada a ninguém porque era algo quase inatingível para uma rapariga que vivia numa ilha. A sétima arte sempre me emocionou, porque sempre necessitei de expressar os meus afectos, de mostrar esse lado mais emotivo da vida.
Aos 18 anos comecei a dizer a minha família que gostaria de ser realizadora de filmes. Olhei para mim como uma maestrina, que tinha de aprender a tocar todos os instrumentos para poder conduzir uma orquestra. Entendi que tinha de apreender todas as áreas intrínsecas ao cinema para estimular o sonho, depois que entrei em contacto com o Orson Wells que vinha do teatro.


Fui para o Porto onde ingressei na academia contemporânea de espectáculos, no curso de design de luz. Era algo que me interessava enormemente, sempre me fascinaram os ambientes criados em filme e a iluminação nesse aspecto é fundamental. Trabalhei em vários espectáculos na cidade invicta, porque havia professores que pediam à nossa ajuda para as peças das suas respectivas companhias. Os meus fim-de-semanas consistiam em sonorizar ou iluminar palcos. Terminada esta etapa de aprendizagem, a fotografia aparece logo depois. Decidi que tinha tirar um curso pelo meu amor crescente á imagem, no Instituto Português de Fotografia. Foi nesse período que encontrei a minha verdadeira vocação, que percebi que conseguia expressar-me através da imagem, em particular, no laboratório, onde tudo ganhava vida.
A minha primeira exposição sobre fotografia de cena acontece em 2002, foram as imagens da peça de teatro "Metamorfose" de Kafka, no Teatro Rivoli. Eram fotografias com movimento, possuíam um lado muito documental, mas claro, sempre com um olhar mais pessoal, muito meu. Posteriormente, os meus colegas que conheciam o meu trabalho começaram a chamar-me para fotografar as montagens dos palcos, os bastidores e as estreias dos seus espectáculos. Foi assim que tudo aconteceu...

 

Quando voltei para à Madeira, ingressei no Conservatório e fiz o curso de interpretação. Achei que era importante para perceber o que é era isso de ser actor. Sempre foi tímida, mas senti essa necessidade e notei que ganhei uma maior sensibilidade em relação ao meu corpo e às diversas formas de expressão. Em 2006, idealizei um trabalho de fotografia encenada, num espectáculo que encenei, onde interliguei tudo o que tinha aprendido, quer como actriz, quer em termos de luz, som e fotografia. Era uma peça de teatro da Sarah Kane, "4:48 psicose". Numa das partes deste espectáculo vanguardista apresentava uma série de slides, de autorretratos, chamados de "solidão". Acho que o teatro é local ideal para exprimir a mensagem, a emoção. É isso que me atrai. Depois há a luz, o actor e o movimento. O primeiro que faço é sentir. Há cenas que me emocionam até o âmago e esse é o primeiro impacto, depois existe todo um conjunto que funciona. Há uma sintonia. Noto que tudo esta ali.

 

 

 

Desde essa data, comecei a trabalhar profissionalmente para companhias de teatro e de dança na ilha. A partir de 2008 passo a ser a fotógrafa de cena do Teatro Experimental do Funchal até hoje. "Strip" é por ventura um dos trabalhos mais marcante que fiz para esta companhia, é quase a recriação do universo Almodovar, um lado teatral misturado com um certo gosto kitch. Dois anos mais tarde, torno-me membro fundadora de uma companhia de teatro profissional, o teatro Metaphora, que teve a sua estreia com a peça de teatro "Os 7 Gatinhos" de Nelson Rodrigues, onde faço de tudo um pouco, design de luz, fotógrafa e actriz/perfomer. Em retrospectiva, o meu processo criativo continua a ser instintivo. Há imagens que faço a preto e branco e outras que só podem a ser cores. Não é algo que possa identificar, ou apontar, no momento olho e decido. A fotografia para mim continua a ser muito emotiva, posteriormente penso na técnica e até sou capaz de voltar a fotografar a mesma cena, mas é sempre o instinto que comanda à minha vontade.

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