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Caminho de amor e fantasia

Escrito por  Ana Bernardo


Sede da mais antiga Universidade portuguesa. Cidade dos estudantes. Centro cultural e intelectual de Portugal. Tudo isto é Coimbra. Mas a minha Coimbra é algo bem diferente. Um misto de amor, fantasia e felicidade. Uma inesgotável caixa de surpresas.

«Está a olhar para o Mondego, menina? Pois olhe, este não é um Rio qualquer. É o Rio dos Poetas»! Palavras sábias, ditas com emoção e orgulho. Uma incontestável declaração de amor à sua terra natal.

O velho senhor olha-me com curiosidade. «É a primeira vez que visita Coimbra? Não se vai arrepender. Este lugar encerra inúmeras surpresas», replica com um sorriso rasgado.

É então que o meu fascínio por Coimbra – Cidade e suas gentes – nasce. Num Domingo solarengo, temperado com o aroma da Primavera e sabores poéticos. Embalada pela voz suave do Mondego, acompanho determinada os passos do meu pai. Uma tarefa complicada quando se tem apenas nove anos. Por caminhos históricos, subo até ao ponto mais elevado da Cidade. Aceno, com um brilho nos olhos, para o Arco de Medina, junto à Rua Ferreira Borges. Após alguns degraus, avisto a Torre de Anto, cujas janelas e medalhões renascentistas do Século XVI conquistam o meu olhar de menina. Entre labirintos de ruas e casas, descubro um aglomerado de jóias históricas. A Sé Velha. A Sé Nova. Finalmente, a Universidade. «A mais antiga de Portugal. Muitos escritores famosos estudaram em Coimbra. O Eça de Queirós, por exemplo», salienta a minha mãe.

Fascinados pela luz da sabedoria, os meus olhos fixam-se na Capela de São Miguel e no seu extraordinário orgão. Na esplendorosa Biblioteca Joanina. Na Torre, símbolo da Universidade. São  tantos os espaços mágicos para sentir e tocar.

A manhã envelhece subitamente. É tempo de espantar o cansaço. De esganar a fome com uma merecida refeição num restaurante junto ao Rio. Não me recordo do nome. Mas lembro-me bem da simplicidade das toalhas, do sorriso genuíno dos proprietários, das inúmeras flores a embelezarem o recinto. E claro, da comida servida. Um arroz de polvo divinal, verdadeiro néctar dos deuses. O paladar ainda hoje habita a minha memória.

A tarde cresce no céu. O sol atinge o seu esplendor e pinta o meu mundo de sonhos dourados. Deslumbrada pela magia da atmosfera, atravesso a Ponte de Santa Clara, rumo ao Portugal dos Pequenitos.  É neste espaço único que as minhas fantasias abraçam a realidade. Sou princesa, portuguesa, africana. Proximidade de culturas. Casamento feliz entre povos. Miniaturas fantásticas de casas e monumentos. Arquitectura e escultura geniais. Sou o riso das crianças felizes. E o sabor delicioso do meu gelado de morango, já quase inexistente.

Embriagada de felicidade, parto à conquista de outras estórias. Estórias de amores e de choro. A Quinta das Lágrimas. A Fonte dos Amores. «Ana, foi aqui que o príncipe D. Pedro – futuro Pedro I de Portugal – declarou o seu amor a D. Inês, fidalga galega que servia de dama de companhia à mulher de D. Pedro, D. Constança. Um amor totalmente proibido», relata o meu pai.

Avisto agora outra Fonte. A das Lágrimas. «Esta fonte foi baptizada pelo grande Luís de Camões. Segundo reza a história, foi neste local que D. Inês chorou ao ser assassinada». Escuto, quase sem respirar, as palavras de meu pai. Mais tarde, deixo-me fascinar pelos 18,3 hectares do majestoso jardim e pelo magnífico Palácio do Século XIX. Novas e fortes impressões ancoram na minha alma de criança. Descubro que o amor pode ser avassalador. E que a morte é inevitável. Uma outra Ana nasce.

A doce luz do fim de tarde amacia um pouco os fortes sentimentos que invadem o meu ser. Agora sim, a viagem está prestes a terminar. Penso nas palavras do velho senhor que encontrei de manhã junto ao Mondego. Esta Cidade é uma verdadeira caixinha de surpresas. É aqui que descubro o significado do amor, da morte, da fantasia. E da felicidade. Um paradoxo mágico de impressões  que viverão para sempre dentro de mim.

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