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Christiana, a utópica

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É uma zona livre que fica situada no centro da capital da Dinamarca.

Ao longo das poucas viagens que fiz encontrei todo o tipo de pessoas, de culturas, aromas, sabores e de sons que sempre me seduziram e embora ainda me falte conhecer o resto do mundo, encaro sempre com um entusiasmo redobrado essa ideia da viagem eminente, porque o que já antevi até hoje deixou em mim uma marca de fascinação, de sede de conhecimento e também uma certa perplexidade pelos melhores motivos, Christiana é um desses exemplos. Mesmo no centro da cidade de Copenhaga na Dinamarca, há um território extenso onde vivem grupos de pessoas, uma comuna, que vive em comunhão colectiva, à boa maneira hippie. Existe mesmo um portão de entrada que nos dá as boas-vindas, e onde ao mesmo tempo somos avisados (para tal basta virar-se!) de que deixámos a partir daquele ponto de pertencer à comunidade europeia. O primeiro impacto é o de uma área ajardinada numa zona urbana, onde se avista um parque infantil, um edifício que é um centro cultural, mas as aparências enganam, ao dirigirmo-nos para um espaço mais aberto, numa espécie de praça deparámos com stands que vendem todo o tipo de produtos artesanais, desde roupas, sapatos e bijuterias, também há o que poderei chamar de barracas alimentícias, onde se vende hamburgers biológicos, que de facto comi, por falta de melhor, mas de cuja higiene duvidei até a ultima dentada. O que um ser humano é capaz de fazer quando tem fome! O facto é que não adoeci. O mais curioso dessa praça ao ar livre é que a comunidade de Christiana faz deste local seu ponto de encontro para comer, beber, conversar e fumar charros. É verdade, aqui todos podem comprar e enrolar o seu “cigarro” livremente, mas esperem as drogas duras estão banidas, bem como, as armas e comportamentos violentos. A creche é comunitária e não é paga, há um supermercado onde se trocam cupões por produtos, as pessoas de fora, como eu e o resto do mundo pagámos em coroas dinamarquesas se quisermos comprar alguma coisa, mesmo assim, não arrisquei, estou convencida até hoje que se as autoridades sanitárias do meu país vissem o que vi, fechavam logo o local! Sem pestanejar! No mínimo arcaico, mas para a população local tal não constitui problema, porque o que conta aqui é o porquê deste estilo de vida, esta é sua forma de estar no mundo, uma existência pacífica, saudável e em comunhão com a natureza. A comunidade aqui intervém em todos os sentidos, se um vizinho necessita de uma ajuda para cortar lenha ou construir um anexo, ou ensinar a ler as crianças, há sempre alguém disposto a ajudar. Todos são acolhidos, ninguém é excluído, é um santuário quase para os mais desfavorecidos pela sociedade. Algumas das residências familiares é que me deixaram sem palavras, as paredes eram feitas de restos de diferentes materiais, umas pareciam mesmo barracas e cheguei a constatar uma casa cujo pilar era um barco na vertical. A criatividade destas edificações é elevada e desconcertante ao mesmo tempo, não consegui imaginar alguém a viver assim em pleno inverno.

Christiana é extensa, tem uma grande área coberta de espaços verdes e ao largo passa um curso de água, é difícil imaginar pessoas a residir desta forma em plena capital de Copenhaga, parece um aldeia, mas o facto é que conseguem, mas não isentos de polémicas. Embora, tudo aparente calma, ordem e serenidade a verdade é que alguns partidos dinamarqueses querem terminar com as regalias sociais e fiscais que os habitantes desta zona livre usufruem, nomeadamente, no que concerne o pagamento de impostos que como sabem é muito elevado neste país nórdico. Há também outro motivo, menos óbvio, mais camuflado dígamos assim, mas que também tem suscitado grandes debates na sociedade dinamarquesa, Christiana esta no coração da Copenhaga ocupando um espaço privilegiado, um alvo extremamente suculento para os tubarões do sector imobiliário. A ideia defendem alguns é deitar tudo abaixo e construir moradias para os habitantes da cidade, em vez das actuais construções improvisadas. O mais assombroso de tudo isto e polémicas à parte, a meu ver, é a abertura que um país teve, num determinado período da sua história, em permitir a existência deste espaço quase utópico. Contudo, denotei, sem julgar, uma certa hipocrisia, porque embora não façam parte oficialmente da União Europeia recebem coroas ou outras moedas que depois com certeza usam para comprar produtos, bens e serviços fora de Christiana. Outro dos atractivos turísticos que não podem de maneira nenhuma perder são as festas que se organizam nesta terra de liberdades, especialmente no verão, ao ar livre. São muito divertidas e curiosas, imaginem todos a dançar de uma forma descontraída e relaxada, é uma miscelânea de estilos tão estranha que resulta, pessoas marcadamente urbanas, perfumadas, vestidas com marcas lado a lado com hippies de roupas coloridas e artesanais, bem é mais uma prova que a música congrega as pessoas, como diz o refrão de uma das canções de Madonna. Antes de terminar, Christiana despede-se num outro portão, o da saída e aí de frente indica-nos sem pejo que estamos a retornar ao espaço da comunidade europeia. Até uma próxima visita.

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